quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Ciência

 

Epistéme é a palavra do grego moderno para ciência.

No extinto latim dizia-se scientia, que significa conhecimento, seja ele teórico ou prático, mas ainda com ligações a outros termos como “consciência”.

Basicamente, compreende-se que a ciência objetiva, principalmente, descrever e explicar os fenômenos do mundo natural, e a partir daí encontrar aplicações em diversos setores da vida humana.

Muito já se descobriu, mas existe ainda, a meu ver, mais coisas ainda por se desvendar. No campo da Medicina, por exemplo, vivenciei esses dias uma experiência, ao vivo e em cores, que muito me impressionou, pois ainda não tinha tido a oportunidade de observar um feto em gestação com tantas detalhes, apesar de este já ser um procedimento comum na área médica.

(Minha mãe, por exemplo, teve filhos gêmeos, nos anos 60, mas só soube que eram dois na hora do parto, quando o médico, após o nascimento do primeiro bebê, disse para ela esperar um pouco que iria buscar a outra criança. Surpresa total).

Trata-se da ultrassonografia morfológica, que foi feita na minha caçula, em sua primeira gravidez. As imagens num monitor de alta definição são de encher os olhos, pois é possível avaliar detalhadamente, na fase da gestação em que ela se encontra, o Sistema Nervoso Central, ossos dos dedos das mãos e pés, coração (com o som dos batimentos) e outros órgãos internos, bem como a visualização do osso nasal e mensuração da prega nucal.

No caso concreto, com a graça de Deus, nenhum problema foi detectado. A placenta está certinha em seu lugar e inexiste má formação. O incrível, porém, é visualizar aquela criaturinha em desenvolvimento no aconchego do líquido amniótico, invadida em sua privacidade, mas nem um pouco preocupada (ou será que ela sente as ondas sonoras em alta frequência que são emitidas?).

Enfim, que uso maravilhoso da ciência divina que homens e mulheres inspirados trazem para benefício da humanidade. Pena que ainda existem aqueles que querem fazer desse conhecimento um meio de dominação. Como diria o compositor Gordurinha, em Uma prece para um homem sem Deus, música imortalizada na voz de Ary Lobo: “A ganância na Terra entre os homens/Gerando conflitos/E a ciência a serviço do mal e da destruição”.

Mas tudo será resolvido quando todos chegarem à compreensão de que somos um só, filhos do mesmo Pai, independentemente de cor, nacionalidade e/ou crença ideológica/religiosa. Quando, não sei. É um sonho, mas o que seria da existência se não fosse a esperança em dias melhores?!

Vamos em frente.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Me(ssi)recido

 


        E acabou a edição 2022 da Copa do Mundo de Futebol.

 

        Num jogo épico em que a Argentina parecia, em um primeiro momento, que iria aplicar uma goleada histórica na França, Lionel Messi e companhia sofreram mas chegaram lá.

 

        O veterano atacante de 35 anos de idade, em seu quinto, e provavelmente último, Mundial comandou as equipe, muito bem assessorado pelo emotivo Ángel Di Maria, que fez um partidaço, enquanto teve condições físicas de permanecer em campo.

 

        Do lado francês, Kylian Mbappé deu a impressão de que iria ofuscar los hermanos, ao conseguir levar o jogo para a prorrogação e ainda às cobranças de pênaltis. Contudo não era o dia dele, como não foi, anteriormente, de Neymar, Cristiano Ronaldo, Kane, Modric e Lewandowski, só para citar alguns renomados futebolistas que estiveram no Catar.

 

        Nada para o jovem atacante (23 anos) se preocupar, pois já tem um título de campeão do mundo (o de Messi foi o primeiro, após cinco tentativas), conquistado em 2018, e deverá ainda ter a oportunidade de participar de mais uns três Mundiais pelo menos.

 

        Enfim, manteve-se a hegemonia de europeus e sul-americanos, únicos até aqui que chegaram ao topo do pódio nesse tipo de competição. Vale a festa dos nossos vizinhos, enquanto em Pindorama lançamos nossos olhares para as tradicionais festas de final de ano e a esperança de dias melhores.

 

        Afinal, como diriam os antigos romanos, não basta só o circo. É preciso ter pão também. A emoção do esporte, e todo o aspecto lúdico envolvido, no final do mês não paga as contas de ninguém, a não ser a dos próprios envolvidos e aqueles  ditos craques que recebem salários absurdamente milionários para encantar multidões.

 

        Os pobres mortais precisam batalhar para ter alguma coisa a mais na geladeira que não seja só uma garrafa de água. Mas, aqui para nós, discretamente, dá uma adrenalina danada assistir um jogo decisivo e disputado igual foi Argentina x França.

 

        Daqui a 4 anos tem mais.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Falhou

 


        Minhas previsões futebolísticas ao longo da atual Copa do Mundo de Futebol foram todas por água abaixo. Apostei no Japão, na Bélgica, em Senegal e até na Arábia Saudita (concomitantemente com o Brasil, claro), mas nenhuma desses selecionados foi muito longe. Parece que não tenho muito futuro como comentarista esportivo.

 

        As últimas fichas estavam nos “Leões do Atlas”, nome pelo qual a seleção de Marrocos é conhecida, mas os franceses, sem dó e nem piedade, venceram o jogo semifinal por 2 a 0 e vão decidir, pela segunda vez seguida (foram finalistas e campeões em 2018), o título da competição contra a Argentina, que nem tomou conhecimento da Croácia, na partida anterior, aplicando um sonoro 3 a 0.

