segunda-feira, 29 de julho de 2019

A inteligência popular

Dizem que o povo aumenta, mas não inventa.

Também falam que a voz do povo é a voz de Deus.

Não sei se ambas as afirmativas são verídicas, mas me parecem interessantes para se avaliar conceitos populares, expressões do cotidiano e diálogos entreouvidos sem querer, ou às vezes nem tanto, em que pessoas comuns manifestam entendimentos sobre as coisas e, frequentemente, filosofam profundamente, mesmo que de maneira inconsciente.

Sem identificar nomes, épocas ou lugares, vou transcrever aqui alguns relatos que chegaram ao meu conhecimento que dizem respeito ao tema aqui tratado.

Por exemplo: um farmacêutico do interior foi procurado por uma mãe preocupada com o filho, que estava muito gripado. E perguntou ao boticário:

- Faz mal tomar banho com catarro?

Resposta: "Se faz não sei, mas com certeza é uma imundície muito grande".

A princípio, pode parecer que se tratava de uma pessoa ignorante, mal educada, mas que demonstrou, a meu ver, uma verve peculiar ao interpretar a pergunta de forma literal (tomar banho com catarro) e demonstrou rapidez de raciocínio, com uma pitada de humor, que talvez não tenha sido entendida pela cliente. 

Outra: determinado esculápio foi procurado por uma senhora que achava que o filho, já entrando na adolescência, estava muito magro, e pediu-lhe que receitasse para o jovem algum fortificante, com o intuito de aumentar o apetite do rapaz para que ele pudesse engordar. Isso nos anos 60, quando médico, principalmente em cidades pequenas, onde se passou o acontecido, não tinha à disposição tanto aparato tecnológico como atualmente e precisava clinicar e diagnosticar através de perguntas, exames por toques e respaldado em sua própria experiência.

Pois bem. Após verificar que o menino não tinha nenhuma deficiência ou qualquer tipo de anemia, deu seu posicionamento à mãe, que, diga-se de passagem, conforme me contaram, saiu do consultório indignada com o clínico: "Cavalo de raça não engorda. Seu filho não precisa de nada".

E aquele homem incomodado com o alcoolismo que procurou auxílio para parar de beber? Queria que lhe fosse dada uma receita de algum medicamento milagroso que fizesse com que abandonasse o vício maldito. O galeno, conhecido dele, não se fez de rogado e rapidamente preencheu o receituário dizendo ao paciente que procurasse a drogaria mais próxima. Apressado e querendo logo uma solução, nem leu o que tinha sido redigido.

Correu para o estabelecimento indicado e chegando lá apresentou o papel ao balconista, dizendo que queria comprar o remédio prescrito. Para sua surpresa, o atendente leu a suposta receita e falou que ali não havia o nome de nenhum fármaco, mas simplesmente estava escrito: "Para parar de beber, é só não tomar o primeiro gole".

E mais:

- Moço, uma informação: você sabe onde fica o cartório de registro de imóveis?
- Sei, fica na rua fulano de tal.
- Em que altura?
- Ora, na altura do chão.

Voltarei a esse assunto em uma próxima oportunidade, na medida em que a memória me permitir lembrar de outros "causos" semelhantes.

Até lá.



sexta-feira, 26 de julho de 2019

A florada do ipê


Durante as três dezenas de anos em que morei em Porto Velho, vibrante capital rondoniense à beira do rio Madeira (maior afluente da margem direita do rio Amazonas), uma coisa sempre me chamou a atenção e me encheu os olhos: a florada do ipê.

Geralmente entre os meses de junho a agosto, no período conhecido por verão amazônico (seca), o ipê, predominantemente da cor roxa, nas espécies que embelezam as ruas da cidade, apresenta lindas flores por todo o dossel das árvores, num espetáculo de renovação, pois, em seguida à floração, a Tabebuia renasce com novas folhas, de verde intenso.

Também conhecido por pau-d'arco, peúva, ipé e ipeúna, é o gênero netropical mais comum da família Bignoniaceae. Em 1978, a Lei nº 6.507 oficializou a flor do ipê como a flor nacional do Brasil. Atualmente, a maioria das espécies de ipês brasileiros está incluída no gênero Handroanthus - informações do sitio wikipédia.

