domingo, 31 de julho de 2022

Vento, Sol e praia

 



Se não fosse o gélido vento sul a indicar que ainda estamos vivenciando o inverno, o Sol brilhante e as praias lotadas, tanto de banhistas como de vendedores ambulantes, poderiam dar a falsa impressão de que o verão resolveu adiantar as estações do ano e atropelar a primavera para ocupar antes da hora o seu lugar.

 

No ano de 2022 as temperaturas mais baixas, pelo menos neste litoral sul capixaba, não deram as caras com força, e as férias escolares foram marcadas por uma grande movimentação de turistas, já afastado o medo pandêmico em relação à COVID-19 e pouca ou quase nenhuma preocupação com a bola da vez, a tal da varíola dos macacos.

 

Enquanto isto, no quartel de Abrantes, tudo continua como dantes. Os políticos continuam fazendo política em interesse próprio, seja qual for o espectro ideológico, as eleições se aproximam (teremos?) e os discursos permanecem os mesmos: eu sou o melhor, você é o pior, eu só falo a verdade, você é um mentiroso, vice-versa, etc. e tal. Projetos e propostas: nega de pitibiriba.

 

A vitória canarinha na Copa do Mundo de Futebol no Catar, em novembro/dezembro, causa mais preocupação do que a suposta possibilidade de um golpe antidemocrático e a implantação de uma nova ditadura no país. Fico imaginando se é porque muitos dos atuais 215 milhões de habitantes (dados projetados pelo IBGE) não sentiram na pele os percalços do regime militar extinto em 15 de março de 1985, ou seja, pessoas que, nascidas após aquela data, hoje têm entre 30 e 40 anos de idade.

 

Obviamente que o sistema educacional nacional não permite supor que esses jovens tenham um mínimo de conhecimento sobre aquele período histórico. São poucos aqueles com esta faixa etária que tenham noções gerais sobre História do Brasil. Cursei faculdade com mais de 40 anos (era o mais velho da turma) e ficava admirado, para não dizer estupefato, com o desconhecimento dos colegas, entre 18 e 25 anos, de ambos os sexos, em relação às personalidades e aos acontecimentos que forjaram este país.

 

Entendo que não sejam culpados. Não é de hoje que se relega a segundo plano a formação intelectual da nossa juventude, pelo menos num mínimo aceitável, para que se possa saber o que aconteceu antes que fez com que chegássemos até aqui.

 

Bom, voltando ao calor, banho de mar e outras coisinhas mais interessantes. Segundo o site Climatempo a semana será de tempo firme, com Sol, poucas nuvens e chuva passageira. Que bom. Quem sabe este veranico aqueça mentes e corações e possamos chegar em outubro com tudo mais claro, pacificado e num ambiente onde vencedores e vencidos estejam mais preocupados com o bem-estar comum do que com suas próprias vaidades.

 

Quem viver, verá.

sábado, 23 de julho de 2022

Motorzão 6.5

 


        Eis que o Tempo, o Grande Senhor que comanda tudo quanto há, na sua marcha inexorável, passa novamente na minha porta, encerrando um período e iniciando um novo ciclo da minha existência terrena.

 

        Sessenta e cinco anos desde aquele 23 de julho de 1957, numa tarde de inverno, quando vim ao mundo, à base de fórceps, no Hospital São José, em Vitória.

 

        Nas voltas que o mundo dá, cresci, aprontei, maltratei pessoas com a ignorância dos que acham que sabem muito e, aqui e acolá, acertei alguma coisa, cativei e fui cativado. Não sei qual o meu saldo atual perante o Universo, pois a balança da eternidade é que mostrará o meu peso e o meu valor, se é que tenho algum. Como diz um amigo meu: “Todo mundo é gente boa, tirando o que não presta”. Rezo para que na extirpação da parte deletéria ainda sobre alguma coisa.

 

        Importante, porém, a meu ver é que estou aqui, com esposa, filhas, netos e amigos. Vivendo e achando bom, enfrentando as provações inerentes à nossa condição humana na certeza de dias melhores.

 

        Agradeço a Deus por chegar até aqui, e poder ir além. Sou grato a todos com quem me deparei, os que colocaram pedras no meu caminho e os que a retiraram. Peço perdão àqueles que magoei, fiz sofrer e tratei mal. Tenho procurado ser uma pessoa melhor a cada dia, mas nem sempre consigo manter este foco. É difícil amar a prática fiel do bem, mas eu chego lá.