 

        Os marroquinos deram até a impressão de que poderiam surpreender os franceses, mas tomaram um gol logo no início do primeiro tempo e passaram o restante da partida martelando sem muita objetividade. A bola ia de pé em pé, mas ninguém chutava contra o goleiro adversário. E após algumas chances perdidas, prevaleceu mais uma famosa máxima do esporte: “quem não faz, leva”. Não deu outra: no finalzinho do segundo tempo, Muani, que tinha acabado de entrar, fez o gol decisivo.

 

        As zebras inicialmente anunciadas no Qatar não conseguiram ir além da semifinal. O título, mais uma vez, ficará entre uma seleção europeia e uma sul-americana, aliás, até agora, os dois únicos continentes de origem dos oito países que já foram campeões. Possa ser que em 2026 esse prenúncio de possibilidade se torne mais consistente, e um país africano ou asiático tenha condição de chegar ao lugar mais alto do pódio.

 

        E agora? Alguma preferência para domingo? Não sei vocês, mas vou torcer para nossos hermanos. Acho que Lionel Messi merece um título de campeão mundial. La Pulga tem jogado muito (o que não é nenhuma novidade), e como não dá para ele erguer a taça sozinho, vamos ter que aturar o tri da Argentina.

 

        Que os deuses do futebol se manifestem.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Acabou

 

        E a seleção brasileira de futebol não aguentou os “ics”.

 

        Modric, Kovacic, Perisic, Kramaric e, principalmente, Livakovic, o paredão croata que fechou o gol, se trancaram na defesa, cozinharam o jogo e foram para a segunda prorrogação nesta Copa (sem contar as três vezes da edição de 2018, na Rússia), chegando à disputa de pênaltis como se fosse a coisa mais normal do mundo, alcançando mais uma semifinal.

 

        Mesmo com o placar adverso desde o final do primeiro tempo da prorrogação, a Croácia mostrou mais disciplina tática, com destaque na parte defensiva, e uma paciência de Jó para se fazer de morta até alcançar o empate. Colocar o inexperiente Rodrygo para cobrar a primeira penalidade máxima foi uma temeridade, e deu no que deu.

 

        Mas, como dizia o ex-técnico Dino Sani, na época em que comandava o colorado gaúcho, “futebol se ganha, se perde ou se empata”. Agora, o selecionado nacional iguala o jejum de títulos do período de 1970 até a conquista de 1994, considerando que a última taça, até aqui, foi levantada em 2002 e a próxima Copa do Mundo será em 2026, ou seja, 24 anos de seca.

 

        Me parece que não haverá nenhuma comoção tropical por conta deste resultado adverso. Afinal, tirando alguns exemplos mais recentes, o brasileiro, de um modo em geral, parece que já está se acostumando com ganhar ou perder, que, por óbvio, faz parte do jogo. E mais do que isso, é uma condição inerente à própria vida, tão cheia de altos e baixos.

 

        Muito se falará nos próximos dias sobre as opções do Tite (“não levou Firmino”, “cadê o Gabigol?”, “para que tanto atacantes?”). Entretanto, cabia a ele escolher, e assim o fez. Ainda bem que tudo passará, e na 22ª edição da Copa do Mundo de Futebol, em 2026, cujas sedes serão divididas entre Canadá, Estados Unidos e México, caso o Brasil consiga passar pelas eliminatórias, a esperança estará renovada na busca do inédito hexa.

 

        Enquanto isso, quem ganhará no Catar? Espero que seja uma seleção que ainda não tenha sido campeã nenhuma vez (tipo a própria Croácia ou Marrocos) que se juntará, assim, aos outros oito países (Uruguai, Itália, Alemanha, Brasil, Inglaterra, Argentina, França e Espanha) cujos capitães já levantaram o caneco, em alguns casos mais de uma vez.

 

        Esperemos, pois, a final no dia 18 de dezembro de 2022.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Avançou

 


        Descrito como “filósofo do futebol”, Antônio Franco de Oliveira, mais conhecido por Neném Prancha, foi roupeiro, massagista, olheiro e treinador do Botafogo carioca, seu clube do coração. Morreu em 1976, aos 69 anos de idade, vítima de um infarto do miocárdio.

 

        Autor de inúmeras frases com definições do seu entendimento sobre o dito esporte bretão, uma das mais conhecidas é a seguinte: “Quem pede tem preferência, quem se desloca recebe”.

 

        (Dizem que foi o jornalista e ex-técnico João Saldanha quem inventou a maioria dos bordões atribuídos a ele, mas, parafraseando Nelson Rodrigues, “se os fatos provam o contrário, pior para os fatos”).

 

        Nessa tarde de segunda-feira, a seleção brasileira parece ter incorporado os ensinamentos desse personagem dos gramados cariocas, pois o primeiro tempo contra a Coréia do Sul foi basicamente isso: deslocamentos e passes de primeira para o atleta melhor posicionado. Em trinta minutos, 4 a 0 no placar.

 

        O segundo tempo transcorreu em banho-maria. Os asiáticos tiveram a sorte de acertar um bonito chute de fora da área e fizeram um golzinho. Assim, o escrete canarinho segue adiante na Copa do Mundo do Qatar, e vai enfrentar a Croácia, “campeã” em vencer disputas por pênaltis desde o torneio da Rússia, em 2018.

 

        Sexta-feira, portanto, uma vitória leva à semifinal. Cresce a expectativa de ver o Brasil em campo dia 18 de dezembro no Estádio Nacional de Lusail, localizado em Doha, onde será definida a seleção campeã da atual edição da competição organizada pela Fifa. Lembrando, porém, que ao passar pelos croatas, Neymar Jr. e companhia terão pela frente Argentina ou Holanda.