Em Porto Velho, tem até um ipê que se recusou a ser usado como poste e, apesar de fincado no chão e com fiação fixada em seu tronco, enraizou novamente e voltou a florar. O jeito foi colocar um poste de concreto ao lado e deixar a natureza seguir o seu curso.

Na família existem 74 espécies reconhecidas, com flores de todas as cores, sendo as mais conhecidas as roxa, amarela e branca.  

Diz ainda o site pesquisado: "As espécies deste gênero são importantes para obtenção de madeira usada para mobília e outros usos ao ar livre. É mais densa do que a água. É cada vez mais popular como um material de deques devido a sua resistência contra insetos e sua durabilidade. Em 2007, a madeira certificada do ipê tinha se tornado prontamente disponível no mercado, embora os certificados fossem forjados ocasionalmente. O ipê é amplamente utilizado como a árvore decorativa nos trópicos em jardins, nas praças públicas e bulevares devido à sua florescência impressionante e colorida. As flores aparecem no fim do inverno, junto com o período de queda das folhas. São úteis como plantas de mel para abelhas, e são popular com determinados colibris. A casca de diversas espécies tem propriedades medicinais. A casca é seca e fervida, produzindo fazendo um chá amargo ou ácido: o chá da casca interna de ipê (T. impetiginosa). É um remédio erval usado tipicamente durante a gripe e a estação fria, facilitando, ainda, a tosse do fumante. Trabalha aparentemente como expectorante, estimulando, através da tosse, que os pulmões se livrem do muco contaminado. As flores do ipê branco e amarelo podem ser utilizadas na alimentação tanto cruas quanto cozidas/fritas. São dotadas de lenho muitíssimo resistente à putrefação. Sua madeira é muito dura e resistente: é branca, levemente rosada, uniforme, leve, macia e durável, própria para marcenaria fina". 

Como se vê, é uma árvore especial, que une rara beleza floral com múltiplas utilidades, inclusive medicinais. Sem dúvida, uma dádiva divina, das muitas que nos são ofertadas por Aquele que rege todo o universo. 

Recebi a foto abaixo do jornalista Lúcio Albuquerque, e tomo a liberdade de reproduzi-la.


terça-feira, 23 de julho de 2019

Pensamentos


Frio e chuva. Uma combinação perfeita para uma boa noite de sono, obviamente para quem está abrigado e agasalhado.

Mas pode ser motivo também para os insones, conforme é o meu caso neste momento, fazerem alguma reflexão. 

Através do vidro da janela do apartamento alugado num oitavo andar posso ouvir o constante e ritmado som das ondas do mar cobrindo a areia da praia.

Dias desses aconteceu uma ressaca, marítima, a bem dizer. Impressionante como ficou visível o aumento no volume da água e a força/estrondo entrando até o acesso do prédio à praia. A faixa de areia ficou coberta em quase toda a sua extensão.

Em pé na sala do apê, à noite ou de dia, olhar o mar de cima, vendo somente a água se fundindo com a linha do horizonte, dá a sensação de estar meio que flutuando ou voando por cima do oceano. Como se fosse outra dimensão, outro planeta, outro mundo. E atenção: eu não uso drogas.

Bom, esse lero lero inicial serve somente para chegar ao xis da questão dessas mal traçadas linhas: perante o Universo somos imensamente pequenos. Aliás, essa conclusão não é novidade, pois muitos já se debruçaram sobre o tema.

Enfim, na realidade, do meu ponto de vista, as forças da natureza são tantas e tamanhas que ainda vai demorar uns dias, meses e anos para que a humanidade tenha uma compreensão do significado do que é essa grandeza. E entender verdadeiramente a função de cada uma delas neste planeta que habitamos.

Isso se der tempo, porque o desmatamento amazônico segue impune, sem contar os outros tipos de danos ao meio ambiente. Vide, por exemplo, a tragédia do Rio Doce e a situação das barragens mineiras. E recentemente a liberação de mais de cinquenta tipos de agrotóxicos.

Porém, já que somos o animal pensante que domina a Terra, vamos acreditar que o despertar para uma nova era possa se concretizar antes que tudo se acabe. A crença em dias melhores nos move para a frente.

