quinta-feira, 30 de julho de 2020

Sonhos




          Interessante, a gente tem cada sonho tão incompreensível. Pelo menos, eu tenho tido.

          Noite passada sonhei com um lugar muito esquisito, onde eu chegava subindo de carro por umas pedras, tipo aquelas que se vê ao redor de algumas praias, próximas à areia. Não sei como o veículo conseguiu chegar ao topo, pois era bem íngreme o acesso. E lá naquele local tinha pessoas que nunca vi num ambiente meio confuso, tipo fazendo não sei o quê com não sei quem. Parecia mais um pesadelo.

          Já tive também sonhos como se fossem pequenas histórias, onde tudo é linear, ou seja, com início, meio e fim, e existe uma lógica, uma coerência, inclusive em relação a momentos de minha vida ou situações que vivenciei ou mesmo que posso entender.

          Os antigos dizem que aqueles sonhos que acontecem de madrugada, na hora do sono mais profundo, podem ser reveladores de coisas que a pessoa precisa prestar atenção, ou melhorar, ou evitar. Tem também aqueles sonhos com animais, coisas ou situações que são feitas interpretações e podem significar isso ou aquilo.

          Confesso que não sei, e até tenho um pouco de dúvida quanto à veracidade disso, apesar de não ser incrédulo em relação a algumas coisas misteriosas que existem, até porque minha crença espírita me faz pensar bastante nisso. Mas é um tanto complicado, né mesmo?

          Uma das obras mais famosas de Sigmund Freud, considerado o Pai da Psicanálise, tem dois volumes e intitula-se “A interpretação dos sonhos”. Para o médico austríaco, todo sonho tem um significado, embora oculto, da realização de desejos, que, quando reprimidos na vida de vigília, muitas vezes se manifestam no universo onírico.

          Os sonhos poderiam, também, ser, segundo a teoria freudiana, um apanhado de memórias de algo que aconteceu em um passado próximo. Assim, em vez de a mente de alguém reproduzir fielmente memórias recentes, faria uma mistura delas nos sonhos. Por isso, mesmo que a pessoa não se lembre, cada aspecto de um sonho pode representar um pedaço de alguma experiência dos últimos dias.

          Bom, quem sou eu para contradizer tão famoso personagem e estudioso. Mas acho um pouco exagerada a fixação sexual em suas explicações, apesar de saber que sexo, para o ser humano, exerce papel fundamental na existência de uma pessoa. E, também, acredito que guardamos muitos segredos, e nem sempre somos totalmente transparentes. Aliás, uma das suas frases mais famosas é a seguinte: “Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.”

          Voltando aos sonhos. Hoje em dia, na internet, existem diversos sites que trazem interpretações dos sonhos. Tem até quem relacione algum tipo de sonho com animais do Jogo do Bicho, muito popular antigamente, mas que decaiu da preferência do povo depois que foi institucionalizada a jogatina da Quina, Mega Sena, Lotofácil e outras mais. Vejam, a seguir, algumas explicações que encontrei na rede mundial de computadores.

          Sonhar com abacaxi, por exemplo, significa esperança num futuro melhor. Quem diria!? Sonhar com deserto: necessidade de fazer amigos. Sonhar com herança: prejuízo financeiro. Sonhar com máscara: vaidade. Será que se aplica a esses tempos pandêmicos? Sonhar com peixes: estabilidade. Suicídio: começar algo novo. Realmente.....Sonhar com o próprio velório: sorte no jogo e boas notícias. Essa, nem Freud explica. Zebra: mau agouro. Estou fora.

          Independentemente do que seja real ou não (se é que os sonhos podem se relacionar à realidade), desejo uma noite de bom sono a todos.

sábado, 25 de julho de 2020

Jogos inocentes?




