quinta-feira, 21 de abril de 2011

As cidades da minha infância

Antes de falar da nossa (minha e de minha família) vinda para Rondônia, vou escrever alguma coisa sobre as cidades onde morei quando garoto. Meu pai era juiz de Direito e, nesta condição, tinha que iniciar a carreira (chamada primeira entrância) nas localidades de menor expressão do interior até chegar à Capital (terceira entrância ou, como dizem atualmente em alguns estados, entrância especial).
Não morei em todas as comarcas onde ele trabalhou, mas na maioria eu, minha mãe e meus irmãos residimos. Antes de minhas duas irmãs e meu irmão nascerem (sou o mais velho), fomos para Conceição da Barra e São Mateus, cidades litorâneas do norte capixaba, na divisa com a Bahia. Tinha uns dois anos de idade e só sei do que aconteceu por lá através das fotos e do que os parentes contam. Nada de especial.
De Santa Leopoldina, porém, me lembro bem da casa. É uma região serrana, de forte colonização italiana e alemã. A construção era térrea, bem ampla, num terreno de grande extensão, em cuja lateral passava o Rio Santa Maria. Vale lembrar que, em 1860, a cidade recebeu a visita de Dom Pedro II, acompanhado de grande comitiva, da qual fazia parte, entre outros, o Marquês de Tamandaré. Afinal, era a terceira colônia mais populosa do império.
O quintal tinha muitas fruteiras e uma vez os galhos amanheceram cheios de cobras verdes que, segundo ouvi os adultos dizerem, não eram venenosas. Foram mortas e jogadas no rio. Eu ainda não estava em idade escolar. Ficamos pouco tempo ali.
Em seguida fomos para Guaçuí, no sul do estado, lugar friorento (determinada ocasião fez 5 graus). O acesso (estávamos em 64/65) era precário. As estradas tinham extensos trechos com lama e uma viagem de Vitória para lá, pouco mais de 200 quilômetros, demorava quase um dia todo. Nos alojamos numa casa que meu tio Rogério já havia ocupado, de propriedade do sogro dele, o fazendeiro Agenor Thomé. Tinha dois pisos e um vasto quintal.
Iniciei minha vida de estudante no Grupo Escolar Zélia Viana de Aguiar, nome da mulher do governador Chiquinho Aguiar, que era da região. Fiz os quatros anos primários e depois uma prova de admissão para ir para o ginásio ou fazer o 5º ano primário. Consegui o acesso e fui para o ginásio. Foi no tempo ginasiano que minha miopia apareceu e comecei a usar óculos. Influenciado por um professor da matéria Técnicas Agrícolas, resolvi fazer uma criação de coelhos. Com pouco tempo já tinha uma dezena, pois eles procriavam velozmente. Não dei conta e me desfiz dos bichos, aproveitando a oportunidade para degustar alguns (são muitos saborosos).
Um dos grandes prazeres que eu tinha, naquela época, era ir na Fazenda São Domingos, da familia Thomé. Ali dei meus primeiros tiros com espingarda de chumbinho (era ruim de mira que só). Mas fiquei bem prático em andar a cavalo, com sela ou sem. Foi lá, também, que vivi uma experiência inusitada: olhávamos uns trabalhadores queimarem uma casa de abelhas, mas a coisa desandou e os insetos nos atacaram. Corremos no rumo da casa e os que chegaram na frente fecharam as portas. Ficamos do lado de fora eu e minha mãe, que me cobriu com o corpo dela e levou a maior parte das ferroadas. Na retirada dos ferrões, se contaram centenas deles.
Em seguida, descemos para Alegre, município vizinho. Fomos morar numa casa que ficava em frente da praça onde estava sediada a Prefeitura. Em 1970 assisti à primeira transmissão de uma Copa do Mundo pela televisão, e me deliciei com o show de Pelé, Gerson, Jairzinho, Tostão, Rivelino e companhia. Afinal, futebol era, e é, meu esporte favorito. Toda dia tinha um racha com a garotada da vizinhança. Outra brincadeira era correr por cima dos galhos das árvores, que estavam tão entrelaçados que dava para passar de uma para a outra, numa sequência de umas dez, mais ou menos. Tinha, então, 13 anos. Criava coleiros, uns passarinhos pretos com um círculo branco ao redor do pescoço, e canários. Quando nos mudamos, soltei-os.
Dali fomos para Colatina, mais ao norte, às margens do Rio Doce. Ainda estava no ginásio e fui matriculado no Colégio Maristas. Aderi ao escotismo. A cidade, no período chuvoso, tinha muitos problemas de alagações e desabamentos e os escoteiros eram convocados para auxiliar. Um drama que vivenciei, em função disso, foi dar banho e vestir um bebê que tinha morrido afogado. A composição de minério de ferro que vinha (ainda vem) de Minas Gerais para o Espírito Santo passava (atualmente existe um anel ferroviário fora da cidade) bem no meio das ruas centrais. Nós morávamos numa ladeira próxima, e achava interessante como as coisas tremiam (vidros, por exemplo) enquanto aquelas centenas de vagões corriam sobre os trilhos.
E aí, no final de 1971, chegamos, finalmente, na capital, Vitória, onde meu pai concluiu sua carreira na Magistratura e eu comecei a dar meus primeiros passos por conta própria, conforme relatos neste blog.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A experiência sindical




