segunda-feira, 30 de março de 2020

Quarentena (3)




          Gente, chega de mandar mensagens sobre o coronavírus.

          Os grupos de WhatsApp, nesses tempos de incertezas, não tratam de outra coisa.

          São dezenas de pessoas repetindo as mesmas informações, espalhando de tudo: medidas preventivas, dados estatísticos, opiniões políticas sobre o confinamento (contra e a favor), fake news e o escambau de asa.

          Ninguém tem mais outro assunto. Tudo bem. As intenções são as melhores possíveis. Mas o bombardeio exagerado dessas comunicações acaba, a meu ver, até confundindo os mais desavisados, que ficam em dúvida quanto ao melhor procedimento: Ficar em casa ou sair? Tomar cloroquina ou não? Passar álcool gel ou lavar as mãos com água e sabão?

          Agora, tem uns comportamentos que são quase inacreditáveis. Primeiro, o preço absurdo que os aproveitadores das desgraças alheias estão cobrando por máscaras faciais, por exemplo. Nesses casos de solidariedade zero dá até vontade de apoiar a aplicação da tolerância zero. Impressionante. Outra são os enganadores, anunciando e vendendo supostos remédios de curas milagrosas.

          E os donos de supermercado também não estão fazendo por menos. Majoraram os preços dos alimentos em níveis de inflação descontrolada, o que não é mais a realidade da economia brasileira. Pelo menos, atualmente.

          Será o impossível? É muita ganância. Nesse ponto em particular que o governo deveria intervir fortemente. Estão assaltando a carteira dos trabalhadores em pleno período de empresas fechadas e desaceleração da atividade industrial, quando muita gente teve seus ganhos reduzidos ou até mesmo zerado. Cadê a Sunab? Ou seu congênere hodierno?

          Enquanto isso, um amigo que estava dando um drible na quarentena me contou que andava como se não soubesse de nada no calçadão da praia e foi abordado por bombeiros determinando que ele voltasse para casa. Antes de se retirar, presenciou os bravos soldados do fogo dando a mesma ordem a duas pessoas que estavam na areia. Isso por volta das 11 horas da manhã.

          O mais velho dos teimosos (aliás, dizem que esta é a nova nomenclatura das vagas de estacionamento para idosos), ao levantar limpando o calção, disse:

          - Eu vou mesmo. Estou aqui desde cedo. Já cansei disso.

          É para rir ou chorar?

          Podem escolher.

           

quarta-feira, 25 de março de 2020

Quarentena (2)




           Continua a batalha contra o coronavírus.

        Impressionante como numa hora dessa, enquanto o povo dá inúmeras demonstrações de solidariedade comunitária, os governantes continuam com armações e desentendimentos, tudo de olho em benefício próprios, eleições futuras e acordos espúrios.

    Beira as raias do absurdo o descontrole público entre as diversas esferas governamentais, cada uma remando para um lado, como se, assim, o barco fosse sair do lugar. A população faz o papel do marisco na briga do mar com o rochedo. Quase inacreditável.

          O desencontro de informações é tamanho que não se sabe mais em quem acreditar, principalmente quando o (mau) exemplo é daquele (cujo nome não se pode pronunciar) de quem se esperava alguma, mínima que fosse, demonstração de equilíbrio, capacidade de liderança e condições de, nesse momento difícil, unir todos em prol do benefício comum.

          Os pacotes de maldade estão sendo preparados contra os trabalhadores, ou seja, aquela parcela silenciosa que, até, aqui, vem carregando a minoria gananciosa nas costas. Não sei qual é a lógica desses doutores em querer tirar mais de quem já ganha menos, e vem, ao longo dos anos, contribuindo ao limite e sendo sugado gulosamente por esses vampiros burocráticos.

           Enquanto isso, na solidão do Planalto Central, o mandatário de plantão irradia sua desinteligência para os quatro cantos do país, e, indo contra todas as evidências científicas mundiais, pessimamente assessorado por três tristemente famosos familiares, assevera que ninguém precisa ficar com medo da “gripezinha”.

          A cara de pau é tamanha que o dito cujo se considera imune ao contágio, apesar de não ter divulgado o resultado do exame que fez. Trata-se de um caso raro de fé inabalável, daquelas que remove montanhas, ou, como se apresenta mais coerente, apenas um megalômano induzindo cidadãos desavisados a erro.

          Dezenas de abnegados lutam diuturnamente, em hospitais e postos de saúde, colocando em risco a própria vida, para, em condições técnicas e materiais nem sempre as melhores, amenizarem o sofrimento dos contaminados. E são obrigados a ouvir tamanho disparate? Imagino que, em alguns, possa até dar vontade de largar tudo e ir para casa também.