          Para alegria de todos aqui em casa a minha primeira neta, com quase 12 anos de idade, veio almoçar com a gente, depois de um longo período. Enquanto esperávamos a macarronada e uma prometida salada de fruta de sobremesa fiquei matutando um jeito de atrair a atenção dela para que fizéssemos alguma coisa juntos, além de ficar cada um mexendo no seu próprio celular.

          Eis que, como se tivesse captado meu pensamento, a querida adolescente me convidou para jogarmos Minecraft, que é um jogo eletrônico de sobrevivência: eu, no computador; ela, no telefone móvel. Por uma fração de segundos pensei em recusar, mas achei por bem não perder a oportunidade de interagir e aprender alguma coisa sobre esse mundo do vídeo game que atrai tantas pessoas, principalmente as mais jovens.

          Feitos os preparativos iniciais, sob o comando dela iniciamos nossa aventura virtual, sem que estivesse entendendo muito do que acontecia e do que deveria fazer. Em determinado momento, ela colocou na “minha mão”, ou melhor, na do robozinho que me representava no monitor, um machado, com o qual eu teria que limpar uma área para abrir um caminho até uma vila próxima.

          Assim, com o auxílio do teclado, comecei a desferir violentos golpes em tudo quando é árvore que tinha pela frente, derrubando umas tantas. Contudo, não foi possível dar continuidade àquela ação antiecológica porque o sinal da internet começou a falhar e o programa não respondia mais aos comandos. Por essa razão, minha neta achou melhor deixarmos a sequência do combate ambiental para outra oportunidade.

          Pois bem. O que estou querendo dizer é que quando estava dando machadadas para todos os lados e as árvores iam caindo, uma a uma, senti uma sensação de poder que me assustou um pouco. Cheguei à conclusão que, por instantes, estava gostando de ter o controle sobre o destino daqueles vegetais, mesmo que não fosse uma situação real. Era “bom” destruí-los.

          Fiquei imaginando, fazendo uma analogia com a realidade do mundo, como as pessoas podem se entorpecer se são colocadas em lugares de mando sem ter competência para tal encargo. A canetada, ou a assinatura eletrônica, como é mais comum atualmente, tanto pode ser instrumento de construção quanto de destruição. Déspotas burocráticos proliferam aos milhares, desde o porteiro que decide quem entra ou não no prédio até os próceres da nação com seus casuísmos e arrogâncias do tipo “sabe com quem está falando?”.

          Acho que é por isso que se diz: Queres conhecer uma pessoa? Dê-lhe poder. Um amigo meu fez um acréscimo: Queres conhecer mais ainda? Tire-lhe o poder. Com poder para decidir alguma coisa, por menor que seja, é quando a gente mostra o que aprendemos ao longo da vida, que hábitos forjaram nosso caráter, qual o sentimento que temos em relação àqueles destinatários de nossas resoluções. Isso em todos os aspectos, não só da vida pública, mas também no trato familiar.

          Não sou especialista em educação, mas quer me parecer que muitos desses joguinhos ditos “inocentes” estão, na verdade, incutindo na cabeça da juventude mundial que, nesse planeta, temos que nos dar bem, que os fins justificam os meios e que impor nossa vontade é o que determina o sucesso ou o fracasso de uma existência. Entendo que essa não é a maneira correta de se viver, pois estamos todos no mesmo barco e o direcionamento deve ser no sentido da solidariedade, da fraternidade e da igualdade.

          Me perdoe, Alice, mas podemos jogar só um ameno futebolzinho?

                     

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Leituras




        Que eu gosto de ler, muito, até as pedras das ruas sabem, principalmente quando estamos atravessando esses tempos diferentes e inéditos em que sair da clausura é por conta e risco de cada um, apesar de já haver alguns sinais de que a epidemia está recrudescendo. Esperemos que seja verdade.

          Enfim, desde março, quando a quarentena teve início, andei investindo uns trocados em livros, comprados, principalmente, em sebos virtuais, até porque economizar uns cobres não faz mal a ninguém.

           Hoje resolvi fazer uma limpeza na mesinha de cabeceira e encontrei 12 livros lidos no período, o que dá uma média de três por mês. Não sei se isso me faz um leitor inveterado, mas acho que é uma quantidade razoável. Vou relacioná-los, a título de ilustração para quem possa interessar.

A agulha oca e Ladrão de casaca, ambos de Maurice Leblanc, editado pelo Círculo do Livro: só conhecia de nome a obra deste escritor francês, e seu famoso ladrão-cavalheiro Arsène Lupin. Um bom entretenimento, para quem gosta de aventuras de época (França, século XIX). Divertimento garantido.

História social do jazz, de Eric J. Hobsbawm, com prefácio de Luís Fernando Veríssimo, Editora Paz e Terra: o famoso historiador inglês publicou pela primeira vez este livro com o pseudônimo de Francis Newton, na década de 60. É uma obra que exige atenção na sua leitura, mas muito bem escrita, com toda a competência e erudição peculiar ao autor.

A porta de bronze e outros contos e O sono eterno, os dois de Raymond Chandler, o primeiro da Editora Record e o segundo da L&PM: junto com Dashiell Hammett, Chandler é meu escritor favorito no gênero policial, principalmente as aventuras do detetive Philip Marlowe, casos, muitas vezes, da própria vivência dele, que, em determinada época da vida, foi investigador particular. Mais ou menos no estilo de “a vida como ela é”, de Nelson Rodrigues.

As minas do Rei Salomão, Ela e Ayesha, a volta de Ela, todos de H. Rider Haggard, edições da Editora Scipione (os dois primeiros livros) e da Editora Record (o terceiro): esses são clássicos da literatura de aventura, do famoso explorador inglês Sir Henry Rider Haggard, que percorreu longas extensão da África e da Ásia na época em que o Império Britânico estava no apogeu. Apesar de seu viés colonizador, são epopeias daquelas que dá vontade de ler de uma tacada só. Recomendo.

O gene egoísta, de Richard Dawkins, Companhia das Letras: trata-se de um estudo desse famoso cientista africano (nasceu no Quênia), mas que, atualmente, mora na Inglaterra, em que a famosa Teoria de Darwin é apresentada na linha da “biologia evolucionária”. Quem acredita em Deus, conforme é meu caso, precisa estar disposto a enfrentar alguns temas que podem chocar com suas próprias convicções.

O ladrão no fim do mundo, de Joe Jackson, Editora Objetiva: o livro narra como um inglês (Henry Wickham) roubou 70 mil sementes de seringueira e acabou com o monopólio do Brasil sobre a borracha, no que ficou considerado como o primeiro caso de biopirataria ocorrido no mundo. Não é de hoje que a Amazônia é espoliada.

Chico Mendes – um grito no ouvido do mundo, de Nilo S. Melo Diniz, Appris Editora: trata-se da tese de mestrado do sociólogo Nilo Sérgio Melo Diniz, abordando como a imprensa mundial cobriu a luta dos seringueiros a partir do episódio em que foi assassinado o líder sindical acreano. Apesar do objetivo acadêmico, tem leitura fácil.

Sobre a escrita – a arte em memórias, de Stephen King, Suma de Letras: o famoso escritor de terror apresenta, de maneira simples e direta, suas observações sobre a labuta literária, como se estivesse dando uma palestra ou uma aula para quem almeja se tornar um escritor. Vale a pena, mesmo para quem não é do ramo.

          Agora, dando continuidade a esse divertimento/aprendizagem que é ler, resolvi encarar um calhamaço de 892 páginas intitulado O Faraó, escrito pelo polonês Boleslaw Prus, que narra a história de ascensão ao trono e do reinado do fictício Ramsés XIII. A obra é famosa mundialmente, chegou a ser adaptada para o cinema, em 1966, por Jerzy Kawalerowicz, concorrendo ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Por enquanto, já venci a introdução, mas não estou com pressa nenhuma.

          Inté!