Eu também já agitei as massas, se me permitem usar esta força de expressão.
Aconteceu quando fui diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Espírito Santo, no período de 82 a 85, sendo presidente Tinoco dos Anjos. Anteriormente, fui dirigente sindical na redação da TV Gazeta.
Vivíamos a sequência daqueles acontecimentos que acabariam redundando na redemocratização. Era a campanha da anistia, ampla, geral e irrestrita. As diretas já (presidente). Eleições diretas para governador. Toda aquela gama de reivindicações reprimidas por muito anos vinha à tona. E, obviamente, na classe trabalhadora a repercussão era muito mais intensa.
O SINJOR estava na sua segunda administração. O primeiro presidente foi Rogério Medeiros, velho guru de nossa geração. A entidade funcionava numa sala na Escadaria Maria Ortiz, parte central da cidade. A grande novidade, tanto para empregados quanto para patrões, era a questão salarial. Na administração anterior foi conquistado o piso de cinco salários mínimos. Agora, era necessário ampliar e manter os benefícios.
Ninguém estava acostumado a negociar, pois no período da ditadura militar tudo era imposto de cima para baixo. Além disso, a diretoria do sindicato era composta por profissionais de diversas correntes políticas, muitas das quais tinham recentemente saído da clandestinidade (as mais radicais). Administrar todos esses interesses não era brincadeira. Mas Tinoco parecia um político de Minas Gerais (nasceu perto de lá, em Barra do São Francisco/ES) e tinha jeito e paciência para manter a unidade, tanto internamente, nas nossas reuniões, quanto externamente.  
As negociações, entretanto, na época da campanha salarial (acho que foi em abril), com as principais empresas de comunicação eram penosas e tudo indicava que seria encaminhada uma proposta de greve. Confirmado o impasse, foi convocada uma assembléia geral a se realizar no auditório da Secretaria da Agricultura, no Forte de São João. Nunca vi tanto jornalista reunido. Cabe ressaltar que fizemos um trabalho de formiguinha, procurando e falando com o máximo possível de pessoas para garantir a representatividade do movimento, pois, como já foi sabiamente dito por alguém, não há greve sem grevistas. E a paralisação das atividades foi aprovada por ampla maioria (era a coisa mais linda aquele mar de braços levantados).
Não estou lembrando, no momento, quantos dias durou o movimento (é engraçado chamar de movimento uma atividade onde todos ficam parados), mas alguns episódios foram marcantes.
Na Rede Gazeta, por exemplo, chegamos antes de o sol nascer e conseguimos impedir que fosse ao ar o noticioso Bom Dia Espírito Santo, que começava de manhã cedo. O jornal impresso, salvo engano, circulou, mas não com sua edição completa.
Em A Tribuna, porém, é que o bicho pegou. O preposto do patrão não aceitava negociar e como naquele matutino a categoria estava mais politizada, a radicalização mútua foi o mote da campanha. Em frente à entrada principal, por exemplo fizemos um piquete (foto acima) e não deixamos ninguém entrar. Me lembro que um rapaz queria entregar uns documentos para o diretor e foi barrado. O dito cujo saiu de seu gabinete e exigiu a entrada do funcionário, o que recusamos. Ele, então, pegou o braço do empregado e quis puxá-lo, na marra, para dentro e romper o nosso cordão, exatamente no local onde estávamos eu e a companheira Annie Cicatelli. A francesa firmou o pé, eu senti que também não podia amiudar e empurramos o cidadão de volta para a rua.
Alguns fura-greves quiseram fazer o jornal, e conseguiram imprimir umas quatro páginas. Quando as kombis da distribuição saíram de madrugada das oficinas, tiveram os pneus furados pelos pedaços de pau com pregos virados para cima que espalhamos na rua. Comentários dos motoristas: "Não adianta, eles são guerrilheiros". Infelizmente, não houve acordo e os donos da empresa resolveram, simplesmente, fechar o jornal, que só foi reaberto anos depois.
Por causa da greve e de meu posicionamento um tanto rude com os chefes, fui "encostado" na TV Gazeta, onde trabalhava. Não podia ser demitido porque era diretor do sindicato e, nessa condição, a legislação garantia a chamada imunidade sindical. Praticamente não fazia nada. Só puderam me tirar uma gratificação de chefia que eu tinha. Isso foi até objeto de uma ação trabalhista, para definir se "editor" é uma função inerente à categoria jornalística ou um cargo de confiança que a empresa pode dispor como quiser. Ganhei na primeira instância, numa das Juntas (hoje, Vara) do Trabalho de Vitória e perdi na segunda, no Tribunal Regional do Trabalho, cuja sede, na época, era no Rio de Janeiro.
Bom, entre tudo isso, chegou a época da eleição da nova diretoria do SINJOR. Nosso grupo precisava escolher um candidato a presidente. Tinoco não queria concorrer à reeleição. Rogério Medeiros estava apoiando a chapa contrária. As pessoas convidadas recusaram a disputa. Aí, eu fui, por assim dizer, a última opção. Aceitei concorrer, mas não tinha mais o mesmo pique de antes. Estava um pouco desiludido com a militância, com as incompreensões, com todo mundo achando que estava certo e os outros completamente errados. Fui para o pleito não me importando muito com o resultado. No primeiro turno, o candidato concorrente (Sérgio Egito) não obteve o número de votos necessários, mas no segundo não teve jeito: ele ganhou.
Apesar do fim do mandato, ainda tinha mais um ano de carência, por assim dizer, na tal da imunidade sindical. Mas queria sair, do emprego e da cidade. Procurei Tinoco dos Anjos e pedi que ele me acompanhasse numa reunião com o presidente da Rede Gazeta, Carlos Fernando Monteiro Lindemberg Filho (meus respeitos, Cariê) e propus um acordo: eu abria mão da imunidade, ele liberava meu FGTS e estava tudo certo.
E assim aconteceu. Pouco tempo depois, arrumei as malas e vim para Rondônia. Mas isso fica para outro dia.


