Outro dia flagrei
minha mãe lendo os Classificadões de A Gazeta. Até aí, nada de
mais, mesmo para uma senhora de 93 anos de idade. O interessante é que a atenção
dela estava sendo atraída por convite para uma missa de sétimo dia de um cidadão
que havia falecido.
Não sei se foi o
caso, mas me parece crível entender que ela meio que procurava lembrar se
conhecia o de cujus, ou fazia uma analogia com a sua própria situação,
pois beirando o centenário está, por assim dizer, no lucro. Segundo um amigo
meu, quem tem acima de 50 anos passa a ter mais passado do que futuro. Minha
mãe quer ser exceção à regra pessimista acima referida.
Voltando aos
classificados. Depois fui examinar melhor e cheguei à conclusão de que a
leitura daquelas páginas pode ser bastante elucidativa. Além dos anúncios de
aluguel de casas ou apartamentos e venda de automóveis, existem outras coisas
interessantes. Por exemplo, as orações.
Todos os dias dezenas
de pessoas fazem publicar textos intitulados “Alcançar graça” ou “Prece as
almas poderosas” ou “Oração para conseguir algo difícil”, só para citar alguns.
Fico imaginando qual o objetivo disso: pagar uma promessa ou difundir junto às pessoas
algo em que se crê? Eu acredito na força de uma reza feita com fé, mas sou um tanto
cético quando à banalidade espiritual.
Outra publicação
quase exótica foi feita pelo Departamento Médico Legal de Vitória, em
obediência à Lei 8.501/92, tornando público que “encontra-se armazenado em suas
câmaras mortuárias um cadáver que deu entrada...” e segue a qualificação do
infeliz, identificado pelas impressões digitais. Ao final, pede que a família, “caso
tenha interesse”, reclame o corpo junto ao DML. Triste fim.
Destacam-se, também,
os editais de convocação para as mais diversas finalidades, pregões
eletrônicos, avisos de licitações e editais de proclamas, muitos mesmos. Não tinha
noção da quantidade de pessoas querendo se casar. Gente de todas as idades, dos
mais novinhos e novinhas, com 18 anos, até quarentões e quarentonas. Que sejam felizes.
Lamentável, porém, é
ver que os cartórios de protesto ocupam algumas páginas, inclusive do Classifácil,
de A Tribuna. São centenas de homens e mulheres, bem como empresas,
notificadas para a existência de “títulos de responsabilidade”, ou seja,
dívidas não quitadas. O povo está no sufoco.
Pois é, gente, se a
leitura dos fatos cotidianos estiver dando aquela impressão de notícia
requentada, conforme é praxe no jornalismo atual, busque o caderno de classificados.
Dá menos desgosto.