Tem coisas que a gente só descobre
quando já é tarde demais.
Morar por três anos num apartamento no
oitavo andar de um prédio de frente para o mar e depois mudar para o terceiro
piso de um edifício com varanda para uma das principais ruas da cidade faz uma
diferença significativa.
Durante o dia nem tanto, pois o movimento
da faina diária disfarça um pouco os ruídos externos. À noite, porém, o bicho
pega. O silêncio interno realça o que acontece lá fora, parecendo que todos os
sons estão reverberando dentro da sala ou do quarto.
A diminuição do tráfego não ajuda muito.
Qualquer carro, e principalmente moto, com aqueles canos de descargas silenciosos, para não dizer o contrário, que passe na avenida estronda o barulho
do motor sem nenhum disfarce. Aqui e acolá as sirenes das ambulâncias, com seu
volume intenso de 120 decibéis, atravessam o corredor sem prévio aviso.
Os ônibus ou caminhões sacolejam seus metais,
parecendo que estão prestes a se desmancharem com tanta lataria batendo. Já tem
uns três dias que um alarme de carro dispara pontualmente durante a madrugada,
não sei o motivo. Imagino que o veículo esteja na garagem do prédio da frente,
mas bem que o proprietário podia fazer o devido conserto.
E o caminhão do lixo? Pensem o quanto
interessante é acompanhar as conversas dos garis na labuta de recolher os restos
das coisas que a cidade dispensa diariamente. Aliás, as pessoas que passam
conversando na calçada (geralmente em voz alta) não imaginam o eco que as vozes
delas causam entre quatro paredes um pouco acima, mesmo com as janelas fechadas.
Dizem que a gente se acostuma com tudo, o bom
e o ruim. Então, o jeito é aceitar essa mudança, pois nem sempre as coisas são
como imaginamos que possam ser.
E ver o lado melhor, como, por exemplo, o
nascer do Sol iluminando as encostas verdejantes da Serra do Mar. Mesmo que na
hora passe na rua um motoqueiro barulhento e desrespeitoso.
Vai aguentando, Raimundo!