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PS: Mudei a configuração do blog e agora a postagem de comentário está liberada mesmo para quem não tem conta no Google, ok?

domingo, 17 de abril de 2011

Minha vida de "artista"

Eu também trabalhei na Globo. Brincadeirinha. Fui funcionário da TV Gazeta, que é afiliada da Rede Globo. Entrei lá em 1979 e fiquei até 1985, quando vim para Rondônia. Confesso que foi difícil minha adaptação à mídia eletrônica, porque minha praia, até então, tinha sido o jornal impresso. A emissora ainda funcionava nos últimos andares do prédio (Edifício Gazeta) da Rua General Osório. Posteriormente foi para a sede nova, onde está até hoje, na Rua Chafic Murad, 902, local mais afastado do centro da cidade, e onde também estão instalados os jornais e as rádios da empresa.
O que pegou, no início, era entender a linguagem e o tempo da televisão. Eu, que sempre fui muito expansivo escrevendo, tinha que fazer textos contados em segundos. A gente marcava 36 toques da máquina de escrever na lauda e cada linha daquele tamanho correspondia, em média, a dois segundos. Somávamos a isso os minutos das reportagens e tínhamos o total do noticioso do dia, que era pré-determinado em função da programação da Globo. Isso até que é fácil, né mesmo?
O negócio é ir para a frente das câmeras. Com um microfone na mão a coisa pega. Tinha entrevistado, por exemplo, que falava que era uma beleza, mas quando começava a gravar, pra valer, se enrolava todinho. Outra coisa que eu não consegui me adaptar era o costume que havia, na época, de querer transformar qualquer notícia num espetáculo. Claro que TV depende de som e imagem, mas "produzir" uma matéria me dava arrepios.
Lembro que quando o Papa João Paulo II esteve aqui no Brasil pela primeira vez, me deram uma pauta da seguinte maneira: ir para um restaurante de beira de estrada, onde os caminhoneiros se reuniam, e quando o líder católico aparecesse na telinha, todos se ajoelhariam para rezar. Naturalmente que isso tudo tinha que ser combinado com os "meninos". Você viu a reportagem? Ninguém viu, porque não fiz.
Mas quando o assunto era notícia de verdade eu tirava de letra. Fiz, por exemplo, a cobertura da primeira eleição direta realizada no país para governador, em 1982, desde o início do regime militar. No Espírito Santo, a coisa foi interessante. O fim do bipartidarismo (Arena e MDB), em 1980, fez surgir novas agremiações política - o Partido dos Trabalhadores, por exemplo - e assistiu ao renascimento de antigas siglas, como o PTB. A Arena virou PDS e o MDB, muito sabidamente, apenas acrescentou a letra P no início da nomenclatura.
Pois bem. Aí, o carimástico líder político Gerson Camata, que tinha sido vereador, deputado estadual e deputado federal pela Arena, optou, com certeza por suas convicções democráticas, em ir para o PMDB, sob protestos dos peemedebistas capixabas históricos, entre eles Max Mauro, que já vinha de longa data combatendo na trincheira oposicionista. Os dois foram para a convenção e quando foi anunciado o resultado, tendo sido escolhido o novo filiado, eu estava do lado de Camata. Os correligionários correram para abraçá-lo e ele pedia, sem ser ouvido: "Abracem o Max, vamos abraçar o Max". Final da história: o homem foi eleito governador.
Fiz o anúncio que o governador Eurico Resende (o último eleito indiretamente) não iria deixar o cargo para disputar a eleição, conforme permitia a legislação vigente naquele período. Já era noite e eu estava na redação quando o diretor responsável, Vladimir Godoy, me mandou ir para o Palácio Anchieta (sede do governo). Saímos, eu, o repórter cinematográfico e o iluminador/técnico de som, meio na carreira que até esqueci de colocar o paletó e a gravata. Chegamos lá, esperamos algum tempo (não tinha mais nenhum jornalista presente) e recebemos a Nota Oficial em que Resende anunciava sua decisão. Gravei meu texto, na ante-sala do gabinete do governador, e corremos para a emissora. O material foi editado e colocado no ar, num dos intervalos comerciais, naquela mesma noite, como notícia urgente.
Durante um período fazia entrevistas no estúdio. Era uma espécie de Jornal da Globo local e num dos blocos alguma personalidade era convidada para falar sobre temas de sua área. Geralmente o material era gravado à tarde. Gostava porque permitia mais liberdade para o debate de ideias, sem muita restrição de espaço. As pessoas podem achar que  30 segundos é pouco tempo, mas dá para falar um bocado de coisa. Experimente para ver. Imagine em cinco minutos, por exemplo.  
Depois que aprendi, fiquei craque em editar as reportagens nas novas ilhas de edição. Modéstia à parte, eu tenho um feeling bom para pegar um material bruto (que o repórter traz da rua) e colocar numa sequência lógica, onde apenas o essencial vai ao ar. Não raras vezes eu juntava o início de uma pergunta com o final de outra, quando havia planos de imagens (mais aberto, mais fechado) diferentes que assim permitissem, dando uma dinâmica que não parecia possível.
Falei em "vida de artista" no título porque na televisão, atualmente, e já naquela época se sentia isso, sem sombra de dúvida, tem uma penetração muito grande em todas as camadas da população. Eu sabia que era conhecido porque aparecia na TV, ouvia as pessoas falarem "olha aquele repórter da TV Gazeta". Com certeza acontecia com os outros jornalistas. Por isso é fácil entender porque alguns se envaidecem com essa aparente fama e querem ser mais importantes do que a notícia em si. Mas é um veículo ágil e que exige bastante desenvoltura do profissional, apesar do nível estressante da rotina.
Não é fácil você ficar naquela expectativa, vendo o locutor dentro do estúdio, o diretor de TV contando os minutos que faltam para o programa entrar no ar e acompanhar o texto de abertura das matérias, rodar os vts com as reportagens, voltar novamente para o locutor, tudo num sincronismo perfeito. Nada pode estar fora do lugar ou dar errado. Acredito que, mais do que na mídia impressa, o jornalismo televisivo é um verdadeiro trabalho de equipe.
Enfim, foi uma boa experiência. Mas até aqui mostrei apenas o que aparecia para o público externo. Tinha a questão interna, o relacionamento patrão-empregado, as reivindicações sindicais, os radicalismos mútuos e outras coisas mais que ficarão para uma próxima postagem. Aguardem.