 

        Basta que Tite leia o livro Assim falou Neném Prancha, escrito por Pedro Zamora, pseudônimo do brigadeiro Jocelyn Barreto Brasil Lima, e instrua seu pupilos que “bola tem que ser rasteira, porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama”, lembrando ainda que “jogador tem que ir na bola com a mesma disposição de quem vai num prato de comida”.

 

        Simples assim.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Vacilou

 


        Eis que o Tite me ouviu (ou quase) e escalou, na partida contra Camarões, quase todos os jogadores que havia marcado na minha prancheta, conforme consta na crônica anterior. Deu mancada ao não colocar o Éverton Ribeiro e o Pedro desde o início do jogo, pois, assim, ambos poderiam ter tido mais oportunidades e, quem sabe, evitar o pequeno vexame brasileiro na Copa do Mundo de Futebol.

 

        Mas, a sabedoria popular diz que águas passadas não movem moinhos. Portanto, o jeito é esquecer e enfrentar a Coréia do Sul na próxima segunda-feira como se nada tivesse acontecido Qatar está surpreendendo e, pela primeira vez, todos os continentes estão representados na fase eliminatória do certame. O Planeta Bola está avançando. Países sem muita, ou nenhuma, tradição estão dando o que falar.

 

        A temida Alemanha já voltou para casa, pela segunda vez consecutiva. Espanha e Argentina também sofreram tropeços. A Holanda (oficialmente, Países Baixos), enquanto escrevo, derrotou os Estados Unidos e segue com chances de conquistar o primeiro título mundial desde quando a famosa Laranja Mecânica encantou o mundo do futebol em 1974.

 

        Queimei o dedo ao apostar na Bélgica, que também não obteve classificação. Revendo meus cálculos, ouso prever a final entre uma seleção asiática (Japão?) e uma africana (Senegal?), mas as bolsas de apostas tradicionais jogam fichas em escretes mais tradicionais, inclusive a Inglaterra, com a melhor campanha entre todos os grupos.

 

        Enfim, a hora da verdade chegou. Agora, é vencer ou vencer. O hexa talvez não seja desta vez ainda. Os samurais azuis, como são conhecidos os jogadores nipônicos, ao venceram Alemanha e Espanha, deram, pelo menos, uma demonstração de muita força de vontade, o que pode significar algo, inclusive nada. Se não passarem pela Croácia, tudo terá sido em vão.

 

        O Brasil, entre contusões e vaidades desnecessárias, tornou-se uma incógnita. Impossível saber o que poderá acontecer, já que a Coréia do Sul também sonha com um protagonismo inédito em competições internacionais do esporte mais popular do mundo.

 

        Que vença o melhor.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Continuou

 


        O cara tem nome de craque, modéstia à parte, e seria meu xará se não fosse pelo ípsilon no meio (Rodrygo). Tinha que ter entrado desde o início do jogo. Ainda bem que o sr. Adenor Leonardo Bachi, o popular Tite, não insistiu com aquele esquema com Fred e Paquetá e mudou tudo no intervalo.

 

        O meia do Real Madri foi o melhor em campo, a meu ver, junto com o Vini Jr., e precisa ser titular desde o primeiro minuto na próxima partida, sexta-feira, contra Camarões, que, para o Brasil, só serve para cumprir tabela, uma vez que a classificação à próxima fase está garantida.

 

        O torcedor brasileiro, dizem, é mais técnico do que o próprio profissional responsável pela escalação de uma seleção ou mesmo de um clube. Então, usando dessa nossa característica nacional, digo: vamos aproveitar o jogo final do grupo G e dar chance ao Éverton Ribeiro e ao Pedro.

 

        O escrete pode ser escalado assim: Ederson, Alex Sandro, Militão, Bremer, Alex Telles, Fabinho, Bruno Guimarães, Éverton Ribeiro, Rodrygo, Vini Jr. e Pedro. Sem medo de ser feliz. No segundo tempo, o Gabriel Martinelli merece uma chance.

 

        O Tite, obviamente, não vai mexer tanto assim na estrutura base da seleção, mas é somente uma opinião, igual a milhares de outras que devem estar circulando em todas as redes sociais. Tenho direito também a dar o meu pitaco, mesmo que não alcance o ouvido de ninguém no Westin Doha Hotel & Spa, local da luxuosa concentração no Qatar onde jogadores e comissão técnica estão hospedados.

 

        O adversário nas oitavas de final ainda não está definido, talvez seja Portugal ou Uruguai. Prefiro os lusos, para diminuir para duas (a Suíça estava nessa relação) a lista de seleções que o Brasil nunca conseguiu vencer numa Copa do Mundo, quais sejam, Hungria e Noruega, que não alcançaram classificação para o certame atual.

 

        O sufoco inicial passou, e de golzinho em golzinho o Brasil está avançando. Vamos ver no mata-mata, quando vai ser preciso mais bola para se chegar à grande final. E a ausência de Neymar? Sei não, mas acho que dá para ir levando.

 

        Sexta-feira tem mais.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Começou

 


        Dizem os especialistas que foi a melhor estreia brasileira em uma Copa do Mundo desde 1970, o que não deixa de ser motivo de esperança, pois a seleção do Tri é, para muitos, em todos os tempos, absolutamente insuperável.

 

        Enfim, estamos novamente, quatro anos depois, acomodados no sofá para mais um período de fortes emoções. Sempre gostei de futebol, mas em termos de escrete canarinho não botava muita fé já tem alguns anos.

 

        Não quer dizer que agora, por causa de uma partida apenas, esteja cantando vitória. Mas foi um bom jogo, tranquilo, com total domínio brasileiro. E feliz também pelo sucesso do conterrâneo Richarlison, autor dos dois gols da vitória sobre a Sérvia, um deles, inclusive, de bela feitura.