         

quarta-feira, 15 de julho de 2020

A bola rolou




          Eis que o popular esporte bretão voltou. Pelo menos no já nem tão famoso Campeonato Carioca, mas noticia-se que em outras paragens os clubes também foram autorizados a reiniciarem suas disputas regionais, enquanto aguarda-se a primeira rodada, em agosto, do Brasileirão 2020, o ano que, para alguns, ainda não começou.

          Interesses econômicos, o que não é novidade, colocaram-se acima dos cuidados sanitários. Sem público nas partidas, uma outra disputa de cunho monetário aflorou: quem pode autorizar a transmissão dos jogos? O Governo Federal editou uma polêmica medida provisória que deu às equipes mandantes o direito de negociar com terceiros, ou até mesmo montar sua própria emissora, como já o fizeram Flamengo e Fluminense, a veiculação das imagens.

          Tudo muito bonito, tudo muito certinho. Resta saber se essa era, realmente, uma prioridade nesses tempos ainda pandêmicos. Aquela velha máxima romana do panis et circenses parece passível de aplicação nesse caso concreto, não que eu seja contra o futebol ou o esporte de uma maneira em geral, mas ninguém sabe o que pode acontecer com o retorno aparentemente tão precipitado, dando a impressão de que os jogadores, tal qual os antigos gladiadores, foram lançados à arena e entregues à própria sorte.

          Na Europa, é certo, também foi autorizado o recomeço das principais disputas, com muitas regras sanitárias. Por aqui, a Confederação Brasileira de Futebol preparou uma cartilha com o protocolo de segurança necessário, prevendo, entre outras coisas, o seguinte: portões fechados; uma equipe entrando antes da outra; após o intervalo, a ordem de retorno dos times ao campo se inverte; todos os atletas serão testados 48 horas antes das partidas para evitar o descontrole de contaminação do vírus. 

          Além disso, nada de abraços após um gol e não é permitido cuspir no gramado. Ao final de cada contenda, os atletas não podem tomar banho no vestiário e devem ir para casa em conduções individuais vestindo o próprio uniforme, que serão lavados nas respectivas residências. Na teoria, uma beleza. Porém, nos dois jogos que passaram recentemente (Flu x Fla e Fla x Flu), pelo menos uma regra não foi obedecida fielmente: no momento dos gols ocorreu confraternização para todo o lado. Discretas, mas aconteceram.

          Sabe-se que disciplina, de uma maneira geral, não é o forte do povo brasileiro. Os jogadores, em tese, entram em campo sem sintomas e inexistindo a presença do vírus na corrente sanguínea, assim como as demais pessoas autorizadas à presença física nos estádios (comissão técnica, imprensa, árbitros e outros). Até um dia desses era presumido por alguns setores influenciadores nacionais que o perfil de atleta fosse quase uma imunidade contra a doença, o que, contudo, na prática, se revelou inverídico.

          Enfim, se está havendo forçação de barra ou não somente o tempo dirá. Enquanto isso, me rendo ao espetáculo futebolístico na telinha.

Afinal, ninguém é de ferro – a não ser o Robert Downey Jr.

E daqui do meu sofá, entre uma batatinha ou uma pipoquinha e outra, com a graça de Deus, estou imune ao coronavírus, pois não se tem notícia de contaminação por ondas de rádio ou sinais digitais de satélites.

Então, que role a pelota. E bola na rede, de preferência a favor do meu Mengão.

                   

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Dia da Pizza



          Acordei e depois daquelas atividades corriqueiras de toda manhã (lavar o rosto, fazer xixi, escovar os dentes) fui dar uma olhada nos sites noticiosos, um hábito matutino também. Entre aquelas informações repetidas e enjoativas, tipo pandemia, política e políticos e desculpas esfarrapadas sobre causas do atraso no auxílio emergencial, vi uma realmente importante: hoje, 10 de julho, é o Dia Nacional da Pizza.

