Morar
em república estudantil não é brincadeira. O cara vive longe de casa e tem que
se virar nos trinta em muitas coisas, inclusive no que diz respeito à
alimentação.
Naquele final de tarde, a fome apertou
mais do que abraço de mãe. O jeito foi improvisar. Inicialmente, só para
começar, dois cachorros-quentes com bastante molho. Para desentalar, um litro
de ki-suco bem gelado, aquele que mudava de cor, mas não de sabor.
Depois, a título de sobremesa, uma
panela de pipoca com leite condensado, receita inventada entre a galera e que
era tudo de bom.
Com a barriga cheia já podia ir dormir,
pois no dia seguinte tinha aula cedo. Só que não. Acordou de madrugada suando
frio e com uma dor abdominal horrível. Assustado e sem saber muito o que fazer,
lembrou-se de um amigo cuja esposa, médica, havia sido contratada recentemente
num hospital público da cidade.
Para sua felicidade, a jovem
profissional estava de plantão naquela noite. Intimou o marido dela para lhe
dar uma carona e se mandou para o pronto-socorro. Chegando lá, viu que três
idosas estavam prestes a entrar no prédio. Arrumando forças sem saber como, saiu
correndo na frente, furou a fila alegando emergência e pediu para falar com a doutora
novata.
Ela ainda não era conhecida dos
atendentes e demorou um pouco para que fosse localizada. Quando chegou,
cumprimentou o amigo e o marido como se estivessem num encontro social: “Oi, gente,
tudo bem?”
Sem muito cuidado e querendo uma solução
para o problema, disparou: “Como tudo bem? Você acha que eu viria aqui às 5 horas da manhã só para bater papo? Eu estou morrendo de cólicas”.
Encaminhado
para uma sala, ficou aguardando o especialista que viria lhe atender. Neste
meio tempo, o próprio organismo resolveu tomar uma providência. Vomitou no chão
litros de um líquido avermelhado, e sentiu como se tivesse renascido. O jorro
pestilento se espalhou pelo assoalho, ocupando toda a área do local, que era
pequeno.
O amigo, marido da médica, que aguardava,
solidário, uma solução, viu aquela baba se aproximar de seus pé e levantou uma
das pernas, como se fosse dar aquele golpe do karatê denominado “chute da garça”.
Em seguida, lançou-se no ar para pisar no único ponto seco próximo da porta,
mas errou o cálculo e pisou no vômito, escorregando e caindo sentado em cima de
toda aquela janta estragada.
Em vez de médico, chamaram uma faxineira.
O resto, virou piada.