          Seria cômico, se não fosse trágico.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Quarentena




          Estou classificado no grupo de risco (idoso) para o tal do coronavírus.

          Minhas filhas me proíbem de sair de casa, meus netos não me visitam (fazem só chamada de vídeo) e eu estou vendo o mundo passar pela janela/varanda do meu apartamento.

          É uma situação inédita, acredito que para toda a minha geração, porém, conforme vem sendo exaustivamente explicado nos noticiários televisivos e nas redes sociais, absolutamente necessária. Fazer o quê?

          O danado do bichinho está espalhado por todo o planeta, e ainda sem previsão de quando vai se recolher novamente. Invisível a olho nu, toma conta dos pulmões das pessoas infectadas e faz grandes estragos respiratórios. Mais uma prova da fragilidade do ser humano perante as forças da Natureza.

          Aliás, o que pensar dessa situação?

          Aqui no Brasil a coisa ainda não está sendo levada totalmente a sério, inclusive por vocês sabem quem (aquele que não se pode declinar o nome), mas nos Estados Unidos, Ásia e Europa decisões radicais foram tomadas, em benefício da coletividade. E consequência talvez inesperadas estão aparecendo.

          Por exemplo: li uma reportagem na internet dizendo que em Veneza, na Itália (um dos lugares mais prejudicados), os famosos canais estão ficando com a água límpida e transparente, por conta da drástica redução do fluxo de embarcações e a diminuição da poluição. Não é interessante?

          Imagino que outras benesses semelhantes também ocorram. As ruas das cidades vazias, menos consumo desnecessário, mais interiorização mental, aumento do convívio familiar e crescimento da consciência individual caminhando para uma única conclusão: dependemos uns dos outros.

          Quando tudo isso passar, e espero que seja o mais rápido possível, se Deus permitir, podemos estar melhores, mais amigos e com mais amor. Legal, né?!

          Confirmação de um antigo ditado (como é grandiosa a sabedoria popular): há males que vêm para o bem.

          Enquanto isto, façamos a nossa parte e aceitemos a quarentena de bom grado, mas cuidado para não engordar, pois só comer e dormir depois não tem academia que dê jeito, já disse o profissional de educação física que cuida de mim nesse particular.

          Vamos em frente.

         

         
         

         

domingo, 15 de março de 2020

Vida de inquilino




          Morar de aluguel é tranquilo. Só é ruim quando chega a hora de renovar o contrato, ou de procurar outro lugar para morar.

          Eu nunca tinha vivenciado esta experiência até junho do ano passado.

          Quando solteiro, morava com meus pais. Depois de casado, inicialmente passei a residir no apartamento da sogra. Mais à frente, mudamos, eu e minha mulher, para uma casa de meu avô.

          Em seguida, ao nos transferirmos para Porto Velho, comprei um imóvel próprio, que temos até hoje.

          Na vinda para Guarapari, optamos por alugar um apê mobiliado. Eis que chega a hora de assinar o contrato por mais um ano ou sair fora, uma vez que o proprietário apresentou uma proposta com reajuste de 200 reais/mês.

          Nesses últimos dias, junto com minha família, já visitei umas dez casas e apartamentos, levado por inúmeros corretores, todos prometendo e garantindo mil maravilhas.

          Cada um tem suas peculiaridade e vantagens, mas todos, também, apresentam alguma restrição. Se juntássemos um pouquinho de cada teríamos a residência perfeita.

          E os proprietários? Uns querem seguro fiança. Outros, dois meses de aluguel adiantado. Alguns não aceitam tirar um sofá ou uma televisão velha. De uma maneira geral, o que se percebe, é que o locatário está numa situação de desvantagem, pois o locador adota uma posição de não ceder, tipo “pegar ou largar”, mesmo que fique meses com o imóvel desocupado.

          E a mudança? Parece que foi outro dia que vim de Rondônia, cheio de caixas, malas e pacotes. Pensar em arrumar tudo novamente (e depois arrumar na nova casa) chega a me dar calafrios. Ou preguiça. Não sei qual a necessidade humana de acumular tanta coisa.

          Acho que vou propor ir para um apart-hotel. Mais fácil, com maior comodidade e sem preocupação com cozinha, limpeza, lavagem de roupas.

          Quem sabe? Pode dar certo!

         

terça-feira, 10 de março de 2020

Mundo digital




          Eu me considero neófito nessa proliferação tecnológica de meios de comunicação: Facebook, Instagram, WhatsApp, Twitter e outros mais.

          Não faço parte de nada disso, com exceção do “zap”, pois, atualmente, é quase essencial participar de algum grupo para se ter um mínimo de contato com a família, amigos e até profissionalmente. Nada contra.