 

        Tanta coisa ainda por fazer, tanta coisa ainda para aprender. Nesta longa caminhada de muito mais do que mil passos ninguém sabe o dia de amanhã, mas elevo meu pensamento ao Pai Superior para que prolongue meus dias neste corpo e me permita, quando for a distante hora do desencarnamento, chegar lá com dignidade, em paz comigo mesmo e com todos e com a felicidade da certeza do dever cumprido.

 

        Enquanto isso, aguardemos os 66, 67, 68 e muito mais.

terça-feira, 19 de julho de 2022

Madrastas

 


        Ensinam os dicionários que madrasta significa “mulher em relação aos filhos anteriores da pessoa com quem passa a constituir sociedade conjugal”. É a nova esposa do pai. Muitos a usam de forma depreciativa, como se significasse, em todos os casos, uma pessoa má, pouco carinhosa, insensível e até mesmo malvada (https://duvidas.dicio.com.br).

 

        Para aquele jovem no auge dos seus 18 anos de idade e de cima de 1,85m de altura tratava-se do único problema da sua vida: a madrasta. Se não fosse ela, tudo seria perfeito. Morava numa cidade litorânea de belas praias. Estava no auge de sua força física (na academia, entre outros prodígios, levantava 120 quilos de pesos – 60 de cada lado -, mais 20 quilos da barra).

 

        Não passava necessidade nenhuma, e para as meninas da cidade era o rapaz com quem todas sonhavam, o genro que mamãe tinha pedido a Deus. Mas aquela madrasta.....

 

        A gota d’água foram os gritos e maledicências que a cruel balzaquiana lançou contra a sua irmã caçula. Era preciso tomar uma providência. Um dia em que a madrasta estava sozinha no sítio da família, pegou sua bicicleta e foi resolver aquela parada de uma vez por todas.

 

        No local, encontrou-a refastelada numa cadeira na varanda e sem nem ao menos dizer “bom dia” verbalizou toda a mágoa e insatisfação acumulada desde que seu pai tinha resolvido deixar a mãe por outra. Mas a substituta era atrevida, e começou a esbravejar também.

 

        Muitos gritos depois de ambas as partes, a discussão já estava no meio do terreiro, onde havia um latão que servia para colocar o lixo, que estava com ¼ de sua capacidade em uso. Somente produtos orgânicos, registre-se.

 

Sem encontrar um jeito de resolver a situação e já exasperado (queria apenas um pedido de desculpas), o moço, num repente que ele atribuiu, posteriormente, ao contar o acontecido à genitora (que, diga-se de passagem, riu de ficar com dor na barriga), a uma inspiração divina, pegou a indigesta mulher e jogou-a de cabeça para baixo dentro do recipiente metálico.

 

        Percebeu que o latão estava próximo à subida, após a porteira, que dava acesso à casa. Sem titubear, derrubou-o no chão e com um forte empurrão de seu pé numeração 43 fê-lo girar ladeira abaixo. Imediatamente, sentiu que uma paz profunda invadia seu ser. Montou em sua bike e pedalou tranquilamente de volta como se estivesse flutuando no ar, de tão leve que se sentia. Pensava com seus botões: “Resolvi bem a situação”.

 

        Notou, com os cantos do olhos, que o latão tinha parado numa saliência do terreno, chegando tão somente à metade da ladeira. “Nada é perfeito”, imaginou, mas aceitou, resignadamente, os desígnios de Deus. Dali em diante, a madrasta ficou uma seda e nunca mais alterou a voz com ele ou com a irmã. Não sabe nem se o pai ficou sabendo, porque não ouviu uma palavra dele sobre o assunto.

 

        Mais à frente, o genitor largou a madrasta, ficou uns tempos sozinho e voltou para a primeira esposa. Um dia, já homem formado e casado, quase 20 anos depois do acontecido, viu a mulher objeto da sua raiva juvenil num ponto de ônibus. Educadamente, parou o carro e ofereceu carona, que foi prontamente recusada.

 

Comentou, depois, que a sofrida senhora rejeitou o auxílio com um semblante entremeado de medo e preocupação. Não ficou com sequelas físicas, mas, conforme diz o ditado, quem bate esquece, quem apanha, jamais.

 

  

 

       

 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Vai passar

 

 


            Já tinha desistido de assistir noticiários tantas as mazelas retratadas nos telejornais. Acompanhei, recentemente, algumas edições locais. Sei que não adianta tapar o Sol com a peneira, mas insistir diariamente em destacar por longos minutos as desgraças alheias me parece um quadro crônico de sadomasoquismo – tanto de quem produz as matérias quanto de quem acompanha. Mas, talvez, seja apenas o retrato do ponto a que chegamos.