 

        Anteriormente, essa era uma época de muita comoção popular, com ruas enfeitadas e a população focada em acompanhar os 11 jogadores que, no dizer de Nélson Rodrigues, famoso cronista e dramaturgo pernambucano radicado no Rio de Janeiro, representavam “a Pátria em calções e chuteiras”.

 

        Os tempos mudaram, nem tudo continua como era antes, mas a bola está rolando no Catar, sob olhares críticos de parte da Europa (trabalho escravo, discriminação sexual e submissão feminina, entre outras denúncias), mas o show deve continuar e a Fifa, do alto de seu lucro de 40 bilhões de reais, faz vista grossa, e inclusive ameaça de punição as manifestações políticas de alguns atletas.

 

        Polêmicas à parte, até o dia 18 de dezembro, quando acontecerá a partida final, temos muitos jogos para assistir. E com a zebra rondando o deserto árabe é temerário fazer qualquer previsão. Alemanha e Argentina deram mole na primeira rodada, mas França e Espanha mostraram força. Será que teremos um campeão inédito em 2022, tipo Bélgica, por exemplo?

 

        Quem viver, verá.

sábado, 12 de novembro de 2022

Volta do retorno

 


        Estava eu cuidadosamente pingando uma gota de óleo essencial num pedaço de pão quando minha filha caçula perguntou o que estava fazendo.

 

        Após concluir o minucioso procedimento, expliquei que era uma recomendação da minha filha do meio para que usasse aquele produto diariamente, mas tão somente uma gota, com o objetivo de aumentar minha imunidade e vigor físico.

 

        Passados uns dias, a conversa girava em torno de velhice, cuidados e atenções especiais que os idosos necessitam. Aí foi a vez da minha primogênita avisar que quando eu estivesse sob os cuidados dela teria que obedecê-la em tudo e por tudo, sem contestações.

 

        Fiquei, então, a imaginar – e vendo, na prática, o que hoje acontece com minha mãe, aos 96 anos de idade – que a vida não passa de um ciclo, onde sempre necessitamos uns dos outros. Crianças sobrevivem, principalmente, por conta do amparo maternal; os da terceira idade, muitas vezes, dependem de filhos e/ou cuidadores para praticamente todas as necessidades. É a volta do retorno.

 

        Neste mundão de meu Deus tudo tem início e fim, nos vários ciclos naturais que se projetam ao longo dos séculos e por toda a eternidade. Não sei se um dia haverá um rompimento dessa espiral, onde chegaremos à conclusão dos tempos com a vitória do Bem sobre o Mal e a sequência de vida/morte/vida será interrompida finalmente.

 

        O compositor João Correia, em Jardim da Saudade, representou esta dicotomia muito bem: “Tudo na vida se acaba,/Tudo na vida tem fim./As flores morrem depressa,/Quem fica mais tempo é o Jardim./Podem nascer outras flores/Porém também morrerão,/No fundo tudo é tristeza/Saudade e desilusão./Representamos as flores,/O mundo é o Jardim da Saudade./Embora alguém desconheça/Esta é a grande verdade./Não adianta o orgulho,/No mundo ninguém ficará./Até o próprio Jardim/Um dia também passará”.

 

        Pois é.....E vou logo avisando: mesmo que eu me torne ancião, ou chegue até à velhice extrema (acima de 90 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde) não vou aceitar nenhuma menininha de apenas 60 e poucos anos de idade querendo mandar em mim. Cresça e apareça, ora bolas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Rotina


 

        Acordar. Abrir os olhos. Levantar.

 

        Encarar o espelho. Lavar o rosto. Necessidades fisiológicas.

 

        Cumprimentos. Café. Agenda.

 

        Sair. Voltar. Banho.

 

        Almoço. Soneca. Trabalhar.

 

        Jantar. Remédios. Leituras.

 

        Televisão. Escrever. Dormir.

 

        Quando não há surpresas (visitas dos netos, por exemplo), ou aqueles compromissos que não são diários (academia, médicos, supermercado, igreja), essa é a simples rotina de um cidadão brasileiro, idoso, com sobrepeso e ainda com planos a realizar.

 

        Ouço alguns jovens, principalmente casais, reclamando  do suposto enfado da rotina, do tédio de fazer sempre a mesma coisa, dos problemas que isso causa num relacionamento. Confesso que mesmo 20 anos atrás não sentia isso. O melhor lugar do mundo para mim é minha casa, minhas pequenas manias e meu cantinho com cada coisa em seu devido lugar.

 

        Vejam o Sol, que cumpre sua missão celestial sem atrasos ou falhas, nascendo e se pondo regularmente. Infalível. As estações do ano, que se repetem ao tempo e hora nos termos regulamentares. O movimento das marés, cuja forma incessante e contínua se torna tão previsível que se sabe a hora certa do preamar e da baixa-mar.

 

        Não sou contra aqueles que buscam sempre uma novidade, mas acho que não se deve desprezar o dia a dia comum, principalmente dos milhões de trabalhadores que cumprem jornadas exaustivas, com horas de deslocamento de casa, na ida e na volta ao final do expediente.

 

        Simplicidade não é mediocridade. Se contentar com pouco não é ter a visão pequena. Conforme diria o ainda atual escritor russo Leon Tolstói, “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. O macro e o micro interligados numa só unidade. O início e o fim num círculo infinito. A paz que a calma traz.

 

        Acordar. Viver. Dormir.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Volta por cima

 


Noite de sono inconstante. Despertar com sensação de quebradeira no corpo. Tosse seca, espirros e calafrios. Nada de febre. Mal-estar generalizado. Vontade de dormir mais, e passar o dia sem fazer nada.

