Estava eu cuidadosamente pingando uma
gota de óleo essencial num pedaço de pão quando minha filha caçula perguntou o
que estava fazendo.
Após concluir o minucioso procedimento,
expliquei que era uma recomendação da minha filha do meio para que usasse aquele
produto diariamente, mas tão somente uma gota, com o objetivo de aumentar minha
imunidade e vigor físico.
Passados uns dias, a conversa girava em
torno de velhice, cuidados e atenções especiais que os idosos necessitam. Aí foi
a vez da minha primogênita avisar que quando eu estivesse sob os cuidados dela
teria que obedecê-la em tudo e por tudo, sem contestações.
Fiquei, então, a imaginar – e vendo, na
prática, o que hoje acontece com minha mãe, aos 96 anos de idade – que a vida
não passa de um ciclo, onde sempre necessitamos uns dos outros. Crianças
sobrevivem, principalmente, por conta do amparo maternal; os da terceira idade,
muitas vezes, dependem de filhos e/ou cuidadores para praticamente todas as
necessidades. É a volta do retorno.
Neste mundão de meu Deus tudo tem início
e fim, nos vários ciclos naturais que se projetam ao longo dos séculos e por
toda a eternidade. Não sei se um dia haverá um rompimento dessa espiral, onde
chegaremos à conclusão dos tempos com a vitória do Bem sobre o Mal e a
sequência de vida/morte/vida será interrompida finalmente.
O compositor João Correia, em Jardim
da Saudade, representou esta dicotomia muito bem: “Tudo na vida se
acaba,/Tudo na vida tem fim./As flores morrem depressa,/Quem fica mais tempo é
o Jardim./Podem nascer outras flores/Porém também morrerão,/No fundo tudo é
tristeza/Saudade e desilusão./Representamos as flores,/O mundo é o Jardim da
Saudade./Embora alguém desconheça/Esta é a grande verdade./Não adianta o
orgulho,/No mundo ninguém ficará./Até o próprio Jardim/Um dia também passará”.
Pois é.....E vou logo avisando: mesmo
que eu me torne ancião, ou chegue até à velhice extrema (acima de 90 anos,
segundo a Organização Mundial de Saúde) não vou aceitar nenhuma menininha de
apenas 60 e poucos anos de idade querendo mandar em mim. Cresça e apareça, ora
bolas.
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