quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Fogo na floresta II


Voltando ao tema quente do momento: incêndios na floresta amazônica.

No site da revista Época visualizei uma reportagem do jornalista Gabriel Monteiro intitulada Estrada Porto Velho-Manaus: rota de queimadas e desmatamento.

Esta rodovia, oficialmente denominada BR 319, é palco de intensas disputas ecológicas/econômicas. Segundo dizem à boca pequena, por trás da defesa ambiental estão escondidos os interesses das empresas que fazem o transporte fluvial de cargas e passageiros na hidrovia Madeira-Amazonas, e vice-versa.

Por exemplo: toda a gasolina, diesel, etanol e o gás consumidos em Porto Velho e região chegam à cidade via fluvial, através das balsas que trazem esses produtos da refinaria que existe em Manaus. E muita mercadoria é enviada para a capital manauara da mesma maneira. As carretas chegam no porto e são embarcadas em balsas especiais para esse tipo de transporte.

Quando aportei em Porto Velho, no ano de 85, a estrada estava asfaltada em boa parte e era usada regularmente, tanto por caminhões e ônibus quanto por carros de passeio. Os quase 900 quilômetros entre as duas capitais podiam ser percorridos tranquilamente. Depois, não sei porquê cargas d'águas, a rodovia foi sendo abandonada e a floresta tomou de conta novamente daquilo que já era seu.

De uns anos para cá começaram a trabalhar outra vez na 319, fizeram pontes e voltou o fluxo de veículos, mas somente os maiores ou aqueles com tração nas quatro rodas. Há ônibus diário, novamente, mas o trecho está sendo vencido em quase 24 horas. Possa ser que resolvam conciliar interesses e ajeitar a BR para que Manaus e Porto Velho tenham a possibilidade dessa integração rodoviária.

Por conta dessa conversa toda, me lembrei da única vez em que fiz uma viagem de barco de Porto Velho para Manaus. Fui com uma turma de umas dez pessoas. Normalmente, os passageiros ficam em redes, mas investi num camarote. Nem pensem que tive alguma mordomia. O dito cujo era pequeno e baixo, com um beliche apertado. E sem banheiro. Mesmo assim, um pouco mais de privacidade em relação a quem foi no convés entre dezenas de redes, colocadas, até, uma sobre as outras.

No embarque, no famoso Porto do Cai N'Água, homens da Capitania dos Portos vistoriaram a embarcação (que levava também carga) para evitar riscos à navegação, imagino. Qual não foi a minha surpresa quando, pouco depois da primeira curva do rio Madeira, já um pouco afastado da cidade, o barco parou e das margens vieram três ou quatro voadeiras (canoas com motor) trazendo mais passageiros, que subiram a bordo longe dos olhos da nossa diligente Marinha.

Foram quatro lentos dias subindo o rio (a distância de navegação entre as duas cidades é de 1.239 km), passando por inúmeras localidades ribeirinhas (São Carlos, Nazaré, Nova Olinda do Norte, Borba, Novo Arapuanã, Manicoré e Humaitá). Comida de qualidade apenas aceitável. Conforto quase nenhum. Tudo muito bonito. Tudo muito tranquilo. Tudo muito ecológico. 

Mas aguentei só ir. Voltei de avião.

Abaixo, na foto do Cesário (escritor amazonense), cedida pelo jornalista Lúcio Albuquerque, vê-se o tipo de batel que faz o trajeto de ida e volta entre as duas urbes nortistas.




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