 

Chá de limão adoçado com mel nas primeiras tentativas de cura. Vinte e quatro depois, com sintomas mais fortes, pedido de entrega pela farmácia mais próxima: xarope fitoterápico de Melagrião, uma cartela de Benegrip e um tubo de vitamina C efervescente.

 

Dois dias depois, com soluções caseiras ineficientes, resta procurar um médico. Hospital credenciado pelo plano de saúde, atendimento emergencial, radiografia torácica e diagnóstico: pulmão com bastante secreção. Pneumonia.

 

Resultado: dez dias de amoxicilina, antibiótico de amplo espectro indicado para tratamento de infecções bacterianas. E mais um xarope para os brônquios.

 

Três dias depois a disposição para fazer alguma coisa voltou, mesmo que não seja ainda muita coisa a ser feita. Mas a tosse seca persiste. Os músculos abdominais estão duros de tanto esforço ao tossir. Até espirrar é doloroso. Já durmo melhor, mas não muito, pois a cada duas ou três horas acordo a casa toda com o alarido da tossida.

 

Mais uma semana de medicação. Espero que ela seja realmente eficaz. Ficar doente é uma m.....Talvez, por isso, Paulo Cintura, personagem da saudosa (a original) Escolinha do Professor Raimundo dizia: “Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa”.

 

Tecnicamente, “pneumonias são provocadas pela penetração de um agente infeccioso ou irritante (bactérias, vírus, fungos e por reações alérgicas) no espaço alveolar, onde ocorre a troca gasosa. Esse local deve estar sempre muito limpo, livre de substâncias que possam impedir o contato do ar com o sangue” (Biblioteca Virtual em Saúde).

 

Porém, como dizem que nada acontece por acaso, fui tentar entender o sentido espiritual de tal patologia numa pessoa. Nada muito agradável, como era de se esperar. No quase onisciente Google, psicólogos, espíritas e estudiosos esotéricos falam que a pneumonia afeta quem guarda mágoas profundas, esteja triste ou pesaroso e com falta de coragem para continuar.

 

E de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, o pulmão é o primeiro órgão a se “levantar”, sendo responsável por levar a energia para todo o corpo e também para direcionar o sangue e, portanto, oxigênios nos órgãos. Por isso que os primeiros horários da manhã são os melhores para se meditar.

 

Bom, é certo que andei bastante desiludido com umas tantas coisas nesses tempos esquisitos em que vivemos, mas não a ponto, acredito, de querer desistir. Afinal, tenho sonhos, que não são exclusivos dos jovens, pendentes de realizações, e quero concretizá-los nesta existência, se o bom Deus me permitir. Assim, estou seguindo em frente.

 

Vou aproveitar e tomar um banho de plantas para afastar a panema, com muito alecrim, cidreira, capim santo, raiz de alface, alfavaca, cravinho, camomila, aroeira e arruda.

 

Sai para lá coisa ruim, que eu tenho quem reze por mim.

 

Saravá, meu Pai, minha Santa Nossa Senhora!

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Vida que segue...

 


                Todos os meus temores estavam infundados.

 

        Não houve briga, ou pouca briga, as seções eleitorais funcionaram regularmente, apesar das filas, e as urnas eletrônicas cumpriram sua função a contento, pelo menos não se ouviu nenhuma reclamação, que eu saiba.

 

        Os eleitos comemoram, os que, desta vez, não venceram lambem as feridas e aqueles que ainda têm um segundo turno pela frente preparam, renovam e buscam diferenciadas estratégias que garantam a vitória nessa fase decisiva.

 

        E a dita festa da democracia aconteceu. Segunda-feira amanheceu e todos voltamos ao batente, à rotina diária e aos afazeres de sempre. Os problemas continuam? É claro. Soluções à vista? Nem tanto. Mas estamos sobrevivendo.

 

        Dia 30 de outubro tudo estará resolvido. Daqui até lá em alguns estados e nacionalmente a campanha eleitoral continua. Espera-se que seja mantido um mínimo de civilidade entre os litigantes. Afinal, o debate é de ideias, e ao final de todo o processo continuaremos sendo parentes, vizinhos e morando nos mesmos lugares.

 

        Atribui-se a Winston Churchill a frase de que “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor do que ela”. Quase todos os países ocidentais usam este sistema, cuja origem é atribuída aos antigos gregos, inclusive quanto à etimologia da palavra: demos = povo; kratos = poder.

 

        Esse tipo governo em que o cidadão, através do comparecimento periódico às urnas, exerce a soberania popular elegendo os dirigentes para cargos dos poderes Legislativo e Executivo (em alguns outros países até de algumas instâncias do Judiciário), tem hora que parece um tanto complicado, com inúmeros acordos, esquemas e conchavos, onde os gatos não são tão pardos quanto parecem e o adversário de hoje pode ser o apoiador de amanhã.

 

        Mesmo assim, é o que melhor se aproxima de um efetivo governo do povo, pelo povo e para o povo – idealmente falando. Precisamos continuar praticando, sem enveredar por aventuras outras. Uma hora saberemos escolher melhor e teremos prefeitos, governadores, presidentes, deputados e senadores que façam jus à confiança recebida de nós, meros eleitores.

 

        Que venha o segundo turno.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Arrogância

 


        Estava a ouvir de uma pessoa que considero bem inteligente, e que gosta de estudar temas históricos, uma compreensão sobre o motivo que levou Jesus a ser crucificado pelos romanos, que dominavam, naquela época, a região onde hoje está instalado o Estado de Israel.

 

        Dizia o cidadão que foi simplesmente um ato de arrogância dos invasores. Como todos que querem implantar suas ideias pela força, também os romanos buscavam mostrar, com aquela atitude, quem mandava, mesmo que para isso tivessem que matar um inocente.

