O tradicional esporte bretão continua sendo o
preferido dos torcedores brasileiros, suplantando com vantagem outras modalidades,
como o vôlei, por exemplo. Paixões quase inexplicáveis pelos clubes mais
populares são demonstradas nas arquibancadas espalhadas pelo país, a cada
competição, ano após ano, passando de geração em geração.
Nas cidades menores talvez o sentimento de “vestir
a camisa” seja mais forte. Sem muitas opções de lazer, os habitantes escolhem
os times como se fosse uma questão de honra, e vão a campo como se estivessem
indo defender a própria pátria de chuteiras, na expressão criada pelo fanático
tricolor carioca Nelson Rodrigues.
Em
Ilhéus, na Bahia, até hoje se fala de uma partida memorável entre o Colo-Colo e
o Alagoinhas Atlético Clube. O Estádio Municipal Mário Pessoa fervia, com
lotação esgotada e o povo esperando mais uma vitória do “Tigre” da antiga
capital do cacau. Em tempo: o Colo-Colo não é a equipe chilena, mas uma
homônima baiana.
O “Carcará” começou com tudo e, com menos de
meia hora, colocou 2 a 0 no placar. Empurrado pela torcida, que de tanto pular
e gritar fazia tremer as estruturas das arquibancadas, o Colo-Colo chegou ao
empate antes do término do primeiro tempo.
Na fase final, o Atlético de Alagoinhas
passou novamente à frente do marcador e deu início a uma tática inusitada de
fazer “cera”, ou seja, retardar a continuidade do jogo. De repente, um atleta
caía no gramado se contorcendo em dores. Os maqueiros entravam (naquela época
era aquela tradicional maca de lona com duas pessoas fazendo o carreto) e
retiravam o jogador, que tão logo se via fora das quatro linhas ficava
bonzinho.
Logo em seguida, outro jogador se “machucava”.
E a cena se repetia: maqueiros eram chamados, o suposto contundido retirado e a
encenação continuava. Na terceira ou quarta vez que os maqueiros, já
estressados com a situação, tiveram que atender a um chamado do árbitro, a
torcida do Colo-Colo resolveu dar um basta naquela empulhação.
Tão logo os maqueiros com sua carga ficaram à
margem do campo, o coro de milhares de vozes ecoou em uníssono como se fosse um
tsunami sonoro ensurdecedor: “Solta, solta, solta”. Um dos maqueiros, baixinho
e com aparência de um pequeno gnomo, sem titubear, abriu as mãos, ergueu os
braços e deixou o fingido se esparramar no chão.
Por instinto de sobrevivência, em seguida a seu ato de
rebeldia corajosa, saiu em desabalada carreira, com o time do Atlético de
Alagoinhas atrás dele, mas não teve quem o pegasse. Apesar das pernas curtas,
parecia ter asas de Mercúrio nos calcanhares e sumiu por dentro dos vestiários
escapulindo da sanha adversária. Ensandecida, a torcida não parou mais de
gritar e conduziu o Colo-Colo a uma virada histórica. Resultado final: 4 a 3
para o time da casa.
E o maqueiro? Esse virou herói e teve seu dia
de glória, após o apito final, nos bares e bataclãs de Ilhéus.