quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Arrogância

 


        Estava a ouvir de uma pessoa que considero bem inteligente, e que gosta de estudar temas históricos, uma compreensão sobre o motivo que levou Jesus a ser crucificado pelos romanos, que dominavam, naquela época, a região onde hoje está instalado o Estado de Israel.

 

        Dizia o cidadão que foi simplesmente um ato de arrogância dos invasores. Como todos que querem implantar suas ideias pela força, também os romanos buscavam mostrar, com aquela atitude, quem mandava, mesmo que para isso tivessem que matar um inocente.

 

        Tudo, então, para intimidar os judeus, que continuariam submissos e manteriam os pagamento dos impostos a César, que era o que realmente interessava aos dominadores.

 

        Verdade ou não é um entendimento, passível de contra-argumentação. Porém, sendo isento do conhecimento necessário para debater o tema, me quedo silenciosamente. Mas o ponto “arrogância” chamou a minha atenção, uma vez que parece, até hoje, permear as relações entre os povos, e mesmo entre pessoas no dia a dia.

 

        O caso mais recente, no cenário mundial, é a insana guerra da Rússia contra a Ucrânia, por exemplo, em que um tiraninho qualquer se arvora no direito de invadir um país soberano para impor a sua vontade, ao custo de milhares de vidas e o silêncio cúmplice da comunidade internacional.

 

        No trato humano o noticiário diário está repleto de casos, principalmente do racismo estrutural que permeia a derme social brasileira, além do tradicional “você sabe com quem está falando?”

 

        Pequenos que somos perante a natureza divina é quase inacreditável encontrar quem se ache melhor do que os outros, e com atos e palavras pretende, na marra, fazer valer seu pensamento, como se ninguém mais tivesse discernimento suficiente para escolher seu próprio caminho. Haja paciência!

 

        Lô Borges e Milton Nascimento, em Paisagem da janela, já profetizavam: “Mensageiro natural de coisas naturais/Quando eu falava dessas cores mórbidas/Quando eu falava desses homens sórdidos/Quando eu falava desse temporal/Você não escutou”.

 

        Afinal, “...gado a gente marca/Tange e ferra, engorda e mata/Mas com gente é diferente” (Disparada – Geraldo Vandré).

 

        Vai passar.

domingo, 18 de setembro de 2022

Além da imaginação

 


       No final dos anos 50 e início da década de 60 fez muito sucesso uma série de televisão denominada The Twilight zone (no Brasil, “Além da imaginação”), criada e produzida por Rod Serling, que teve cinco temporadas e 156 episódios.        Posteriormente, já no século 21, Jordan Paele produziu uma versão atualizada daquele seriado antológico.

 

        “Além da imaginação” apresentava histórias de ficção científica, suspense, fantasia e terror, com elementos  sobrenaturais e inexplicáveis, como viagens no tempo, mundos paralelos, passeios espaciais, ETs, fantasmas, vampiros e outros bichos misteriosos e assustadores. Elas aconteciam num local conhecido por “Zona do Crepúsculo” (www.adorocinema.com/series/serie-382).

 

As coisas ditas “fantásticas” geralmente não são bem compreendidas, e até causam medo na maioria das pessoas, exatamente por este motivo: como são de difícil compreensão, muitos preferem ignorá-las, achando que não fazem sentido ou não passam de mentiras ou um tipo de invenções e lorotas populares.

 

        Entretanto, existem fatos milenares que são narrados de geração em geração e atravessam séculos até chegarem aos tempos atuais. São quase impossíveis de comprovações, mas permanecem vivos no imaginário popular, alimentando a ideia de que há coisas que estão além da nossa visão comum. Estão presentes em todos os países, e fazem muito sucesso.

 

        A mitologia grega, por exemplo, nos legou, entre outras narrações, “A Caixa de Pandora”, “Os 12 trabalhos de Hércules” e “A guerra de Tróia”, esta última apontada por estudos e pesquisas arqueológicas mais recentes como um fato verídico. É sabido que os mitos buscam explicar a origem de diversos elementos da natureza, além de ensinarem sobre o comportamento humano.

 

        Pindorama também tem divindades, muitas advindas das tribos de índios, tais como Tupã, Jaci e Guaraci. O folclore brasileiro, que aglutina elementos portugueses, africanos e indígenas, é um dos mais ricos, com seus personagens de caráter espectro: Saci Pererê, Curupira, Iara, Mula sem cabeça, Boto cor-de-rosa, etc. A cultura popular, assim, cria uma identidade nacional.

 

        Não acredito e nem desacredito. Na dúvida, é melhor não arriscar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Figurinhas

 


        Nada como uma Copa do Mundo de Futebol para mudar um pouco o foco da atenção da galera. E junto com as novidades do esporte bretão chega o álbum de figurinhas dos jogadores das seleções classificadas para o certame.