 

        Tudo, então, para intimidar os judeus, que continuariam submissos e manteriam os pagamento dos impostos a César, que era o que realmente interessava aos dominadores.

 

        Verdade ou não é um entendimento, passível de contra-argumentação. Porém, sendo isento do conhecimento necessário para debater o tema, me quedo silenciosamente. Mas o ponto “arrogância” chamou a minha atenção, uma vez que parece, até hoje, permear as relações entre os povos, e mesmo entre pessoas no dia a dia.

 

        O caso mais recente, no cenário mundial, é a insana guerra da Rússia contra a Ucrânia, por exemplo, em que um tiraninho qualquer se arvora no direito de invadir um país soberano para impor a sua vontade, ao custo de milhares de vidas e o silêncio cúmplice da comunidade internacional.

 

        No trato humano o noticiário diário está repleto de casos, principalmente do racismo estrutural que permeia a derme social brasileira, além do tradicional “você sabe com quem está falando?”

 

        Pequenos que somos perante a natureza divina é quase inacreditável encontrar quem se ache melhor do que os outros, e com atos e palavras pretende, na marra, fazer valer seu pensamento, como se ninguém mais tivesse discernimento suficiente para escolher seu próprio caminho. Haja paciência!

 

        Lô Borges e Milton Nascimento, em Paisagem da janela, já profetizavam: “Mensageiro natural de coisas naturais/Quando eu falava dessas cores mórbidas/Quando eu falava desses homens sórdidos/Quando eu falava desse temporal/Você não escutou”.

 

        Afinal, “...gado a gente marca/Tange e ferra, engorda e mata/Mas com gente é diferente” (Disparada – Geraldo Vandré).

 

        Vai passar.

domingo, 18 de setembro de 2022

Além da imaginação

 


       No final dos anos 50 e início da década de 60 fez muito sucesso uma série de televisão denominada The Twilight zone (no Brasil, “Além da imaginação”), criada e produzida por Rod Serling, que teve cinco temporadas e 156 episódios.        Posteriormente, já no século 21, Jordan Paele produziu uma versão atualizada daquele seriado antológico.

 

        “Além da imaginação” apresentava histórias de ficção científica, suspense, fantasia e terror, com elementos  sobrenaturais e inexplicáveis, como viagens no tempo, mundos paralelos, passeios espaciais, ETs, fantasmas, vampiros e outros bichos misteriosos e assustadores. Elas aconteciam num local conhecido por “Zona do Crepúsculo” (www.adorocinema.com/series/serie-382).

 

As coisas ditas “fantásticas” geralmente não são bem compreendidas, e até causam medo na maioria das pessoas, exatamente por este motivo: como são de difícil compreensão, muitos preferem ignorá-las, achando que não fazem sentido ou não passam de mentiras ou um tipo de invenções e lorotas populares.

 

        Entretanto, existem fatos milenares que são narrados de geração em geração e atravessam séculos até chegarem aos tempos atuais. São quase impossíveis de comprovações, mas permanecem vivos no imaginário popular, alimentando a ideia de que há coisas que estão além da nossa visão comum. Estão presentes em todos os países, e fazem muito sucesso.

 

        A mitologia grega, por exemplo, nos legou, entre outras narrações, “A Caixa de Pandora”, “Os 12 trabalhos de Hércules” e “A guerra de Tróia”, esta última apontada por estudos e pesquisas arqueológicas mais recentes como um fato verídico. É sabido que os mitos buscam explicar a origem de diversos elementos da natureza, além de ensinarem sobre o comportamento humano.

 

        Pindorama também tem divindades, muitas advindas das tribos de índios, tais como Tupã, Jaci e Guaraci. O folclore brasileiro, que aglutina elementos portugueses, africanos e indígenas, é um dos mais ricos, com seus personagens de caráter espectro: Saci Pererê, Curupira, Iara, Mula sem cabeça, Boto cor-de-rosa, etc. A cultura popular, assim, cria uma identidade nacional.

 

        Não acredito e nem desacredito. Na dúvida, é melhor não arriscar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Figurinhas

 


        Nada como uma Copa do Mundo de Futebol para mudar um pouco o foco da atenção da galera. E junto com as novidades do esporte bretão chega o álbum de figurinhas dos jogadores das seleções classificadas para o certame.

 

        Jovens e adultos procuram os 670 cromos, a um custo total de R$ 536,00, isso se o colecionador não comprar, nos 134 pacotes necessários, figurinha repetida, o que é quase impossível. O álbum propriamente dito custa 12 reais ou R$ 44,90 na versão de capa dura.

 

        De quatro em quatro anos o frenesi toma conta dos aficionados. Também, em priscas eras, fui atingido por essa vibe. Do mesmo jeito que acontece hoje (com exceção dos grupos midiáticos que negociam as figurinhas especiais) levávamos para a escola as repetidas para troca ou disputa no “bafo”. Me lembro que, em determinada ocasião, negociei um coleirinho por uma figurinha do Rivelino, uma das mais difíceis na época.

 

        Sem adentrar no mérito do aspecto estritamente comercial envolvido no assunto, é preciso reconhecer o ponto lúdico de interagir, ainda mais neste mundo virtual, com outros interessados, alguns que têm álbuns desde a primeira Copa, realizada em 1930, no Uruguai.

 

        De uma geração mais antiga, tem-se a história das Estampas Eucalol, produzidas pela empresa de mesmo nome fabricante de sabonetes, perfumes e talco. De 1930 a 1957 mais de 2.400 estampas de 54 temas diferentes (entre eles, Santos Dumont, aves brasileiras, Dom Quixote, compositores célebres, escotismo) foram distribuídas ao público.

