quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Aparências

 


        O uso de máscaras está caindo mais rápido do que manga madura do pé. Depois de um longo e tenebroso inverno, quase ninguém mais usa o anteparo que era moda durante os anos de auge da pandemia do novo coronavírus. Apenas nos ambientes médico-hospitalares ainda é exigida a utilização do pedaço de pano execrado por uns e exaltado por outros.

 

        Polêmicas à parte, me parece interessante observar a diferença que faz ver somente os olhos de uma pessoa ou o rosto inteiro. A moça que trabalha na padaria: imaginava, ao vê-la com máscara, que a feição dela fosse de um jeito. Para minha surpresa, ao me deparar com ela sem máscara, visualizei uma imagem totalmente diferente. E assim com outros também.

 

        É certo que a frase atribuída a Jesus (“as aparências enganam”) tem uma conotação mais espiritual do que material, mas não posso deixar de me lembrar dela quando encontro alguém que conheci usando máscara e agora o vejo de “cara limpa”. Neste sentido, ouso dizer que os olhos são os mais importantes no contexto de “ver” sem julgar os demais componentes (boca, nariz), dentro de um conceito que cada um tem de “beleza”.

 

        Um olhar por cima de uma anteface é capaz de emitir uma luz que nem sempre é percebida quando não se usa aquela proteção. Ao vislumbrarmos um semblante completo, os detalhes se perdem no conjunto, e um apêndice nasal grande pode contribuir para um conceito de “feiura”, da mesma maneira que uma cavidade bucal desproporcional, por exemplo.

 

        Mas como tudo tem seu lado positivo, acredito que o período mascarado contribuiu para que o “olho no olho” fosse uma constante. Assim, ressurgiu um modo de se comunicar que estava deixando de ser comum, pois predominavam as cabeças baixas e olhadas atravessadas. Doravante, quem sabe, o contato visual servirá para sermos mais sinceros e amorosos ao nos fixarmos no lume que todos emanamos.

 

         Daí é dito: “A luz do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!” (Sermão da Montanha, Evangelho segundo Mateus, capítulo 5).

            Foquemos, pois, positivamente, na bondade e na Luz Divina.

 

 


terça-feira, 16 de agosto de 2022

Vida a dois

 


        Hoje, 16 de agosto, minha esposa, companheira, amada, salve, salve e tudo o mais de bom, está aniversariando. Nasceu no ano de 1955, na cidade de Vitória/ES, fazendo, então, nesta data, a provecta, mas nem tanto, idade de 67 anos.

 

        Quando nos casamos, em 16 de dezembro de 1978, ela tinha 23 anos e eu 21. Mais quatro meses e comemoraremos 42 anos de uma existência em comum, com três filhas e três netos (duas meninas e um menino), até agora. Razoável, né mesmo?

 

        Entre alto e baixos, dificuldades, pelejas, discussões e momentos “o amor é lindo”, acredito, do meu ponto de vista, que o saldo é extremamente positivo. Ninguém passa impune por mais de quatro décadas morando debaixo do mesmo teto. O jeito de um e o de outro acaba se moldando numa amálgama bíblica que, se ainda não é perfeita, caminha nesta direção.

 

        Contudo, algumas coisas dizem respeito à individualidade, pois nós, seres humanos, somos diferentes e temos, digamos, nossas próprias manias, um jeito peculiar de ser. Por exemplo: conversando com amigos, dias desses, minha querida sexagenária comentou que, ao ver dela, eu falo pouco aquelas três palavrinhas que nos filmes românticos de Hollywood e adjacências são, geralmente, sussurradas à meia-luz.

 

        As demais dignas representantes do sexo feminino presentes manifestaram apoio inconteste. Acho até que o singelo comentário deve ter causado algum reboliço em lares vizinhos, pois quer me parecer que o suave reclamo da minha mulher encontrou respaldo em outros corações românticos. Quão duro é aquele importante músculo do sistema cardiovascular masculino.