sábado, 16 de abril de 2011

O amor é lindo

Nos meus meses de desemprego (vide "A antiga 'Tribuna'") conheci, através do meu primo Sérgio Larica Bomfim, atualmente residindo nos States, o acadêmico de Psicologia da UFMG, Renato Segovia Poncio, que estava de férias em sua cidade natal. Ficamos amigos. Comecei a frequentar o apartamento da família dele, onde moravam a mãe, Sara, que tinha ficado viúva, e as duas irmãs mais novas, Jussara e Renah.
Jussara estudava Belas Artes na Universidade Federal do Espírito Santo e tinha, na época, uns 22 anos. Eu, em torno de 20. Isso no começo de 1978. Desde o primeiro instante em que a vi senti que podia pintar um clima, para usar uma expressão mais atual, entre nós dois. Mas eu sempre fui muito tímido para esses assuntos de namoro. Em toda a minha vida, antes de casar, se tive três namoradas foi muito. Assim, não estava dando jogo.
Renato e eu gostávamos de jogar xadrez e essa era a desculpa que tinha para ir ao apartamento, principalmente nas horas em que sabia que ele não estaria lá. Eu queria era ver Jussara, obviamente. Aninha, uma moça que trabalhava na residência, abria a porta para mim e à pergunta "Renato está?" (que eu já sabia que não) me convidava para entrar e esperar. Depois ela nos contou que pensava: "Mas a Jussara está". E assim continuamos mais um tempo nesse vai-não-vai.
Eu senti que precisava, realmente, fazer alguma coisa, quando um dia, descendo, mais uma vez, a rua 7 (veja texto neste blog), ao chegar no trecho em que havia um calçadão, me deparei com Jussara vindo em sentido contrário, de óculos escuros, cabelos ao vento, linda, leve e solta. Meu coração disparou e eu percebi que estava apaixonado. Conversamos um pouco, ofereci carona e fomos para o apê da rua Eugênio Netto, onde ela residia.
Renato, Jussara e Renah foram criados naquele bairro e havia uma turma de jovens da mesma idade que sempre andava junta. Nesse dia, resolvemos tomar um sorvete no Luigi. O pessoal, já sabendo que eu e a Jussara estavámos de paquera, entrou no carro do Renato - Renah, Rosângela, Carla, Bequinho, Françoise. Ninguém queria ir com a gente. Assim, na minha Brasília fomos somente eu e ELA. Então, aconteceu.
Ficamos no carro conversando e, de repente, sem que nada tivesse sido planejado, fomos ficando mais próximos, pertinho um do outro e.....demos o primeiro beijo (suave e discreto, como manda a tradição). A partir daí, estávamos, perante todos, oficialmente, namorando. Com pouco mais de um mês eu já queria casar. Mas havia alguma resistência: a sogra. E, por incrível que pareça, a própria Jussara.
Aqui, cabe um parênteses: Jussara, quando tinha uns 16 anos, desenhou o rosto de uma pessoa com barba e usando óculos e disse que aquele seria o homem com quem ela se casaria. Comentário da mãe dela: "Nossa, que feio, parece um macaco". E eu era praticamente idêntico àquela visão (ao lado), pois usava uma barba ao estilo do velho Lula (do período em que alguns chamavam-no de "sapo barbudo"). Por isso, dona Sara, no início, não foi com minha cara nem com um anzol no olho. Fechar parênteses.
E Jussara, por sua vez, estava pensativa quanto ao assunto de casamento. Ela concluiu a faculdade e resolveu fazer uma viagem pelo Nordeste, desde a Ilha de Marajó (PA) até Salvador (BA). Quis ir junto, mas fui vetado. E ela foi, com a irmã e mais duas amigas. E eu fiquei curtindo minha saudade. Renato, meu futuro cunhado, neste meio tempo, soube que estava sendo procurado pela Polícia Federal, em Belo Horizonte, onde estudava, porque fazia parte de um grupo de esquerda na faculdade (lembrem-se, ainda era ditadura militar) que tinha distribuído uns panfletos contra o governo. E decidiu sair do país.
Para não ir sozinho, o cara quis porque quis me convencer a acompanhá-lo. A proposta me pareceu interessante, por um momento, mas eu não conseguia deixar de pensar na Jussara, no que ela estaria fazendo e quando chegaria. Renato insistia: "Não se preocupe, se for amor de verdade ela vai te esperar". Ainda bem que eu não fui, porque ele embarcou num navio cargueiro (cheio de minério de ferro) no Porto de Tubarão, que ia para a Itália, e levou 20 anos para voltar.
Graças a Deus, Jussara retornou antes. Após dois meses ela chegou e, para minha alegria, ainda gostava de mim, continuava sendo minha namorada e aceitou casar. Assim, no dia 16 de dezembro de 1978 (data de nascimento do meu pai) fizemos, na Igreja de Santa Rita de Cássia, os votos de amor eterno (fotos abaixo). Cumpre ressaltar que a noiva observou o atraso regulamentar, mas, fiquei sabendo depois, não porque estivesse se arrumando, mas sim porque queria desistir. Bom, o importante é que ela compareceu. Meus pais ofereceram uma recepção na casa deles, em Camburi. Em seguida, lua-de-mel, em Porto Seguro (BA), numa viagem de carro de pouco mais de 600 quilômetros, com pernoite em Conceição da Barra, na divisa entre os dois estados.
No retorno, iniciamos nossa vida conjugal no mesmo apartamento da rua Eugênio Netto, Praia do Canto, onde nos conhecemos. E já são, até aqui, quase 33 anos de matrimônio, três filhas e, por enquanto, uma neta.
Que vida boa!


