quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Inesquecível

 


O tradicional esporte bretão continua sendo o preferido dos torcedores brasileiros, suplantando com vantagem outras modalidades, como o vôlei, por exemplo. Paixões quase inexplicáveis pelos clubes mais populares são demonstradas nas arquibancadas espalhadas pelo país, a cada competição, ano após ano, passando de geração em geração.

 

Nas cidades menores talvez o sentimento de “vestir a camisa” seja mais forte. Sem muitas opções de lazer, os habitantes escolhem os times como se fosse uma questão de honra, e vão a campo como se estivessem indo defender a própria pátria de chuteiras, na expressão criada pelo fanático tricolor carioca Nelson Rodrigues.

 

 Em Ilhéus, na Bahia, até hoje se fala de uma partida memorável entre o Colo-Colo e o Alagoinhas Atlético Clube. O Estádio Municipal Mário Pessoa fervia, com lotação esgotada e o povo esperando mais uma vitória do “Tigre” da antiga capital do cacau. Em tempo: o Colo-Colo não é a equipe chilena, mas uma homônima baiana.

 

O “Carcará” começou com tudo e, com menos de meia hora, colocou 2 a 0 no placar. Empurrado pela torcida, que de tanto pular e gritar fazia tremer as estruturas das arquibancadas, o Colo-Colo chegou ao empate antes do término do primeiro tempo.

 

Na fase final, o Atlético de Alagoinhas passou novamente à frente do marcador e deu início a uma tática inusitada de fazer “cera”, ou seja, retardar a continuidade do jogo. De repente, um atleta caía no gramado se contorcendo em dores. Os maqueiros entravam (naquela época era aquela tradicional maca de lona com duas pessoas fazendo o carreto) e retiravam o jogador, que tão logo se via fora das quatro linhas ficava bonzinho.

 

Logo em seguida, outro jogador se “machucava”. E a cena se repetia: maqueiros eram chamados, o suposto contundido retirado e a encenação continuava. Na terceira ou quarta vez que os maqueiros, já estressados com a situação, tiveram que atender a um chamado do árbitro, a torcida do Colo-Colo resolveu dar um basta naquela empulhação.

 

Tão logo os maqueiros com sua carga ficaram à margem do campo, o coro de milhares de vozes ecoou em uníssono como se fosse um tsunami sonoro ensurdecedor: “Solta, solta, solta”. Um dos maqueiros, baixinho e com aparência de um pequeno gnomo, sem titubear, abriu as mãos, ergueu os braços e deixou o fingido se esparramar no chão.

 

Por instinto de sobrevivência, em seguida a seu ato de rebeldia corajosa, saiu em desabalada carreira, com o time do Atlético de Alagoinhas atrás dele, mas não teve quem o pegasse. Apesar das pernas curtas, parecia ter asas de Mercúrio nos calcanhares e sumiu por dentro dos vestiários escapulindo da sanha adversária. Ensandecida, a torcida não parou mais de gritar e conduziu o Colo-Colo a uma virada histórica. Resultado final: 4 a 3 para o time da casa.

 

E o maqueiro? Esse virou herói e teve seu dia de glória, após o apito final, nos bares e bataclãs de Ilhéus.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Estações

 


       E a primavera chegou, trazendo consigo todo aquele simbolismo de esperança e renovação. A estação colorida, dos amores e nascimentos. Para uns tantos, a melhor época do ano: nem tão quente, nem tão frio. A festa está no ar, diriam os mais românticos.

 

        Aqui no hemisfério sul, o Equinócio de Primavera, neste ano de 2023, acontecerá em 23 de setembro, precisamente às 03h50 (horário de Brasília), quando o dia e a noite têm quase a mesma duração e intensidade de luminosidade, considerando a posição do planeta Terra em seu movimento e inclinação em torno do Sol, que estará, ao cruzar a linha do Equador, encerrando o verão nos países do norte.

 

        A simbologia é uma condição inerente ao ser humano, único ser com capacidade de criar símbolos. Cada cultura ou civilização, dependendo da época, tem características próprias. No mundo ocidental, por exemplo, a cor preta simboliza luto, enquanto que no oriente usa-se amarelo.

 

        Em relação à primavera, com o aumento das horas diárias de luz solar, existe um estímulo natural à ação, ao agir, ao ânimo de uma maneira geral (inclusive na parte emocional), em que o (re)nascer se faz presente, como se a vida fosse reanimada após os dias mais curtos e entorpecidos durante o inverno. Portanto, é um período de plantar, regar e preparar uma boa colheita futura.

 

        Fonte de inspiração para artistas de uma maneira em geral (músicos, pintores, escritores e outros mais), a primavera sempre é cantada em prosa em verso. Afinal, “hoje eu acordei feliz/hoje eu acordei cantando/hoje eu acordei assim/primaverando” (Primaverando, de Laura Cândida), pois “já choramos muito/muitos se perderam no caminho/mesmo assim não custa inventar/uma nova canção/que venha trazer/sol de primavera/abre as janelas do meu peito/a lição sabemos de cor/só nos resta aprender” (Sol de Primavera, Beto Guedes).

 

        Assim, se o plantio é livre, mas a colheita obrigatória, plantemos flores para que possamos, ao longo de nossa existência, colher flores. E como tudo na natureza tem um ciclo próprio imutável, comecemos logo, rapidamente, o mais breve possível antes que seja tarde demais. Façamos de nossa vida, simbolicamente e na prática, através de nossos praticados, um jardim colorido repleto de rosas, dálias, margaridas, azaleias, orquídeas, violetas, tulipas, lírios, bromélias e muito mais.

        Que venham as flores!