 

        Peça vênia para apresentar uma pequena defesa. Sou uma pessoa prática. Acredito no fazer. A teoria, às vezes, me incomoda. Assim, entendo que atitudes outras podem, muito bem, demonstrar a existência de um sentimento profundo comprovando a união dos casais sem a necessidade de declarações romantizadas pela mídia. Carinho e respeito mútuo provam isso.

 

         Mas, para não dizerem que sou insensível e que tenho a compreensão bruta, aproveito este espaço, e atendendo conselhos de alguns, ainda, poucos, mas fiéis leitores(as), digo aqui em público, com todo o estardalhaço que a palavra escrita permite, em alguns dos mais variados idiomas existentes: EU TE AMO (português), I LOVE YOU (inglês), ICH LIEBE DICH (alemão), ANA BEHIBEK (árabe), NGO OI NEY (chinês), TE AMO (espanhol), JE T"AIME (francês), ALOHA I"A AU OE (havaiano), TI AMO (italiano), AMO-TE (português lusitano), TECHIHHILA (sioux), MENA TANDA WENA (zulu), YA TEBYA LIUBLIU (russo), KIMI O AI SHITERU (japonês) e EGO AMO TE (latim antigo).

 

        Ufa! Nem doeu, mas é suficiente por algum tempo.

 

Seja feliz, meu amor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Saber viver

 


        Tem gente que me acha uma pessoa simpática, mas acredito que seja significativa minoria em relação àqueles com quem tenho contato, principalmente quando o relacionamento social é fugaz.

 

        Aí vem um amigo, um tanto desavisado, quer me parecer, perguntar sobre a origem da palavra “cortês”, que significa demonstração de cortesia, que se expressa com gentileza, que é gentil e educado (www.dicio.com.br).

 

         Cortês, diga-se de passagem, é diferente de corte, apesar da raiz comum, cujo uso com acento circunflexo caiu em desuso após a vigência do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. A palavra corte possui vários significados, podendo ser pronunciada com a vogal aberta (ó), no caso de uma lesão, por exemplo, ou com a vogal fechada (ô), referindo-se aos integrantes de uma realeza, que estão próximos de um rei ou rainha.

 

        Voltando, então, ao tema. Segundo o site www.origemdapalavra.com.br, cortês “veio do Latim cors, originalmente “lugar cercado”, o que levou depois ao significado de “os que estão num pátio, companhia” e depois ainda “corte” – aqueles que estão nas cercanias do poder real. Esperava-se também destas pessoas que tivessem maneiras refinadas e superiores”.

 

        Esse adjetivo de dois gêneros, portanto, tem, na sua origem, ligação com corte, quando usado no sentido de se referir ao lugar onde um rei reside, assim como aos integrantes da Casa Real. Do ponto de vista religioso cristão, existe a Corte Celestial, que é conjunto dos anjos e santos que estão à volta de Deus.

 

        No livro do Apocalipse, capítulo 4, o apóstolo João relata que na Corte Celestial encontra-se um arco celeste e 24 tronos, onde se sentam anciãos ao redor de Deus, todos vestidos de branco e com coroas de ouro. O profeta Ezequiel os chama de querubins. Para alguns, compõem uma espécie de tribunal divino, pronto para aplicação da justiça quando chegar o tempo do Armagedom.

 

        Dessa maneira, a prática do respeito e da cortesia entre nós, seres humanos, é fundamental para que, na presença do Pai Superior, possamos ser julgados por atos e palavras garantidoras de crédito suficiente para que os pratos da balança pesem a nosso favor. Em caso contrário, depois que o fogo purificador tornar cinzas tudo que não presta, imaginem se não sobrar nada de bom. E aí.....já era.

 

        Então, amigo, ser cortês, e todos os outros bons praticados inerentes, nos faz merecedor de integrar a Corte Celestial. Ser cortês/educado é uma demonstração de amor ao próximo, um dos pilares essenciais para quem acredita que somos todos irmãos e a Humanidade é uma só.

 

        Dai-me, Senhor, condição de tratar melhor meus semelhantes.