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PS: Aviso aos navegantes: em dois textos anteriores - A Rua Sete de Setembro e A antiga Tribuna - foram adicionadas fotografias. Visualizem.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A antiga "Tribuna"

Tenho um amigo que não gosta de usar a palavra "antiga" ou "antigamente" porque, segundo ele, denota uma idade avançada da pessoa. Geralmente quando se diz, por exemplo, "antigamente era assim ou assado" o cidadão está demonstrando que já passou de meio século, o que, ainda de acordo com meu contemporâneo, pressupõe mais passado do que futuro, o que não é o meu caso, naturalmente.
Chamei, no título, o jornal "A Tribuna", da ilha de Santa Maria (que não é mais ilha), na Avenida Alberto Torres, em Vitória/ES, de antigo tão-somente para caracterizar que estou me referindo a alguma coisa vivenciada e acontecida há 30 ou 32 anos, grãozinho de areia se comparado com a eternidade. Trabalhei lá.
O matutino, que já existia desde 1938, foi comprado, no final da década de 1960 ou início dos anos 70, por um grupo empresarial pernambucano, fabricante de cimento, que havia montado uma indústria em terras capixabas. O herdeiro almejava galgar algum cargo político no estado e modernizou o jornal para alavancar sua eventual candidatura, que não se concretizou porque ele faleceu prematuramente. Foram feitos investimentos em recursos materiais e humanos. 
Eu havia chegado recentemente dos Estados Unidos, onde participei de um daqueles intercâmbios estudantis. Morei seis meses na casa de uma família norte-americana, na cidade de Davenport, Iowa. Estava desempregado, pois para viajar tinha saído de "A Gazeta". Devia ser o ano de 1975, pouco mais, pouco menos. Estava com 18 para 19 anos.
Recebi um convite para ingressar naquela redação e aceitei. Não me arrependo. Foi um dos períodos mais gratificantes e produtivos da minha vida jornalística, até aqui (sabe lá o que pode vir pela frente). Para começar, colocaram para capitanear o projeto o incansável Rubinho Gomes, um dínamo para produzir, uma verdadeira usina de ideias. O editor-chefe era Sérgio Egito (no meio da década de 1980 disputamos a presidência do Sindicato dos Jornalistas e ele ganhou). Compunha também aquela equipe Cláudio Bueno Rocha, o CBR, que trouxe do Rio de Janeiro sua vasta experiência, além de outros nomes expressivos do jornalismo capixaba. Trabalhava lá também um ícone de muitas gerações, Plínio Marchini, mas com funções executivas e com quem não tinha muito contato. E eu no meio daquelas feras.   
Não me lembro se já comecei direto na Editoria de Política, mas ali eu me diverti um bocado. Ainda vivíamos na ditadura militar e os partidos eram somente dois: Arena e MDB. Transitava entre a Assembléia Legislativa e o Palácio Anchieta (os prédios ficam de frente um para o outro), onde o governador (indireto) era Élcio Álvares, mais tarde senador e ministro da Defesa no Governo FHC, quando esse ministério foi criado.
A cobertura desses setores pelo concorrente era feita pela jornalista Maura Fraga. Tínhamos uma relação bem cordial, mas profissionalmente víviamos disputando quem conseguia "furar" o outro (epa, explicação: "furo" é, ou pelo menos era, uma gíria jornalística para notícia exclusiva). Era legal demais comparar as duas edições e ver quem tinha se dado melhor num dia ou noutro.
Apesar do excelente período vivido em "A Gazeta", de 72 a 74, com grandes amizades (os irmãos Carlyle "Nem" e Cláudio "Bagre" Simões, por exemplo) eu era muito novo, menor de idade, e não tinha meu caráter formado e nem experiência para me posicionar na vida. Em "A Tribuna", no contato com o mundo político, convivendo, escrevendo diariamente e compreendendo melhor sobre aquele período da história brasileira, quando o regime militar começou a dar seus primeiros sinais de enfraquecimento, adquiri convicções e posicionamentos muitos dos quais mantenho até hoje.
Ali, também, conheci melhor a produção de um jornal (lembrando que isto aconteceu no século passado). Muitas e muitas vezes eu chegava na redação, datilografava minhas matérias e ficava por ali acompanhando toda a edição, desde o fechamento das páginas, posteriormente a montagem, quando os textos, compostos nos tamanhos determinados pelos diagramadores, eram colados nos respectivos espaços. Via a revisão (hoje essa função - revisor - nem existe mais). Acompanhava o fotolito (fotografia das páginas prontas), a fixação daquele filme nas chapas de impressão, a colocação dos rolos de papel na impressora e a impressão propriamente dita. Ia para casa com o dia amanhecendo, com a edição novinha em folha na mão, como se fosse um pão quentinho recém saído do forno de uma padaria, com a vantagem de que ali eu tinha metido a mão na massa.
E neste ponto eu tenho que prestar uma homenagem ao meu professor nesse mundo além da redação: Ivan Alves Vieira Filho. Ivanzinho, designer gráfico, programador visual, artista plástico, poeta e, acima de tudo isso, uma pessoa muito especial. Tenho por ele uma sincera gratidão por todos os bons momentos que passamos juntos e gosto, quando vou a Vitória, de encontrá-lo para um bate-papo sem compromisso. Com certeza ele será personagem de outros acontecimentos que irei relatar neste blog.
Mas, dizem, que tudo que é bom dura pouco. Os donos do jornal acharam por bem fazer uma redução drástica no número de funcionários, em todos os setores, e meu nome constou na lista dos demitidos. Não sei porque, mas este fato ficou conhecido na categoria como "passaralho". Era final do ano de 1977, verão no sul maravilha, sol e calor. Saí da empresa com um bom dinheiro no bolso e resolvir curtir.
Incrementei (som, volante pequeno, rodas de magnésio) uma Brasília usada que meu pai me deu ao comprar um carro novo (parece que era uma Belina) e fui para a praia. Três meses na malandragem. E aí, nas voltas que o mundo dá, conheci Jussara.

Da esquerda para a direita: meu primo Sérgio Larica Bomfim, os jornalistas Cláudio "Bagre" Simões, Ivan "Ivanzinho" Alves Vieira Filho e eu. Foto tirada na casa (porão) da rua 7 (leia texto anterior) no aniversário de dois anos da minha filha Raissa, que aparece com um vestido vermelho (E).