Que assim seja!












domingo, 21 de julho de 2019

Espetáculo garimpeiro


Pé de isopor estava com pressa, o que, para ele, era absolutamente normal. Seus colegas de garimpo tinham lhe dado o apelido a título de gozação, pois dirigia por aquelas estradas (estradas?) esburacadas, chovesse ou fizesse sol, no mesmo ritmo, de dia ou de noite, ou seja, pisando fundo no acelerador. Daí, para não usar o comum pé de chumbo, ganhou o epíteto de Pé de Isopor.

A pressa era justificada - ele sempre tinha uma explicação - porque estava levando no carro as três mulheres contratadas para a diversão do garimpo naquela noite, que prometia ser memorável. O Cine Embaúba, especializado em filmes de faroeste, kung-fu e similares (o maior sucesso foi um filme de Zé do Caixão, intitulado Esta noite encarnarei no teu cadáver), tinha anunciado a apresentação, pela primeira vez naquela currutela, de um show no qual lindas vedetes ficariam completamente nuas.

Num ambiente daqueles, onde 90% da população era predominantemente masculina, com exceção de algumas poucas trabalhadoras cozinheiras, uma novidade como aquela equivalia a um rastilho de pólvora aceso, e dinheiro em caixa na certeza - no caso, o pagamento era feito em ouro. Por isso, não devia se atrasar, pois garimpeiros revoltados poderiam agir de maneira extremamente perigosa.

Depois da última curva, reduziu a marcha e encostou o carro na parte de trás da grande lona debaixo da qual funcionava o cinema. As garotas nunca tinham estado num ambiente similar, por isso exigiram que o cachê fosse quitado antecipadamente, o que para Pé de Isopor não constituía problema. O lucro era garantido. Só tinha uma preocupação: o que poderia acontecer quando dezenas de garimpeiros vissem aquelas três jovens desnudas?

Mas ele tinha um plano. 

Na hora combinada, com os bancos de madeira que faziam às vezes de assentos totalmente ocupadas, deu início ao espetáculo, inicialmente fazendo uma pequena introdução, logo abafada pelas vaias e gritos dos espectadores, ansiosos pela atração principal. Não teve outra alternativa senão acenar para seu ajudante, que colocou para rodar um bolachão com música instrumental lenta para servir de pano de fundo ao momento tão esperado.

Ligeiramente assustadas, mas dispostas a cumprir o combinado, as strippers começaram, suavemente, conforme o padrão, para criar uma expectativa e aumentando a tensão no ar, a retirar as peças das roupas que usavam, entre sapatos altos, luvas e vestidos longos. Quando ficaram somente de calcinha e sutiã o público já estava em completa ebulição, e Pé de Isopor tomou posição para executar a sua ideia.

As três tinham sido instruídas a deixarem cair as últimas peças juntas. De costas para a turba alvoroçada, soltaram e jogaram no ar os respectivos sutiãs. Ouviu-se um urro uníssono. Em seguida, começaram a abaixar as calcinhas, mas antes que terminassem de despir o último pedaço de pano, Pé de Isopor desligou o projetor de 8 mm que estava sendo utilizado à guisa de holofote. Esperava que, assim, desse tempo para que as girls pudessem se refugiar no camarim improvisado atrás do palco.

Mas, dispostos a não perder um segundo do espetáculo, e na vontade animal de receberem por tudo aquilo que tinham pago, dezenas de garimpeiros, como se também tivessem feito um plano alternativo entre si, ligaram, de maneira quase automática, cada um a sua lanterna e jogaram o foco das lâmpadas na direção das beldades, que, sem reação, foram pegas de surpresa e não puderam esconder da plateia suas formas expostas completamente. Como que ofuscadas, ficaram momentaneamente paralisadas sob os olhares gulosos dos fãs.

Minutos depois, finalmente, se livraram daquele efeito hipnótico e, sob aplausos e gritos enlouquecidos, foram em busca de refúgio, mas sentido dentro de si uma pontinha de satisfação pelo efeito causado.

Realmente, tinha sido um show inesquecível.


sexta-feira, 19 de julho de 2019

À espera de um grande amor

Naquele beiradão amazônico as regras ditas civilizadas nem sempre eram respeitadas, ou mesmo consideradas como corretas ou necessárias.

Tinha apenas 16 anos, sonhava estudar e ser professora, mas o pai tinha outros planos. Para atender a um amigo, já com 35 anos de idade, que morava em outra cidade maior, próxima da sua, deu – e o termo é esse mesmo, foi dada de presente – a filha adolescente para que o solteirão fosse viver com ela.

Sem alternativa, seguiu viagem com o homem que seria seu “marido”. Pouco tempo depois, engravidou. Ainda menor de idade, trocou os bancos escolares pela lida doméstica e pela responsabilidade de ser mãe, quando ainda precisava da sua para lhe acalentar.

Dois anos após, ficou grávida novamente – desta vez, uma menina. A vida virou uma rotina que só não se tornou um suplício porque o homem a quem fora entregue como prova de amizade e consideração era uma pessoa boa, não lhe maltratava e supria a casa com tudo o que fosse necessário para a sobrevivência da família.

Mas faltava algo. Não eram bens materiais. Queria sentir a paixão de um grande amor, pois pelo genitor de seus filhos nutria tão somente respeito e consideração. Não o amava. Cumpria seus deveres matrimoniais burocraticamente, sonhando, quem sabe, com um príncipe encantado.

Um dia, surgiu alguém que poderia tornar realidade o desejo tanto tempo reprimido. Cresceu dentro de si a vontade de se arriscar, de se entregar a um amante, com quem, mesmo que clandestinamente, poderia vivenciar momentos de ternura e arrebatamento. Seria uma redenção? Ou uma fuga? Quem sabe um prêmio?

Nada disso. Somente uma ilusão. Nenhum dos dois teve coragem de dar o passo definitivo, aquele em relação ao qual não se tem volta, quando a sorte é lançada e atitudes tomadas sem que as consequências fossem medidas. Ficou triste, mas logo se conformou. Não havia nascido para aventuras.

Seu destino era aquele mesmo: casa, trabalho, marido e filhos. Sem reclamar, sem sonhar. Apenas o cotidiano de uma existência marcada pela simplicidade, na qual o inesperado não se faz presente. Onde tudo é previsível, numa fachada de felicidade estampada nos gestos comuns do dia a dia.

Às vezes, porém, num suspiro mais profundo, o coração acelera e imagina, por instantes, como poderia ter sido bom aquele caso fortuito e fora do padrão. Ao menos uma vez, como teria sido bom.

domingo, 14 de julho de 2019

Das barrancas do Madeira à beira-mar



Depois de quase 34 anos morando em Porto Velho/RO – cheguei lá com mulher e duas filhas no final de outubro de 1985 – estou de volta à terra natal. Não precisamente ao meu local de nascimento, Vitória, mas ao Espírito Santo, minha origem, fixando residência em Guarapari, cidade de muitas férias escolares, onde meu avô Filogônio e minha avó Valentina, pais de meu pai, tinham uma casa.

Na bagagem, além da saudade dos amigos que ficaram em Rondônia, trago experiências de vida adquiridas às margens do rio Madeira e no convívio com os “caboclos” da floresta amazônica. Agora, novamente de frente para o oceano Atlântico, é um recomeçar com aparência de continuidade, pois o cheiro de maresia não me é estranho, mas os tempos são outros e a vida do século 21 tem as suas diferenças em relação àquele longínquo ano em que me aventurei rumo norte.


Naquela ocasião, fui de carro, uma Brasília cor de vinho que possuía, passando por Belo Horizonte, Distrito Federal (onde ficamos uns dias na casa de amigos) e Cuiabá, até a chegada na capital rondoniense. Achei por bem, apesar de alguns protestos familiares, retornar também por via terrestre. Confesso que quase me arrependi, pois dirigir exatos 4.678 quilômetros foi um exercício de paciência que não imaginava tão difícil.

Atravessamos (eu e Jussara, minha mulher, porque as três filhas – a caçula nascida em PVH – já estavam residindo na Cidade Saúde) cinco estados brasileiros: Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo, por longos nove dias, considerando, entretanto, uma pausa de dois dias em Cuiabá, onde fomos recebidos por um casal amigo, e mais dois numa pousada em Pedra Azul, para um merecido, a meu ver, repouso. Afinal, ambos já somos considerados idosos. Por segurança, dirigia somente durante o dia.

Todo esse introito é apenas para situá-los, caros leitores, no tempo e no espaço, já que, agora, companheiros dessa jornada, estarei dando continuidade aqui, em solo capixaba, com a graça de Deus, à exposição de ideias, “causos” ou simplesmente falando da vida, principalmente das coisas boas que a existência nos oferece, pois as notícias ruins, mesmo que verdadeiras e necessárias, já têm campo próprio.

