Não é de hoje que eu reparo nos homens que procuram
metais preciosos nas areias das praias.
Uns tempos atrás eles usavam uma
espécie de pá de ferro rudimentar, que exigia grande esforço físico para
vasculhar o fundo da água. Atualmente, a coisa está modernizada. Possuem um
detector que emite um sinal sonoro quando localiza algum objeto metálico escondido
na areia. E a pá, em forma de rede, é de alumínio, bem mais leve.
Olhando aqui na net fiquei
sabendo que essa atividade virou até um hobby denominado “detectorismo”,
com competições e tudo. E os equipamentos que descobrem ouro, ferro, prata e
cobre, entre outros, têm diversos tipos e modelos, com preços que oscilam entre
200 a até quase 6 mil reais.
Tem gosto para tudo, né!? Andar
debaixo de um sol quente, carregando o maquinário, vasculhando a areia escaldante
e até a parte mais rasa da praia quer me parecer que não é a melhor opção para
uma manhã qualquer. Enfim...
Fico imaginando se o povo que vejo por
aqui – são sempre os mesmos, uns três ou quatro – tem nisso um divertimento ou
trata-se, efetivamente, de uma atividade profissional, um ganha pão. Não deve
ser fácil juntar uma quantidade expressiva de anéis, brincos e pulseiras, por
exemplo, para garantir o leite das crianças.
A palavra trabalho
deriva do latim tripalium ou tripalus, uma ferramenta de três
pernas que imobilizava cavalos e bois para que fossem ferrados. Curiosamente
era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos,
que originou o verbo tripaliare cujo primeiro significado era
"torturar". E quem sofria tais agruras? Os escravos e os
pobres que não podiam pagar os impostos. Assim, quem “trabalhava”, naquele
tempo, eram as pessoas destituídas de posses. Isso, na Roma Antiga.
Mutatis mutandis, não tem muita
diferença nessa época hodierna, em que os mais ricos - a minoria milionária - vivem de rendimentos
auferidos com aplicações financeiras, ou seja, nada produzem, não se esforçam e
obtêm ganhos com o suor alheio. E a turma do andar de baixo continua se “torturando”
na rotina laboral de quem rala a semana toda.
Voltando, porém, ao detectorismo.
Apesar de tal prática não ser crime – afinal, achado não é roubado, em tese, ao
menos – existem alguns cuidados. Um italiano, em certa ocasião, foi detido pela
Polícia Federal porque tentava vender, pela internet, 20 quilos de moedas
históricas, que ele havia encontrado, usando um detector de metais, dentro de
uma botija enterrada na praia de Ipioca, no litoral de Maceió, nas Alagoas.
Portando, sendo mero lazer ou uma
atividade profissional, nem todo achado exime o descobridor de responsabilidade
pelo bem encontrado. Afinal, nesse vai e vem incessante das marés nada impede
que algum(a) – as mulheres também praticam – detectorista encontre um baú de
tesouro escondido por piratas de eras passadas e que, ao longo de anos,
arrastado de um lado para o outro, deu nos costados de alguma praia brasileira,
enterrado na areia.
Seria interessante de se ver.