quarta-feira, 13 de abril de 2011

A rua Sete de Setembro

Esse blog está se tornando uma coisa bastante presente nos meus pensamentos. Depois da postagem, deitado em meu quarto, as ideias fervilham sobre os próximos temas. Hoje, me veio na memória falar um pouco sobre a rua Sete de Setembro, que subi e desci inúmeras vezes. Peço vênia, portanto, para fazer uma pausa nas minhas reminiscências jornalísticas. Voltarei ao tema brevemente, porque a viagem está apenas começando.
A rua 7 sempre foi uma referência para mim. Lá moraram, desde que se casaram, num casarão do número 407 (ou será 415?), próximo à sede de "O Diário", meus avós paternos, Filogônio ("Filó") e Valentina ("Valu") Pacheco. Na foto acima, meu avô aparece ao lado de meu pai. O pé direito tinha mais de 5 metros e as paredes, largas, eram de pedras (retiradas do próprio terreno), fixadas com óleo de baleia (pelo menos assim me contaram quando eu era menino). Lá dentro a temperatura era sempre agradável, mesmo que fora estivesse quente ou frio. As paredes internas eram ilustradas com pinturas variadas como não vi em nenhum outro lugar. Chegava-se à porta principal por uma escadaria estilo palaciano, que dava acesso, ainda, à varanda e a um lindo caramanchão cheio de gaiolas com pássaros.
No jardim, com direito a chafariz e pequenos peixes, flores e frutíferas (jabuticabeira, mangueiras, caramboleira - minha preferida) faziam sombra para a pequena oficina que meu avô tinha. Nunca fui muito chegado a martelos, serrotes e similares, mas gostava de um enorme disco de metal cheio de furos que, acionado por uma manivela, emitia sons musicais. O fundo do quintal era ocupado por um galinheiro, que ficava encostado no restante da pedreira que antes havia no lote.
O porão era tão grande que, posteriormente, o meu avô fez outra casa naquele local, com uma ampla sala, três quartos, cozinha, dois banheiros e demais dependências. Só tinha um defeito: quando chovia forte, a enxurrada que vinha do morro da Fonte Grande, bem pertinho, alagava parte da moradia. Gostava muito de ficar ali, apesar do barulho dos bondes (a garagem deles era quase em frente) e da convertidora (hoje é o prédio da Escelsa). Chamava-se assim, segundo explica Edson Quintaes, num artigo disponível no endereço http://www.morrodomoreno.com.br/, porque recebia a luz elétrica na forma "corrente alternada" e "transformava" para "corrente contínua" para alimentar a linha dos bondes.
Neste endereço morei durante três momentos da minha vida. A primeira vez foi quando nós, meus pais - Renato José Costa Pacheco (tenho que me preparar melhor para escrever sobre ele) e Clotilde Cercília Bomfim Pacheco (ela vai me deserdar quando ler o nome dela aqui) e meus irmãos, viemos de Colatina. Meu pai era juiz e havia sido promovido para Vitória. Ficamos ali enquanto ele construía uma residência própria, na rua Antônio Basílio, 40, praia de Camburi (a primeira naquela região).
Depois de casado, passei uma temporada na rua Eugênio Neto, praia do Canto, e, em seguida, fui com Jussara (minha companheira há 33 anos) residir naquele endereço. Minhas duas filhas mais velhas, Raissa e Taís, também viveram ali. Da rua 7 foi que vim para Rondônia. Ali, me lembrei agora (olha o jornalismo novamente), fazíamos as reuniões do grupo que venceu as eleições no Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo tendo Tinoco dos Anjos (salve, companheiro) na presidência.
E o terceiro período, na verdade foi o segundo. Trabalhava, durante o dia, em "A Gazeta". À noite, fazia o 3º ano científico (assim chamado na época) no Colégio Salesiano. A casa de Camburi, que ainda era um local relativamente ermo, já estava pronta, mas, por questões de segurança, ficava de segunda a sexta-feira com meus avós, no casarão da rua Sete. De lá até a rua General Osório, onde estava sediado o jornal, passando pela Cidade Alta, era uma caminhada de uns 10 minutos. Ia e voltava para a escola de ônibus e quase diariamente, no retorno, parava na Lanchonete 7 (ou Lanches 7?) para comer um "brotinho" (atenção maldosos, era o nome de uma pizza pequena). Me sentia dono do mundo, totalmente independente.
O centro da cidade - praça Costa Pereira, com suas palmeiras imperiais, o Teatro Carlos Gomes, o Cine Glória e, um pouco mais distante, a praça Oito - fazia parte, também, do meu cotidiano. Era freguês assíduo dos locais que vendiam caldo de cana com pastel. Gostava de passar em frente ao Palácio Anchieta, sede do governo estadual, e, do alto das escadarias que davam acesso à avenida Jerônimo Monteiro, ver o movimento no cais do porto.
Eu, que passei quase toda minha infância e começo da juventude no interior (entre São Mateus, Conceição da Barra, Santa Leopoldina, Guaçuí, Alegre e Colatina), por causa da carreira na Magistratura do meu pai, estava meio que deslumbrado pela cidade grande (e Vitória nem era tão grande assim). Mas era meu mundo, e nele cabiam todos os meus sonhos e esperanças.

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P.S.: meu amigo de longa data (mais de 30 anos), o jornalista Rubens Gomes, dos mais competentes e criativos que já conheci, propos que o blog passe a se chamar BLOGUEIRO DO VELHO PORTO. Se pelo menos um dos meus dois insistentes leitores aprovar a proposta, ela será, então, democraticamente aceita. Aguardo os comentários.


