domingo, 30 de maio de 2021

O Mar

 


Não faço a mínima ideia

Do que irei escrever nesse texto

Afinal, o espaço é pouco e o mar so big

Que não cabe dentro desse contexto

 

Poemas não são minha praia favorita

Mas tenho que admitir que essa imensidão

Inspira poetas e cantadores em busca de rima

De histórias de pescadores com amor no coração

 

Minha mulher gosta de nadar todo dia

Sempre se encanta com essa beleza

E o vai e vem das marés, como se trazendo

Eternamente renovação, vida e grandeza

 

A exemplo do tempo, as marés chegam e passam

Às vezes calmas, às vezes agitadas

Uma hora cheias, em outras, vazias

Mas nunca indiferentes ou igualadas

 

Existem feitos heroicos, de bravuras

Desde tempos antigos e esquecidos

Daqueles que em longas aventuras

Mereceram ser por nós agradecidos

 

Ninguém sabe quem foi o primeiro

A enfrentar tanta água e mistério

Mas desde então ficou costumeiro

Navegar por esse mundo etéreo

 

Vou ficando por aqui

Declamando minha homenagem

A esse tema que evoluiu

Esperando não ter dito bobagem

 

 

 

 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Hippies...ainda existem

 

         O entardecer na praia do Morro nesses dias que antecedem o inverno estão particularmente esplendorosos.

 

         O mar, naquela cor ciano entre o verde e o azul, convida para um mergulho, principalmente quando o vento sul não está assobiando entre os prédios que ocupam a orla como se fossem gundans de concreto e vidro dos animes japoneses.

 

         Famílias inteiras, idosos e jovens, uns correndo, outros nem tanto, apreciam o visual e aproveitam para inalar aquele ar salgado que a maresia espalha. Uma perfeição natural próxima do paraíso, se não fosse a intervenção humana, pelo menos daqueles desavisados que acham que o mundo tem como centro o próprio umbigo.

 

         Por exemplo. O grande calçadão tem pista específica para ciclistas e um espaço próprio para pedestres. E o que acontece? Caras de pau de todas as idades ocupam a área dos passantes com suas bicicletas, alguns até pedalando em alta velocidade, como se estivessem disputando uma prova contrarrelógio em algum velódromo olímpico.

 

         Mais um. Placas diligentemente colocadas pelas autoridades municipais indicam a proibição de futebol na areia da praia, uso de aparelhos de som e passeios com cachorros. Muito bom na teoria. Na prática, o que se vê? Bolas e mais bolas alçadas despreocupadamente, caixinhas estremecendo com tantos agudos e caninos variados despejando excrementos entre um latido e outro.

 

         Não é fácil lidar com gente, principalmente gente mal-educada, que faz dos espaços públicos um local de demonstração da sua incapacidade de convivência social, o que, na atual conjuntura, não é de se estranhar, considerando os (maus)exemplos que algumas “otoridades” estão dando em relação às situações atuais enfrentadas pelo país.

 

         Mas, voltando ao que me motivou a escrever essa crônica: os hippies da praia do Morro. Sim, eles ainda existem. Mais ou menos uns cinco ou seis, entre homens e mulheres, com seus longos cabelos e vestimentas cheias de franjas, estavam ali, vendendo artesanato variado e mantendo viva, ainda que precariamente, a chama radiante do movimento dos anos 60/70 que, nascido nos Estados Unidos, defendia a ruptura com o status quo e a prática da paz e do amor.

 

         É até, digamos, interessante esse sentido utópico de liberdade individual, inexistindo amarras familiares ou laborais, percorrendo estradas sem destino. As coisas, porém, na minha modesta opinião, não são estáticas, apesar de Belchior ter cantado que “ainda somos os mesmos/e vivemos como os nossos pais”, o que, para os hippies, deve ser uma afronta.