          Pizza, todo mundo sabe, é aquela massa redonda e recheada com queijo, tomate e algumas outras iguarias. Atualmente fazem até uma tal de pizza doce (eca!). A efeméride foi instituída em São Paulo, no ano de 1985, quando o então secretário de Turismo Caio Luiz de Carvalho promoveu um concurso estadual para eleger as dez melhores receitas. O sucesso foi tamanho que ficou determinado que o encerramento do evento, em 10 de julho, ficasse como data oficial para homenagear a pizza.

          Aliás, essa criação egípcia mas, nos tempos mais recentes (século XVI), difundida mundialmente pela culinária italiana a partir da época em que os primeiros tomates foram levados da América para a Europa, recebeu também uma homenagem da Unesco, que elegeu em dezembro de 2017 a "Arte dos Pizzaiolos Napolitanos" como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Em Nápoles, sabe-se, nasceu o formato parecido com as pizzas atuais por Raffaele Esposito, que criou a famosa margherita, nome que lembra a rainha Margherita de Savoia e cujos ingredientes têm as cores da bandeira italiana: verde (manjericão), vermelho (tomate) e branco (mozzarella fresca).

          Bom, essa pequena introdução histórica foi feita tão somente para falar da minha relação com essa delícia. Durante uma época da minha vida eu gostava basicamente de arroz, batata frita e bife. Um dia, em visita à casa de minha Tia Marlene, me deparei com uma pizza que ela havia feito para o lanche de seus dois filhos, meus primos. Perguntado se queria um pedaço, recusei.

          - Por quê? – quis saber minha tia.

          - Não gosto – afirmei, simploriamente.

          - Mas você já provou alguma vez? – indagou.

          - Não – respondi, ligeiramente envergonhado.

          - Então, prove – sentenciou.

          Sem argumentos, resolvi fazer o teste. Quando mordi o primeiro pedaço senti como se tivesse encontrado um maná caído dos céus. Que coisa era aquilo? Como, até então, nunca tinha comido uma pizza? O queijo derretido, a massa crocante, o molho de tomate: impossível, pensei, doravante, ficar sem esse néctar divino. E me tornei, até hoje, fã incondicional.

          Parênteses: Tia Marlene é uma das pessoas mais positivas que conheço. Com ela não tem tempo ruim, enfrentando a dificuldade que for. Toda a vida tem um conselho, uma palavra oriental. Na fazenda do pai dela, no Guaçuí, me causava admiração como ela andava por aquelas estradas, pilotando um Jeep com maestria, numa época em que, preconceituosamente, eu achava que mulher não sabia dirigir. O marido dela, Tio Rogério, irmão do meu pai, é outra figura ímpar. Coincidentemente, encontrei-o nesta data no supermercado. Falei com ele, não me reconheceu, de início, e depois alegou que era por causa da máscara. Uma lista de compras e feliz da vida, aos 93 anos, ainda dirigindo, porque a validade de sua CNH, que venceria em maio, foi prorrogada (aliás, de todas) por conta do isolamento social. Gente boa. Um casal do bem. Fecha parênteses.

          Voltando ao tema inicial dessa crônica.

          Posteriormente, na casa de minha mãe, toda a sexta-feira à noite tinha pizza feita em casa (massa e recheio) por uma empregada doméstica chamada Teresa. Ficou famosa, e motivo de visitas de muitos parentes e amigos. Eram vários tabuleiros, mas todos de muçarela. Gostoso demais. Comia-se muito naquelas noites. E quando sobrava alguma coisa, eu aproveitava no almoço do dia seguinte. Com arroz, me perdoem os puritanos.

          Hoje em dia, por conta da idade e de uma tendência a engordar facilmente, estou maneirando mais, principalmente nestes momentos pandêmicos, onde comer e dormir parecem as únicas alternativas viáveis para quem está de quarentena. Quando subo numa balança pulo fora logo que o ponteiro chega em 80 quilos, que é para não ver o resto.

