A
existência humana é tão cheia de possibilidades que a gente nem consegue
imaginar uma parcela mínima delas, principalmente as ruins. O imponderável parece
circular todos os dias ao redor das pessoas, com acontecimentos tão imprevistos
que fica difícil entender. Afinal, se o acaso não existe como explicar tudo o
que acontece?
Me
comove e entristece até hoje lembrar da família de um querido amigo, cuja filha
é minha afilhada, que sofreu recentemente a perda de um de seus integrantes, um
jovem de apenas 14 anos de idade, cuja vida foi ceifada num acidente horrível.
Como
diria Gilberto Gil, “mães zelosas, pais corujas/vejam como as águas de repente
ficam sujas/não se iludam, não me iludo/tudo agora mesmo pode estar por um
segundo” (Tempo Rei).
Um
ditado popular diz que Deus escreve certo por linhas tortas, o que, para os
estudiosos dos temas religiosos, quer dizer que mesmo quando as coisas não saem
exatamente como esperávamos, Ele tem um plano maior para todos.
Pode
ser, e deve ser. Entretanto, situações adversas que causam tanta dor e
sofrimento, abrindo cicatrizes que demoram a fechar e que deixam marcas para
sempre, geram tamanha perplexidade que somente os mais fortes e imbuídos de uma
fé verdadeira conseguem suportar. Deus me livre e guarde daquelas coisas, pois
sou frágil demais.
Apenas
a crença na vida espiritual e na reencarnação consegue amainar tamanha mazela e
aquietar corações e mentes abalados. Carregar tal fardo, imagino, fica próximo
do insuportável, pois os que ficam precisam continuar seguindo em frente, mas
nunca mais será igual era antes.
Por
isso, “o correr da vida embrulha
tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais
alegre ainda no meio da tristeza!” (Grande Sertão: Veredas, de João
Guimarães Rosa).