          Admiro como essas coisas funcionam, de forma quase instantânea. Uma pessoa no Afeganistão pode mandar uma mensagem para outra na Austrália, por exemplo, e a visualização é imediata. Conforme diria Richard Bach, “longe é um lugar que não existe”, apesar de saber que o escritor norte-americano não pensava nisso especificamente ao publicar seu belíssimo texto sobre sentimentos que a distância não apaga.

          Acho impressionante, ainda, a tecnologia bancária. Aplicativos em celulares permitem que a sua agência, ou qualquer outra, fique à distância de um toque dos dedos das mãos. E com confiabilidade bastante razoável. Como diz a piada: celular, hoje em dia, serve até para telefonar. E existem muitos outros modelos dessa ciência impressionante facilitando a vida do ser humano.

          Mas fiquei mesmo um tanto, como direi, ligeiramente embasbacado quando, num dia desses, vi uma artista recém chegada ao estrelato comemorando que alcançou a marca de 1 milhão de seguidores em seu perfil no Instagram. Resolvi pesquisar e, para aumentar ainda mais o meu espanto, descobri que outras e outros mais famosos(as) têm 10, 20 e até 45 milhões de seguidores.

          A Wikipédia me explica (bom, Internet virou ferramenta cotidiana para boa parte da humanidade, acredito) que “Instagram é uma rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, que permite aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais, como Facebook, Twitter, Tumblr e Flickr”.

          Gente, o que leva 45 milhões de pessoas a acompanhar, ou seja, ler e ver diuturnamente, as publicações de alguém? O Brasil tem uma população estimada em aproximadamente 210 milhões de habitantes. Quase um quinto do povo se diverte com fotos e vídeos dessa única celebridade. Quero crer que o conteúdo é educativo, contribuindo para a formação do caráter dos jovens e dando exemplos de moral e ética. Só que não.

          E nem sei se tem alguém sendo seguido por mais de 45 milhões de fãs. É possível, considerando que essas coisas acontecem também em outros países. O que advirá disso tudo? Não sei. Por certo algum pesquisador acadêmico já deve estar se debruçando sobre essa temática. Porém, digo logo: quem, em sã consciência, pode esperar coisa boa saindo dali? Ninguém.

          Mas, para não parecer que sou apenas um velho retrógrado (e não sou mesmo), digo assim: acredito que tudo isso acontece para beneficiar a civilização. São avanços naturais e necessários nessa fase de estágio evolutivo. E muita coisa ainda vem por aí, tipo, por exemplo, carros voadores e autômatos funcionais.

          Contudo, vamos maneirar nesse apego frenético de saber o que fulano ou fulana faz ou deixa de fazer. Será que só eu ainda trabalho?

quinta-feira, 5 de março de 2020

O ano começou



            Eis que o Carnaval passou. Quem pulou, pulou, quem não pulou, só no ano que vem.

            Conforme até as pedras das ruas sabem, agora, efetivamente, começa, para todos os efeitos, 2020.

            Daqui até dezembro muita água vai passar por debaixo da ponte, o que pode significar muita coisa, e até mesmo, nada.

            A ameaça do coronavírus paira no ar. Queira Deus que a doença não cause muitos estragos nesse paraíso tropical, uma vez que pior que a patologia em si, temo que será a incompetência governamental, já provada em outras situações, para cuidar da eventual epidemia.

            Quando, no Brasil, será possível construir em dez dias um hospital com mil leitos, a exemplo do que fizeram os chineses? De que maneira os brasileiros aceitariam um confinamento peremptório em casa por mais de mês? Me perdoem os extremamente otimistas, mas não vejo condições para tal desiderato. Nem à força.

            Enquanto isso, a nova política governamental vigente no país revela-se mais do mesmo. Permanecem as conversas de bastidores nos recantos brasilienses para que projetos individuais sejam contemplados em detrimento dos interesses coletivos, o que não é nenhuma novidade desde a carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou para o rei Dom Manuel I anunciando a descoberta da Ilha de Vera Cruz.

            Assusta aos mais velhos a tentativa quase explícita de coibir as liberdades individuais, como se os erros do passado servissem para amenizar as agruras do presente e garantir o futuro depois de mais de cinco séculos de desmandos. Pindorama, Pindorama, o que fizeram de ti?

            Mas, em breve começa o Brasileirão. Ao longo do ano prevê-se alguns feriados prolongados. E em outubro voltaremos às urnas para escolha dos dirigentes municipais – vereadores e prefeito. Dá para ir se divertindo até chegarmos a 2021, quando, então, as esperanças serão renovadas e promessas antigas serão reapresentadas e tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.

            Ou não. Quem viver, verá.