          Porém, no Dia Nacional da Pizza, acho que posso abrir uma exceção.

Que venha uma de calabresa, sem cebola.

Buon appetito!


         

domingo, 5 de julho de 2020

Réu confesso




          Confesso. Furei a quarentena.

          Estou classificado no dito grupo de risco, considerando a previsão do Estatuto do Idoso de ter idade igual ou superior a 60 anos. Já a Organização Mundial da Saúde, em documento de 2002, define essa condição a partir da idade cronológica, portanto, idosa é aquela pessoa com 60 anos ou mais, em países em desenvolvimento e com 65 anos ou mais em países desenvolvidos.

          Quer dizer, se eu morasse nos Estados Unidos ou na França, por exemplo, ainda teria mais dois anos antes de me enquadrar na definição da OMS. Porém, nasci, fui criado e resido no Brasil. Sendo assim.....

          Porém a pesquisadora Ana Amélia Camarano, especialista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em envelhecimento populacional, considera esse conceito ultrapassado. "Hoje quem tem 70 anos é como quem tinha 50 anos tempos atrás. Uma pessoa de 60 anos, mesmo na classe mais baixa, não é idosa como foram nossos avós", garante a estudiosa, conforme reportagem publicada na Folha de São Paulo em 26/06/18.

          Me sinto nessa condição, de quem está próximo de inteirar 63 anos de idades, mas alerta o suficiente para me garantir como um quarentão. Em tudo, diga-se de passagem. Pensando bem: quase tudo. As estripulias noturnas nos bares da vida e as aventuras futebolísticas já ficaram para trás. No mais, como se diz no popular, está tudo em cima.

          Bom, voltando ao “furo” na quarentena.

          Minha mulher de quase 42 anos de casamento, que raramente pensa nela ou pede alguma coisa para si mesma (às vezes isso me incomoda um pouco, mas aí é outro assunto), manifestou vontade de comer o famoso bolinho de aipim (mais de 300 gramas de peso) da Barraca da Zezé que é vendido na praia de Meaípe. Telefonamos, mas eles não têm delivery.

          O jeito foi pegar o carro e ir lá. É um passeio agradável, passando pela praia do Riacho e pela Enseada Azul até Meaípe, em aproximadamente 20 quilômetros. Todo mundo de máscara e mantendo distanciamento mínimo de 2 metros. Feito o pedido para viagem, ficamos olhando o mar e o que restou da praia.

          Sim, porque a faixa de areia praticamente deixou de existir. O mar avançou na rua e muitos trechos foram engolidos. O final da praia ainda mantém seu ar bucólico, com os barcos de pesca ancorados, as pequenas casas dos pescadores e a igrejinha branca e azul em homenagem à Senhora Sant’Ana recortada ao fundo. Mas banho de mar mesmo parece que já era, a não ser que os banhistas pulem da calçada diretamente na água.

          Dizem que a origem do problema está o Porto de Ubu, administrado pela Samarco Mineração, e as retiradas de areia para aumentar o calado de acesso ao local. A empresa, porém, nega qualquer responsabilidade. Enquanto isso, são adotadas medidas paliativas, como fazer, novamente, um muro de contenção, pois o anterior a maré derrubou. E Meaípe fica sem a sua orla e todo o potencial turístico daí advindo.

          E o que isso tem a ver com a quarentena? Nada. São apenas reflexões ocasionadas pelo passeio dominical que não estava previsto na agenda, que nos últimos tempos está com suas páginas em branco, pois o que foi feito ontem, é o mesmo de hoje e será igualzinho amanhã: coisíssima nenhuma.

          Contudo, valeu a pena, não só por conta do passeio, mas por rever aquela que era uma das minhas praias preferidas. Antes que acabe de vez. Se minhas filhas não me pressionarem muito, é capaz de eu dar algumas outras escapulidas. Discretamente e com cuidado.

          Espero que o guarda não me pegue.