terça-feira, 12 de abril de 2011

Começar é que são elas

Nos meus tempos de "foca" (não é uma encarnação que eu tive desse animal, é o repórter novato) a maior dificuldade que eu tinha era começar o texto de alguma reportagem, ou seja, fazer o "lead", o primeiro parágrafo, respondendo às famosas perguntas: o que?, quando?, onde?, como? e por quê? Naquela época, o início deveria ter no máximo sete linhas e dar logo as informações principais, porque se houvesse algum "estouro", ou seja, na montagem da página a notícia não coubesse no espaço que o diagramador tinha calculado, a reportagem seria "cortada pelo pé" (parte final). E aí o leitor poderia ficar sem saber de algum detalhe importante.
Hoje, ao me sentar na frente do computador para fazer esta segunda postagem, me lembrei disso aí, porque fiquei pensando no que escrever e de que maneira iria iniciar este comentário. Mas, a exemplo daqueles meus primórdios na profissão, adolescente ainda, após as primeiras linhas as outras vêm com naturalidade, numa sequência lógica e a vontade é teclar sem parar. Aliás, eu gostava de escrever matérias que rendessem cinco, seis laudas ou mais.
Esse exercício que me propus a fazer (hoje parece que estou escrevendo mais para mim mesmo do que para algum eventual leitor ou leitora) propicia emergir na minha memória lembranças de acontecimentos e jornalistas que me deram as primeiras dicas, dentre eles, por exemplo, Francisco Flores, o popular "Chico Flowers", Selmir Cícero de Miranda e Jackson Lima, o trio que comandava a redação de "A Gazeta" naquela longíngua década de 1970. Outros vieram, é claro.
Me lembro que eu chegava nos lugares e as pessoas não botavam muita fé como é que aquele rapaz de 15 anos tinha a coragem de se apresentar como repórter do maior jornal da cidade. Mas para mim era o máximo. Devo explicar que fui contratado através de um concurso (com provas de conhecimentos gerais e redação) que o matutino promoveu. Dos 10 ou 15 que participaram ficamos eu e Zuleika Savignon.
Minha primeira notícia publicada, em três colunas (um destaque razoável, pois a página do jornal tinha oito colunas), foi sobre a implantação, em Vitória, do sistema DDD - Discagem Direta à Distância, que dispensaria o auxílio da telefonista para ligações interurbanas. Isso é que é progresso. Mais na frente, já sob a direção de Marien Calixte e Rogério Medeiros, assinei uma matéria sobre como dirigir economizando combustível, pois eram dias de racionamento do petróleo.
Marien, sempre elegante, pediu-me que determinasse a maneira pela qual assinaria o texto - Rodrigo Pacheco ou Rodrigo Bomfim Pacheco - explicando-me que precisava definir como seria conhecido ao longo da carreira. Escolhi a primeira opção. Já entre os colegas, em face da minha juventude, era chamado de "Pachequinho". E aí foram mais algumas centenas (ou milhares) de linhas escrevendo sobre tudo: política, esporte, economia, polícia, geral etc e tal. Durante um ano ou dois, tudo que escrevia e era publicado eu recortava e colava nas folhas de um caderno para desenho. Guardei um bocado deles, mas sumiram, posteriormente. Nem imagino qual era meu objetivo em fazer aquilo, além, é claro, da imensa satisfação de saber que aquele espaço no jornal era de minha autoria. Cada doido com sua mania, né mesmo?
Bom, estou esticando muito o assunto e, por isso, acho melhor fazer uma pausa por aqui. Amanhã continuarei.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Entrando em campo

Pois é, o que faz um jornalista (registro profissional 095 DRT/ES) saudoso das redações? O jeito é escrever.
Depois de mais de dez anos afastado da profissão na qual iniciei em 1972 (virei servidor público, pode?), resolvi, incentivado pela minha família, fazer este blog. Sou um neófito neste assunto e não tenho muita ideia da maneira que funciona, mas como provavelmente ninguém lerá, servirá, pelo menos, para desafogar a vontade de digitar nas pretinhas (sem nenhum preconceito), como se dizia antigamente em referência à cor das teclas das velhas máquinas de escrever Remington (tenho uma aqui em casa, lembrança do meu saudoso avô Filogônio Pacheco).
Comecei no jornal "A Gazeta", de Vitória/ES, na antiga sede da Rua General Osório, onde ainda se usava os linotipos a chumbo. Posteriormente veio a chamada "composição a frio", um avanço sem igual. Trabalhei também em "A Tribuna" e na "TV Gazeta". Na época, as reportagens, gravadas em filmes de 16 mm, tinham edição feita na moviola. As emendas eram feitas com durex. Os primeiros vts que chegaram eram enormes e a equipe, além do repórter, tinha mais três pessoas, salvo engano, só para carregar o equipamento. Bons tempos, né mesmo?
Tive experiência no âmbito sindical, vivenciei o início do "Vitorianews" (semanário de distribuição gratuita) e vim para Porto Velho/RO em 1985, onde resido atualmente. Aqui fui repórter, editor e editor-chefe do "Alto Madeira". Trabalhei, ainda, na Secretaria de Comunicação do Governo do Estado de Rondônia, sendo governador o atual senador Valdir Raupp, e na Assessoria de Comunicação da Justiça Federal, da qual, hoje, sou funcionário concursado mas atuando no setor jurídico, uma vez que me graduei no curso de Direito. 
Esse primeiro texto é apenas uma pequena apresentação. Espero ter disposição para escrever diariamente sobre assuntos os mais diversos possíveis e dentro da minha modesta capacidade. Estou um pouco enferrujado mas nada como um bom exercício mental para que a nunca esquecida emoção de "juntar" palavras flua novamente como uma extensão dos meus dedos, expondo sentimentos e informações. Na foto abaixo, minha aparência atual e a minha neta Alice, grande alegria dos meus dias.
Por hoje é só, inté!