 

         Contudo, nada contra, pois cada um tem o direito de fazer o que quiser da própria vida, pelo menos depois que tiver um mínimo de discernimento para tal. Mas vendo aqueles jovens ali no calçadão, fico imaginando que perspectiva o futuro reserva para eles. Voltarão à casa paterna em busca de socorro? Ou serão mais uns vivendo da caridade alheia e dormindo em bancos de praças? Mas até que eles pareciam alegres e convictos da opção que fizeram. Piores são aqueles, nas grandes cidades, sem escolas, com fome e entregues à própria sorte, o que, muitas vezes, leva ao desespero e ao crime. Até quando? Ninguém sabe.

 

         Ai, ai, Brasil, mostra a tua cara.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Um conto fantástico (*)


Eu estava numa floresta, mas não tinha a mínima ideia de como tinha ido parar lá.

 

De repente, percebi que havia um bicho saindo de um riacho próximo do local onde me encontrava. Olhei bem e vi que era uma preguiça, tamanho médio, com unhas enormes e aquela cara de quem estava com.....preguiça. Lentamente, arrastou-se na minha direção, e ouvi uma voz fina e tranquila dizer: "Não tenha medo. Não vou lhe fazer mal". Procurei quem falava. Para minha surpresa, era a preguiça. "Sim, sou eu", afirmou, balançando a cabeça e ficando à minha frente. "Não sabia que animais falavam", disse para puxar assunto e entender o que estava acontecendo.  

 

- Sim, falamos, mas não são todos que querem nos ouvir".

 

Estendendo a pata peluda em minha direção, perguntou: "Quer passear?". Pensei em recusar, mas naquela situação não fazia muita diferença. Segurei na “mão” do bicho e, num instante, voávamos mansamente sobre a floresta. Abaixo de nós, víamos a vegetação, outros animais e, também, enormes áreas queimadas, devastadas, espaços vazios onde a vida estava se extinguindo. Percorremos grandes distâncias em poucos segundos.

 

Na volta ao ponto inicial da jornada, a preguiça, em tom de despedida, disse: "Essa é a nossa casa que está sendo destruída. Nos ajude a preservá-la. Fale com seus amigos e amigas. Seja a nossa voz”. Abraçou o tronco de uma árvore e iniciou a escalada para os galhos onde iria passar a noite.

 

E eu? Bem, acordei. Foi tudo um sonho, mas toda a vez que me lembro paro para pensar: o que posso fazer para ajudar a minha amiga preguiça?

 

 

(*) Texto de autoria de minha neta Alice Pacheco Fernandes, 12 anos, para um trabalho escolar.

domingo, 9 de maio de 2021

Dia das Mães

 


         Eis que o segundo domingo de maio chegou. Após dois dias de intensas chuvas e vendavais, o céu refulge no espaço infinito anunciando a volta do Sol, quem sabe para também homenagear aquelas que, conforme se sabe, só existe uma, pelo menos biologicamente falando.

 

         Nessa manhã de suave brilho característico do período outonal, famílias inteiras segregadas pela pandemia tentam reativar, mesmo que virtualmente, laços de união anteriormente menosprezados, aflorados por conta da distância física forçada e impulsionados pelo medo causado pela notícia de mais de 400 mil perdas.

 

         Aqueles já vacinados e mais confiantes (ou mais afoitos) organizam um café da manhã reforçado ou o tradicional almoço especial, onde filhos e netos, genros e noras fazem loas à rainha do lar, para usar uma expressão tradicional do século passado.

 

         Tudo muito bem, tudo muito legal. A exemplo do Natal, o Dias das Mães, em tempos mais recentes, foi caracterizado como uma data comercial, o que não deixa de ser verdade, mas podemos, a meu ver, relevar esse aspecto. Essas, digamos, efemérides servem para dar um destaque a pessoas ou situações que, na correria cotidiana, passam desapercebidas, pois a rotina tende a banalizar ou se dar menos importância àquilo que merece nossa atenção.

 

         Mas o que se deve reconhecer, sem dúvida, é que a mulher que se dispõe a carregar em seu ventre, durante meses, o embrião/feto, desde a concepção até o nascimento, de um novo ser, demonstra um ato intenso de doação inigualável, comparável ao amor divino. E depois toda aquela dedicação, cuidado e paciência num trabalho que parece que não termina nunca.