 

        Algumas séries, como História do Brasil, fizeram tanto sucesso que eram até usadas como material didático nas escolas. Uma canção de Hélio Contreiras, que faz parte do repertório de Xangai, lembra: “Montado no meu cavalo/Libertava Prometeu/Toureava o Minotauro/Era amigo de Teseu/Viajava o mundo inteiro/Nas estampas Eucalol”.

 

        São todas essas coisas. Daqui a pouco vou passar em alguma banca de revistas para comprar mais uns pacotinhos, pois minha neta mais velha precisa completar o álbum dela, onde ainda faltam 89 figurinhas. Até novembro, início da competição, a coleção deverá estar finalizada.

 

        Ainda bem que essa febre só atinge as pessoas de 4 em 4 anos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

E o mundo não acabou...

 


        E são 200 anos de independência, desde o famoso Grito do Ipiranga, proferido pelo então Príncipe Regente às margens do riacho de mesmo nome, em São Paulo, naquele ano de 1822, mais de três séculos desde o início da colonização portuguesa em solo pátrio.

 

        Em duzentos anos se constrói muita coisa, ou nada. O Brasil continua sendo o “país do futuro”. Nos tornamos uma República, mas temos o Rei do Futebol e outros nobres tanto no esporte quando na música e em diversas outras áreas do entretenimento.

 

        Infelizmente, a campanha eleitoral serviu para tomar conta desse festejo histórico tão importante, pois (pelo menos não chegou ao meu conhecimento) não se ouviu falar de iniciativas significativas que lembrassem a data, marco inicial da construção de uma nação, com exceção, talvez, da reinauguração, na capital paulista, do Museu do Ipiranga, administrado pela USP, cuja beleza pode ser apreciada no site www.museudoipiranga.org.br.

 

        Vale registrar que a audácia de Dom Pedro I acabou custando caro ao país, pois Portugal recebeu uma indenização no valor de 2 milhões de libras esterlinas, incluindo, nesse cálculo, os 60 mil itens da Biblioteca Real que Dom João VI trouxe para o Rio de Janeiro, em 1808, quando fugiu das tropas napoleônicas. Está tudo registrado no Tratado de Paz e Aliança, assinado em 1825 entre os dois países e arquivado na Torre do Tombo, em Lisboa.

 

        Hoje, 7 de setembro de 2022, atravessamos mais um período conturbado da nossa história, e não se sabe o que o futuro reserva para Pindorama. O que poderia ser motivo de festa e união entre os brasileiros se tornou alvo de disputas insanas entre aqueles que almejam o poder pelo poder. Pelo menos, porém, o dia não teve maiores turbulências, conforme tinha sido previsto pelos arautos da desordem.

 

        Só nos resta seguir em frente, na esperança de dias melhores, onde todos, independentemente de sexo, credo e raça, se sintam acolhidos e amparados de norte a sul, de leste a oeste. Afinal, “já choramos muito/muitos se perderam no caminho/mesmo assim não custa inventar/uma nova canção/que venha nos trazer/Sol de primavera/abre as janelas do meu peito/a lição sabemos de cor/só nos resta aprender”, pois “já sonhamos juntos/semeando as canções no vento/quero ver crescer nossa voz/no que falta sonhar” (Sol de Primavera, Beto Guedes e Ronaldo Bastos).

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Aparências

 


        O uso de máscaras está caindo mais rápido do que manga madura do pé. Depois de um longo e tenebroso inverno, quase ninguém mais usa o anteparo que era moda durante os anos de auge da pandemia do novo coronavírus. Apenas nos ambientes médico-hospitalares ainda é exigida a utilização do pedaço de pano execrado por uns e exaltado por outros.

 

        Polêmicas à parte, me parece interessante observar a diferença que faz ver somente os olhos de uma pessoa ou o rosto inteiro. A moça que trabalha na padaria: imaginava, ao vê-la com máscara, que a feição dela fosse de um jeito. Para minha surpresa, ao me deparar com ela sem máscara, visualizei uma imagem totalmente diferente. E assim com outros também.

 

        É certo que a frase atribuída a Jesus (“as aparências enganam”) tem uma conotação mais espiritual do que material, mas não posso deixar de me lembrar dela quando encontro alguém que conheci usando máscara e agora o vejo de “cara limpa”. Neste sentido, ouso dizer que os olhos são os mais importantes no contexto de “ver” sem julgar os demais componentes (boca, nariz), dentro de um conceito que cada um tem de “beleza”.

 

        Um olhar por cima de uma anteface é capaz de emitir uma luz que nem sempre é percebida quando não se usa aquela proteção. Ao vislumbrarmos um semblante completo, os detalhes se perdem no conjunto, e um apêndice nasal grande pode contribuir para um conceito de “feiura”, da mesma maneira que uma cavidade bucal desproporcional, por exemplo.

 

        Mas como tudo tem seu lado positivo, acredito que o período mascarado contribuiu para que o “olho no olho” fosse uma constante. Assim, ressurgiu um modo de se comunicar que estava deixando de ser comum, pois predominavam as cabeças baixas e olhadas atravessadas. Doravante, quem sabe, o contato visual servirá para sermos mais sinceros e amorosos ao nos fixarmos no lume que todos emanamos.

 

         Daí é dito: “A luz do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!” (Sermão da Montanha, Evangelho segundo Mateus, capítulo 5).

            Foquemos, pois, positivamente, na bondade e na Luz Divina.