 

        Entre circo e pão, por milhares de anos a humanidade caminha, geração por geração, em busca de heróis, daqueles que, tal qual num conto de fadas ou num filme de final feliz, sem preocupação com a própria vida, se sacrificam em nome do bem comum. Só que não. Infelizmente, o estágio evolutivo atual dos povos mostra tão somente uma coisa: farinha pouca, meu pirão primeiro.

 

Atribui-se a um dos maiores teólogos e filósofos nos primeiros séculos do Cristianismo, Agostinho de Hipona, mais conhecido por Santo Agostinho, a seguinte frase: “Nas coisas essenciais, unidade; nas duvidosas, liberdade; mas em tudo caridade”. Há quem diga, porém, que este pensamento é de autoria de um pastor luterano do século XVII de nome Rupertus Meldenius.

 

Enfim, tanto faz. O importante, na minha modesta opinião, é o sentido literal. O que é, por exemplo, trazendo o aspecto religioso para o nosso dia a dia, mais essencial para uma nação? A meu ver, união em torno de objetivos comuns, com ações, programas e benefícios que redundem em prol do povo. Nomear determinado sistema de direita ou esquerda é mera convenção.

 

Se, efetivamente, a população for a real beneficiária do Governo, se os mandatários almejarem alcançar cargos públicos como quem busca um sacerdócio, coloque-se o nome que quiserem. Estou com 65 anos, ou seja, tem 47 anos que cumpro meu dever cívico de comparecer, periodicamente, à Seção Eleitoral para depositar meu voto (nos tempos das urnas de lona) ou digitá-lo eletronicamente.

 

E o que vejo? Apenas grupos, grupelhos e grupinhos se digladiando por vantagens pessoais. Cadê aquele que abre mão de um projeto próprio para aceitar um acordo em benefício da coletividade? O amor (caridade) passa longe da maioria dos gabinetes refrigerados de Norte a Sul daqueles que comandam, a não ser quando é do interesse oculto de manipulação, pois ninguém quer largar o osso.

 

A realidade não deixa muito esperança por dias melhores. Dezenas de anos atrás, o cantor Zé Ramalho, numa composição lançada em 1979 (Admirável gado novo), já profetizava: “Vocês que fazem parte dessa massa/Que passa dos projetos do futuro/É duro tanto ter que caminha/E dar muito mais do que receber/E ter que demonstrar sua coragem/À margem do que possa parecer/E ver que toda essa engrenagem/Já sente a ferrugem lhe comer”.

 

Meu Deus, quando deixaremos de ser tangidos tal qual um rebanho levado para o curral? Haja resiliência.

 


quinta-feira, 7 de julho de 2022

Preguicinha

 


        Não sei se é a idade, ou o clima mais ameno, ou a vontade de me aposentar. Talvez os três juntos. Pode ser até que eu esteja com vermes. Não sei. Mas ando esses dias com uma vontade danada de fazer.......nada.

 

        Durmo umas oito horas diárias, e acordo querendo sair da cama e ir para o sofá, deitar-me novamente e ficar só zapeando com o controle remoto da televisão. Os neurônios meio que travam. As sinapses parecem amortecidas. Somente depois de uma hora ou mais é que me sinto energizado o suficiente para cuidar da agenda diária.

 

        Dizem que não dá para acordar cedo e com bom humor ao mesmo tempo. Ou um ou outro. Meu caso, porém, é de uma preguiça que parece entranhada no corpo, circulando na corrente sanguínea como se fosse um nutriente (ou ausência dele).

 

        (Parênteses: tenho uma prima que diz que não existe vida inteligente antes das 13 horas. Estou quase acreditando. Fecha parênteses).

 

        Não quero me entregar para esse descuramento. Afinal, prestes a completar 65 anos de idade ainda tenho muitos objetivos na vida, e também estou bastante moço para abandonar tão cedo o plano terreno. Quero ver meus netos adultos e encaminhados na vida, até porque os dois mais novos têm uma disposição invejável e exigem muita energia da minha parte. Meu Deus, só de pensar nisso já fiquei mole.

 

         Brincadeiras à parte, vou fazer um check-up. Quero manter a mente ativa num corpo são. Espero que os médicos encontrem uma resposta que mantenha novamente a minha bateria com carga total. Ainda bem que estou prestes a entrar de férias. Dez dias de puro ócio, deitadão, sem preocupações, usando pijama diuturnamente.

 

        Eita, olha a preguiça querendo pegar novamente. Xô coisa ruim. Melhor deitar um pouco. Escrever esse texto foi um tanto estafante. Será que tem alguma série nova em algum serviço de streaming? Vou conferir. Antes que me dê vontade de trabalhar ou algo parecido. E o final de semana parece tão longe.