 

         Fico imaginando quão árdua era a labuta daquelas senhoras que tinham filhos e filhas praticamente sem intervalo entre uma gravidez e outra, gerando dez, doze ou mais crianças. E de outras que não abandonam descendentes com alguma deficiência, seja física ou mental. Não é brincadeira, não é para ser esquecido.

 

         Talvez, por isso, é que já cantaram: “Verdadeiro amor/que se tem na vida/só existe um/é o da nossa mãe querida (Mãe é sempre mãe, Bezerra da Silva).

 

         Que a sublime mãe do Verbo Encarnado, a Virgem da Conceição, cubra a todas essas abnegadas com seu manto de candura e luz, agora e sempre.

 

         Feliz Dia das Mães!

domingo, 2 de maio de 2021

Mês de maio

 


         Tão silenciosamente como se fosse um Arsène Lupin, imortal criação do escritor francês Maurice Leblanc, quando entrava em palácios e mansões para fazer seus roubos, o mês de maio tomou conta do calendário e passou a fazer parte dos nossos dias.

 

         Junto com ele trouxe uma frente fria, chuvas e muitas nuvens encobrindo a luminosidade solar. Mês de Maria, mês das mães e diversas outras efemérides. Na Europa, por exemplo, maio é o mês das flores, em celebração à chegada da Primavera no hemisfério norte dessa nossa Gaia de imensidão azul.

 

         Em 3 de maio é comemorado o Dia Internacional do Sol, não sei bem o motivo (as explicações do Dr. Google não me convenceram), mas talvez seja porque “a luz do Sol entrouPela janela e convidouPra tarde tão bela e sem calorÉ mês de maio, saio e vou ver o Sol se pôr (Mês de maio, Almir Sater e Paulo Simões).

 

         O segundo domingo, todo mundo sabe, é o Dia das Mães, data em que nos tempos anteriores à pandemia os comerciantes exultavam com tantas vendas, somente inferiores à movimentação natalina. Muitas senhoras, inclusive minha filha mais velha, acham que filhos e filhas devem lembrar de suas genitoras diuturnamente, o que faz sentido, mas nada impede uma comemoração específica, mesmo com alguma despesa, ou melhor, investimento na consolidação de um sentimento fraterno. E ainda temos o Dia Internacional da Mulher, a 8 de maio.

 

         Pulei, sem querer, o Dia do Trabalhador, logo nas primeiras vinte e quatro horas do mês, que também comemora a instituição, pelo ex-presidente Getúlio Vargas, do salário mínimo brasileiro, que hoje é tão pequeno que está quase sumindo engolido pela inflação e por outras manipulações econômicas que de tão contumazes já são aceitas como se fossem necessárias.

            O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é celebrado a 3 de maio. A data foi criada em 20 de dezembro de 1993, com uma decisão da Assembleia Geral das Nações Unidos, e exalta o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, marcando ainda o Dia da Declaração de Windhoek, feita com jornalistas africanos em 1991 reafirmando os princípios da que norteiam o trabalho desses profissionais, entre os quais me incluo.

         O fim da escravidão no Brasil, pelo menos formalmente, está assinalado na folhinha no dia 13, quando, em 1888, a Princesa Isabel, exercendo a Regência Imperial, assinou a Lei Áurea. Trocaram-se os grilhões metálicos pelas amarras da desigualdade social, mas não vamos nos preocupar com isso agora. O momento é lúdico, não deixemos que preocupações mundanas quebrem o clima.

 

         Temos também o Dia Mundial da Língua Portuguesa (5), Dia Internacional da Família (15), Dia Nacional da Adoção (25) e inúmeras outras opções para todos os gostos, inclusive o Dia da Decoração (30), Dia do Silêncio (7), Dia da Cozinheira (10), Dia do Revendedor Lotérico (26) e até o Dia Mundial da Higienização das Mãos (5), muito importante em tempos de coronavírus.

 

         Bom, desculpem as divagações. Queria mesmo falar que “azul do céu brilhou/ Mês de maio enfim chegou/Olhos vão se abrir pra tanta cor/É mês de maio, a vida tem seu esplendor” (Mês de maio, Almir Sater e Paulo Simões).

 

         Que o fardo nos seja leve.