domingo, 21 de maio de 2023

Peixes

 

 

Quando não havia internet, celular, mídias sociais e coisas similares, a garotada se virava nos trinta para arrumar o que fazer, com futebol, bolinha de gude, carrinho de rolimã e outras atividades recreativas à disposição da galera. Entretanto, crianças com uma capacidade inventiva acima da média procuravam opções próprias de, digamos, “divertimento”.

 

Naquela casa eram três irmãos e uma irmã caçula, que sofria nas mãos dos mais velhos. Os meninos já acordavam cheios de ideias, que, não raras vezes, terminavam em confusão, ferimentos e muitas bordoadas. Sim, porque não tinha essa de psicologia moderna, Conselho Tutelar e controle do Estado sobre o pátrio poder ou, como se diz atualmente, poder familiar, para incluir as mulheres também.

 

Os abençoados pimpolhos aprontavam para valer, mas a zelosa mãe não tinha medo de aplicar correções que hoje em dia poderiam causar espanto e furor nos melindrosos de plantão, tais como cascudos, dolorosos puxões de orelha e tapas. E nenhum ficou traumatizado com nada. Os tempos são outros, mas as palavras de Salomão, em Provérbios, permanecem atuais: “Não hesites em disciplinar a criança; ainda que precises corrigi-la com a vara, ela não morrerá.…(Provérbios 23:13,14).

 

Aconteceu que durante uma época o passatempo daqueles gênios da traquinagem era criar peixes......roubados. Havia na casa deles um pequeno aquário com aqueles espécimes coloridos, que eles achavam meio sem graça. Próximo à residência funcionava um restaurante com um lindo lago japonês cheio de carpas. Um dia, abduziram uma delas e levaram-na para casa, mas a coitada ficou entalada no aquário, que não comportava seu tamanho. O jeito foi cozinhar a infeliz.

 

Com o tempo ganharam um tanque de mil litros, onde havia espaço para muitos peixes. Para abastecer tanta água, precisaram incrementar as aquisições sorrateiras que faziam. Descobriram outro restaurante com uma espécie de canal, que era atravessado por uma pequena ponte, onde havia peixes raros. Começaram a aproveitar os horários em que o estabelecimento não funcionava e “pescavam” à vontade. Pegavam os pequenos exemplares com as mãos, colocavam na boca e depois cuspiam em garrafas de refrigerante cortadas ao meio. Algumas vezes, engoliam, sem querer, os peixes.

 

Tudo que é bom, porém, diz o ditado popular, dura pouco. O dono do restaurante começou a desconfiar que  os peixes estavam sumindo, e resolveu dar uma incerta. Certa noite chegou de surpresa e ante o alarme de perigo dois dos pequenos gatunos fugiram em desabalada carreira, enquanto o menor ficou sem reação e foi encurralado com uma garrafa cheia de peixes. Aos gritos, o empresário mandou que ele jogasse todos eles de volta na água, o que fez com relutância, afinal seria um trabalho perdido.

 

Em seguida, foi ameaçado com voz de prisão: “Vou chamar a Polícia”.

Como medo, o pequeno pediu: “Por favor, Polícia não”.

 

Já vendo que tudo não passava de peraltice infantil, concordou, mas fez uma advertência: “”A sua mãe tem que saber. Vou contar tudo para ela”.

 

Totalmente transtornado e apavorado, o garoto, ante aquela possibilidade e já sabendo que iria dormir com o couro quente, desabou num choro descontrolado e implorou: “Não, minha mãe, não. Tudo, inclusive a Polícia, menos isso”.

 

Acabou, assim, a quase promissora carreira daqueles piscicultores do alheio.

domingo, 14 de maio de 2023

Dia das Mães

 


        E o segundo domingo do mês de maio chegou. Uma data das mais esperadas pelo comércio de um modo geral ao longo do ano, somente superada, em termos de vendas, pelo Natal.

 

Mas o Dia das Mães não é só isso.

 

        Mãe, segundo o ditado popular, só se tem uma, e já foi cantada em prosa e verso ao longo dos séculos em todos os recantos do mundo. É um amor tão incondicional que “se seu filho for ministro/ou presidente da nação/sua mãe sente prazer/deste grande cidadão/mas se for um delinquente/que tem má reputação/sua mãe lhe abraça e beija/com o mesmo coração” (Mãe é sempre mãe, Bezerra da Silva).

 

        Todo o carinho que emana do olhar de uma mãe ao filho ou filha, seja quantos forem, é para a vida toda, e sempre traz na sua origem a lembrança da Santíssima Virgem Maria, que recebeu a graça sublime e inigualável de ser mãe de Jesus, o filho de Deus.

 

        Minha mãe, com 96 anos de idade, faleceu aos 25 de março, ou seja, não tem nem dois meses ainda. Morou comigo e minha esposa, após ficar viúva, por alguns anos (5 a 7 ou 10), que não estou sabendo, no momento, precisar, mas que foram suficientes para que fortalecêssemos um vínculo mais do que filial.

 

        Gostaria de ter a capacidade dos escribas mais inspirados para homenageá-la e também às todas as mães do mundo inteiro que cumprem essa missão divina de gerar crianças, soltá-las no mundo e educá-las no caminho do bem. Como ainda não tenho essa capacidade, transcrevo abaixo um poema intitulado Poemeto dos amores que meu pai, esse sim, um escritor de verdade, fez para a amada dele no já longínquo ano de 1949.

 

        Diz assim:

 

        “Na estrada de barro vermelho

        Caiu a primeira chuva de verão...

        Ressequida, a terra sôfrega, absorveu a água.

 

        Outras chuvas vieram...

        A estrada virou um lamaçal,

        Cheia de valas, formadas pelas tempestades

        Que se seguiram à primeira chuva de verão...

 

        A estrada de barro vermelho?

        É o coração...

        E as chuvas? Você já sabe...

        São os amores!

        (Renato Pacheco, 12/01/1949)

 

        Após a assinatura no texto manuscrito com caneta tinteiro, uma dedicatória: “Tilda: este poemito é para você. Não encerra ele, porém, conselho algum”.

 

        Que Deus abençoe a todas as mães e aos seus filhos e filhas também.