Quando
não havia internet, celular, mídias sociais e coisas similares, a garotada se
virava nos trinta para arrumar o que fazer, com futebol, bolinha de gude,
carrinho de rolimã e outras atividades recreativas à disposição da galera. Entretanto,
crianças com uma capacidade inventiva acima da média procuravam opções próprias
de, digamos, “divertimento”.
Naquela
casa eram três irmãos e uma irmã caçula, que sofria nas mãos dos mais velhos. Os
meninos já acordavam cheios de ideias, que, não raras vezes, terminavam em
confusão, ferimentos e muitas bordoadas. Sim, porque não tinha essa de
psicologia moderna, Conselho Tutelar e controle do Estado sobre o pátrio poder
ou, como se diz atualmente, poder familiar, para incluir as mulheres também.
Os
abençoados pimpolhos aprontavam para valer, mas a zelosa mãe não tinha medo de
aplicar correções que hoje em dia poderiam causar espanto e furor nos melindrosos de plantão, tais como cascudos,
dolorosos puxões de orelha e tapas. E nenhum ficou traumatizado com nada. Os
tempos são outros, mas as palavras de Salomão, em Provérbios, permanecem
atuais: “Não hesites em disciplinar a criança; ainda que precises corrigi-la
com a vara, ela não morrerá.…(Provérbios 23:13,14).
Aconteceu
que durante uma época o passatempo daqueles gênios da traquinagem era criar
peixes......roubados. Havia na casa deles um pequeno aquário com aqueles
espécimes coloridos, que eles achavam meio sem graça. Próximo à residência
funcionava um restaurante com um lindo lago japonês cheio de carpas. Um dia,
abduziram uma delas e levaram-na para casa, mas a coitada ficou entalada no
aquário, que não comportava seu tamanho. O jeito foi cozinhar a infeliz.
Com
o tempo ganharam um tanque de mil litros, onde havia espaço para muitos peixes.
Para abastecer tanta água, precisaram incrementar as aquisições sorrateiras que
faziam. Descobriram outro restaurante com uma espécie de canal, que era
atravessado por uma pequena ponte, onde havia peixes raros. Começaram a
aproveitar os horários em que o estabelecimento não funcionava e “pescavam” à
vontade. Pegavam os pequenos exemplares com as mãos, colocavam na boca e depois
cuspiam em garrafas de refrigerante cortadas ao meio. Algumas vezes, engoliam,
sem querer, os peixes.
Tudo
que é bom, porém, diz o ditado popular, dura pouco. O dono do restaurante
começou a desconfiar que os peixes
estavam sumindo, e resolveu dar uma incerta. Certa noite chegou de surpresa e
ante o alarme de perigo dois dos pequenos gatunos fugiram em desabalada
carreira, enquanto o menor ficou sem reação e foi encurralado com uma garrafa
cheia de peixes. Aos gritos, o empresário mandou que ele jogasse todos eles de
volta na água, o que fez com relutância, afinal seria um trabalho perdido.
Em
seguida, foi ameaçado com voz de prisão: “Vou chamar a Polícia”.
Como
medo, o pequeno pediu: “Por favor, Polícia não”.
Já
vendo que tudo não passava de peraltice infantil, concordou, mas fez uma
advertência: “”A sua mãe tem que saber. Vou contar tudo para ela”.
Totalmente
transtornado e apavorado, o garoto, ante aquela possibilidade e já sabendo que
iria dormir com o couro quente, desabou num choro descontrolado e implorou: “Não,
minha mãe, não. Tudo, inclusive a Polícia, menos isso”.
Acabou,
assim, a quase promissora carreira daqueles piscicultores do alheio.