Até a próxima oportunidade, pois.

Selfie na praça central de Ouro Preto/MG,  após uma semana de estrada

sábado, 13 de julho de 2019

Aprendendo a viver e a morrer - II

Foto: Jussara Pacheco

Diz aquele grande filósofo, cujo nome não me lembro no momento, que depois que a pessoa nasce, com um minuto de vida já começa a envelhecer. Parece, e é, bem óbvio.

Mas os seres humanos, ao longo da existência, a partir do momento em que começam a ter alguma consciência de si mesmos, só começam a pensar na possibilidade da morte (que, conforme sabemos, é inevitável para todos) depois dos 50, 60, 70 ou mais anos de idade.

Quando jovem, a sensação de imortalidade permeia homens e mulheres. No auge do vigor físico e mental, quem quer perder tempo imaginando que um dia poderá deixar este mundo material? Ninguém, né mesmo?

Contudo, conforme dito alhures, todos já nascemos no rumo de encontrar a morte, mais cedo ou mais tarde, de preferência bem mais tarde. Por isso, parece adequado que as gerações sejam preparadas para o momento que todos querem evitar, mas do qual nenhum de nós escapará.

O desencarnamento, para quem, conforme é meu caso, acredita em reencarnação, deve ser um tema corriqueiro. Não pode se tornar uma obsessão, mas também não deve ser evitado como um assunto azarento ou de mau agouro. Necessitamos ter consciência de que a passagem para o mundo espiritual precisa acontecer como uma coisa totalmente natural.

Essa compreensão facilita a quem estiver indo aceitar o que não tem remédio, e dá conformação para quem fica, principalmente parentes e amigos, e não sofrer tanto com a dor da perda de um ente querido. Permanece a saudade, que é um sentimento bom, pois somente nos lembramos de pessoas ou lugares, até mesmos objetos, que gostamos.

Enfim, um dos aprendizados da nossa existência material a qual devemos dar bastante atenção, é nos preparar para saber morrer. Facilita, e muito, nossa passagem pela Terra, pois nos deixa leves e livres, sem o ranço do peso limitador das coisas do mundo, além de nos abrir as portas do infinito quando formos chamados.   


segunda-feira, 1 de julho de 2019

Aprendendo a viver e a morrer

Em curto espaço de dez dias neste mês de setembro estive em dois velórios, de três pessoas do meu relacionamento, uma mais íntima e outras duas menos, mas todas merecedoras deste ato de solidariedade cristã para com os familiares. Obviamente não são momentos agradáveis, mas inevitáveis para todos nós. Quando chegar a minha hora, que peço a quem de direito que não seja logo, alguém poderá estar tendo que cumprir este mesmo dever em relação à minha pessoa.

O parágrafo acima foi escrito em setembro de 2011, e nem chegou a ser publicado. Aconteceram algumas coisas. Uma delas, por exemplo, foi uma queda que levei na cozinha e quebrei o úmero. Fiquei 42 dias com uma tipóia e depois mais 60 fazendo fisioterapia. Interrompi a produção dos textos para este blog.

De lá para cá, rompi dois tendões do ombro direito, e também não pude digitar nada.

Agora, estou voltando. Quase oito anos depois. Peço a Deus que me dê coragem para manter essas postagens com regularidade. Quanto ao tema inicial, estive em outros velórios, esses mais dolorosos, porque envolveram pessoas a quem chamava de amigos de fé. Mortes súbitas, a exemplo do meu pai, em 2004, provocadas por infarto agudo do miocárdio.

A ideia original era falar um pouco sobre a efemeridade da vida terrena, quão ligeira é a nossa passagem por esse plano, apesar de, às vezes, termos a impressão de que eventuais coisas demoram tanto, como uma fila de banco ou a espera num consultório médico, por exemplo.

Mas, meus amigos (e meu pai) estavam encarnados num dia e no outro haviam se libertado do invólucro material, para tristeza dos que ficaram ainda padecendo as agruras do cotidiano, mas sem esquecer das belezas que o mundo nos proporciona, sejam os encantos da Natureza, seja o convívio com a família, colegas de trabalho e companheiros de jornada.

Enfim, a certeza é que da morte ninguém escapa, mas, como diria Luís Fernando Veríssimo, que seja a último coisa que me aconteça.