Domingão,
solzão, praião.
Tudo
prenunciava um dia perfeito. Só que não.
Esparramado
na areia após um mergulho refrescante, seu olhar foi atraído por um biquíni vermelho que passou na sua frente emoldurando o corpo de uma morena que não
estava nem aí se mostrava demais ou não. Acompanhou toda a performance,
na ida e na volta, confiante que seu óculos de sol garantia a segurança de que
seus movimentos oculares passariam desapercebidos. Engano total.
A
esposa ao lado, com aquela capacidade de prever todas as ações do marido,
percebeu o interesse demonstrado. Sem pensar duas vezes, começou a recolher
cadeira, barraca, bolsas. Puxando os meninos pela mão, que reclamaram um monte,
deu a ordem definitiva: “Vamos para casa. Lá a gente conversa”.
Foram
30 dias de tortura verbal. Qualquer coisinha, voltava a lembrança da mulher do
biquíni vermelho. Tempos depois, com a paz reinando novamente no lar, eis que o
jovem casal foi passear no Rio de Janeiro, aproveitando para visitar um dos
shopping center mais badalados da cidade.
Na
saída, perceberam que caminhava na direção da entrada um dos atores globais de
maior destaque do momento, com uma camisa que realçava os músculos peitorais e
dos braços e uma calça jeans apertada delineando os glúteos. A jovem senhora,
numa fraqueza momentânea, descuidou-se e fez daquela imagem um colírio para os
olhos. Quando o mancebo entrou, ainda acompanhou a subida dele na escada
rolante. Virou-se para o marido e, sorrindo, disse: “Bonitão, né!?”
Instintivamente,
em questão de segundos, tudo que tinha ouvido por causa da bunda da mulher do biquíni vermelho voltou à sua mente. Numa reação tipo ‘agora é minha vez’ chutou
o pau da barraca: “Bonitão coisíssima nenhuma. Quer dizer que eu não posso
olhar uma mulher na praia e você pode ficar de queixo caído para esse atorzinho
mequetrefe? Dê-se o respeito. Eu pelo menos disfarcei, e você só faltou se jogar
em cima do cara. Vamos embora. Em casa a gente continua essa conversa”. E saiu
no rumo do carro com a alma lavada.