 

        Jovens e adultos procuram os 670 cromos, a um custo total de R$ 536,00, isso se o colecionador não comprar, nos 134 pacotes necessários, figurinha repetida, o que é quase impossível. O álbum propriamente dito custa 12 reais ou R$ 44,90 na versão de capa dura.

 

        De quatro em quatro anos o frenesi toma conta dos aficionados. Também, em priscas eras, fui atingido por essa vibe. Do mesmo jeito que acontece hoje (com exceção dos grupos midiáticos que negociam as figurinhas especiais) levávamos para a escola as repetidas para troca ou disputa no “bafo”. Me lembro que, em determinada ocasião, negociei um coleirinho por uma figurinha do Rivelino, uma das mais difíceis na época.

 

        Sem adentrar no mérito do aspecto estritamente comercial envolvido no assunto, é preciso reconhecer o ponto lúdico de interagir, ainda mais neste mundo virtual, com outros interessados, alguns que têm álbuns desde a primeira Copa, realizada em 1930, no Uruguai.

 

        De uma geração mais antiga, tem-se a história das Estampas Eucalol, produzidas pela empresa de mesmo nome fabricante de sabonetes, perfumes e talco. De 1930 a 1957 mais de 2.400 estampas de 54 temas diferentes (entre eles, Santos Dumont, aves brasileiras, Dom Quixote, compositores célebres, escotismo) foram distribuídas ao público.

 

        Algumas séries, como História do Brasil, fizeram tanto sucesso que eram até usadas como material didático nas escolas. Uma canção de Hélio Contreiras, que faz parte do repertório de Xangai, lembra: “Montado no meu cavalo/Libertava Prometeu/Toureava o Minotauro/Era amigo de Teseu/Viajava o mundo inteiro/Nas estampas Eucalol”.

 

        São todas essas coisas. Daqui a pouco vou passar em alguma banca de revistas para comprar mais uns pacotinhos, pois minha neta mais velha precisa completar o álbum dela, onde ainda faltam 89 figurinhas. Até novembro, início da competição, a coleção deverá estar finalizada.

 

        Ainda bem que essa febre só atinge as pessoas de 4 em 4 anos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

E o mundo não acabou...

 


        E são 200 anos de independência, desde o famoso Grito do Ipiranga, proferido pelo então Príncipe Regente às margens do riacho de mesmo nome, em São Paulo, naquele ano de 1822, mais de três séculos desde o início da colonização portuguesa em solo pátrio.

 

        Em duzentos anos se constrói muita coisa, ou nada. O Brasil continua sendo o “país do futuro”. Nos tornamos uma República, mas temos o Rei do Futebol e outros nobres tanto no esporte quando na música e em diversas outras áreas do entretenimento.

 

        Infelizmente, a campanha eleitoral serviu para tomar conta desse festejo histórico tão importante, pois (pelo menos não chegou ao meu conhecimento) não se ouviu falar de iniciativas significativas que lembrassem a data, marco inicial da construção de uma nação, com exceção, talvez, da reinauguração, na capital paulista, do Museu do Ipiranga, administrado pela USP, cuja beleza pode ser apreciada no site www.museudoipiranga.org.br.

 

        Vale registrar que a audácia de Dom Pedro I acabou custando caro ao país, pois Portugal recebeu uma indenização no valor de 2 milhões de libras esterlinas, incluindo, nesse cálculo, os 60 mil itens da Biblioteca Real que Dom João VI trouxe para o Rio de Janeiro, em 1808, quando fugiu das tropas napoleônicas. Está tudo registrado no Tratado de Paz e Aliança, assinado em 1825 entre os dois países e arquivado na Torre do Tombo, em Lisboa.

 

        Hoje, 7 de setembro de 2022, atravessamos mais um período conturbado da nossa história, e não se sabe o que o futuro reserva para Pindorama. O que poderia ser motivo de festa e união entre os brasileiros se tornou alvo de disputas insanas entre aqueles que almejam o poder pelo poder. Pelo menos, porém, o dia não teve maiores turbulências, conforme tinha sido previsto pelos arautos da desordem.

 

        Só nos resta seguir em frente, na esperança de dias melhores, onde todos, independentemente de sexo, credo e raça, se sintam acolhidos e amparados de norte a sul, de leste a oeste. Afinal, “já choramos muito/muitos se perderam no caminho/mesmo assim não custa inventar/uma nova canção/que venha nos trazer/Sol de primavera/abre as janelas do meu peito/a lição sabemos de cor/só nos resta aprender”, pois “já sonhamos juntos/semeando as canções no vento/quero ver crescer nossa voz/no que falta sonhar” (Sol de Primavera, Beto Guedes e Ronaldo Bastos).