 

 


terça-feira, 16 de agosto de 2022

Vida a dois

 


        Hoje, 16 de agosto, minha esposa, companheira, amada, salve, salve e tudo o mais de bom, está aniversariando. Nasceu no ano de 1955, na cidade de Vitória/ES, fazendo, então, nesta data, a provecta, mas nem tanto, idade de 67 anos.

 

        Quando nos casamos, em 16 de dezembro de 1978, ela tinha 23 anos e eu 21. Mais quatro meses e comemoraremos 42 anos de uma existência em comum, com três filhas e três netos (duas meninas e um menino), até agora. Razoável, né mesmo?

 

        Entre alto e baixos, dificuldades, pelejas, discussões e momentos “o amor é lindo”, acredito, do meu ponto de vista, que o saldo é extremamente positivo. Ninguém passa impune por mais de quatro décadas morando debaixo do mesmo teto. O jeito de um e o de outro acaba se moldando numa amálgama bíblica que, se ainda não é perfeita, caminha nesta direção.

 

        Contudo, algumas coisas dizem respeito à individualidade, pois nós, seres humanos, somos diferentes e temos, digamos, nossas próprias manias, um jeito peculiar de ser. Por exemplo: conversando com amigos, dias desses, minha querida sexagenária comentou que, ao ver dela, eu falo pouco aquelas três palavrinhas que nos filmes românticos de Hollywood e adjacências são, geralmente, sussurradas à meia-luz.

 

        As demais dignas representantes do sexo feminino presentes manifestaram apoio inconteste. Acho até que o singelo comentário deve ter causado algum reboliço em lares vizinhos, pois quer me parecer que o suave reclamo da minha mulher encontrou respaldo em outros corações românticos. Quão duro é aquele importante músculo do sistema cardiovascular masculino.

 

        Peça vênia para apresentar uma pequena defesa. Sou uma pessoa prática. Acredito no fazer. A teoria, às vezes, me incomoda. Assim, entendo que atitudes outras podem, muito bem, demonstrar a existência de um sentimento profundo comprovando a união dos casais sem a necessidade de declarações romantizadas pela mídia. Carinho e respeito mútuo provam isso.

 

         Mas, para não dizerem que sou insensível e que tenho a compreensão bruta, aproveito este espaço, e atendendo conselhos de alguns, ainda, poucos, mas fiéis leitores(as), digo aqui em público, com todo o estardalhaço que a palavra escrita permite, em alguns dos mais variados idiomas existentes: EU TE AMO (português), I LOVE YOU (inglês), ICH LIEBE DICH (alemão), ANA BEHIBEK (árabe), NGO OI NEY (chinês), TE AMO (espanhol), JE T"AIME (francês), ALOHA I"A AU OE (havaiano), TI AMO (italiano), AMO-TE (português lusitano), TECHIHHILA (sioux), MENA TANDA WENA (zulu), YA TEBYA LIUBLIU (russo), KIMI O AI SHITERU (japonês) e EGO AMO TE (latim antigo).

 

        Ufa! Nem doeu, mas é suficiente por algum tempo.

 

Seja feliz, meu amor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Saber viver

 


        Tem gente que me acha uma pessoa simpática, mas acredito que seja significativa minoria em relação àqueles com quem tenho contato, principalmente quando o relacionamento social é fugaz.

 

        Aí vem um amigo, um tanto desavisado, quer me parecer, perguntar sobre a origem da palavra “cortês”, que significa demonstração de cortesia, que se expressa com gentileza, que é gentil e educado (www.dicio.com.br).

 

         Cortês, diga-se de passagem, é diferente de corte, apesar da raiz comum, cujo uso com acento circunflexo caiu em desuso após a vigência do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. A palavra corte possui vários significados, podendo ser pronunciada com a vogal aberta (ó), no caso de uma lesão, por exemplo, ou com a vogal fechada (ô), referindo-se aos integrantes de uma realeza, que estão próximos de um rei ou rainha.

 

        Voltando, então, ao tema. Segundo o site www.origemdapalavra.com.br, cortês “veio do Latim cors, originalmente “lugar cercado”, o que levou depois ao significado de “os que estão num pátio, companhia” e depois ainda “corte” – aqueles que estão nas cercanias do poder real. Esperava-se também destas pessoas que tivessem maneiras refinadas e superiores”.

 

        Esse adjetivo de dois gêneros, portanto, tem, na sua origem, ligação com corte, quando usado no sentido de se referir ao lugar onde um rei reside, assim como aos integrantes da Casa Real. Do ponto de vista religioso cristão, existe a Corte Celestial, que é conjunto dos anjos e santos que estão à volta de Deus.

 

        No livro do Apocalipse, capítulo 4, o apóstolo João relata que na Corte Celestial encontra-se um arco celeste e 24 tronos, onde se sentam anciãos ao redor de Deus, todos vestidos de branco e com coroas de ouro. O profeta Ezequiel os chama de querubins. Para alguns, compõem uma espécie de tribunal divino, pronto para aplicação da justiça quando chegar o tempo do Armagedom.

 

        Dessa maneira, a prática do respeito e da cortesia entre nós, seres humanos, é fundamental para que, na presença do Pai Superior, possamos ser julgados por atos e palavras garantidoras de crédito suficiente para que os pratos da balança pesem a nosso favor. Em caso contrário, depois que o fogo purificador tornar cinzas tudo que não presta, imaginem se não sobrar nada de bom. E aí.....já era.

 

        Então, amigo, ser cortês, e todos os outros bons praticados inerentes, nos faz merecedor de integrar a Corte Celestial. Ser cortês/educado é uma demonstração de amor ao próximo, um dos pilares essenciais para quem acredita que somos todos irmãos e a Humanidade é uma só.

 

        Dai-me, Senhor, condição de tratar melhor meus semelhantes.