sábado, 12 de novembro de 2022

Volta do retorno

 


        Estava eu cuidadosamente pingando uma gota de óleo essencial num pedaço de pão quando minha filha caçula perguntou o que estava fazendo.

 

        Após concluir o minucioso procedimento, expliquei que era uma recomendação da minha filha do meio para que usasse aquele produto diariamente, mas tão somente uma gota, com o objetivo de aumentar minha imunidade e vigor físico.

 

        Passados uns dias, a conversa girava em torno de velhice, cuidados e atenções especiais que os idosos necessitam. Aí foi a vez da minha primogênita avisar que quando eu estivesse sob os cuidados dela teria que obedecê-la em tudo e por tudo, sem contestações.

 

        Fiquei, então, a imaginar – e vendo, na prática, o que hoje acontece com minha mãe, aos 96 anos de idade – que a vida não passa de um ciclo, onde sempre necessitamos uns dos outros. Crianças sobrevivem, principalmente, por conta do amparo maternal; os da terceira idade, muitas vezes, dependem de filhos e/ou cuidadores para praticamente todas as necessidades. É a volta do retorno.

 

        Neste mundão de meu Deus tudo tem início e fim, nos vários ciclos naturais que se projetam ao longo dos séculos e por toda a eternidade. Não sei se um dia haverá um rompimento dessa espiral, onde chegaremos à conclusão dos tempos com a vitória do Bem sobre o Mal e a sequência de vida/morte/vida será interrompida finalmente.

 

        O compositor João Correia, em Jardim da Saudade, representou esta dicotomia muito bem: “Tudo na vida se acaba,/Tudo na vida tem fim./As flores morrem depressa,/Quem fica mais tempo é o Jardim./Podem nascer outras flores/Porém também morrerão,/No fundo tudo é tristeza/Saudade e desilusão./Representamos as flores,/O mundo é o Jardim da Saudade./Embora alguém desconheça/Esta é a grande verdade./Não adianta o orgulho,/No mundo ninguém ficará./Até o próprio Jardim/Um dia também passará”.

 

        Pois é.....E vou logo avisando: mesmo que eu me torne ancião, ou chegue até à velhice extrema (acima de 90 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde) não vou aceitar nenhuma menininha de apenas 60 e poucos anos de idade querendo mandar em mim. Cresça e apareça, ora bolas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário