terça-feira, 13 de agosto de 2019

Valente até no nome


Minha avó paterna tinha o nome de Valentina Costa Pacheco.

Morava num belo casarão da rua 7 de Setembro, no centro de Vitória, objeto de postagem anterior (A Rua 7 de Setembro, em 13/04/11), casa esta construída pelo meu avô, Filogônio Pacheco.

Era uma pessoa que não tinha papas na língua. Baixinha, gordinha. Como tal, adorava se alimentar bem e muito (conta-se que chegou a comer 12 ovos de uma vez). Não admitia ser contrariada. Dona Valú, seu apelido carinhoso, fazia e acontecia. Tinha especial predileção por meu irmão, Guilherme, a quem chamava de "Príncipe", mas não negava seu colo farto a nenhum dos dez netos, entre homens e mulheres.

Criava um cachorro pequinês, a quem também dedicava grande afeição. Cheguei a presenciá-la dirigir um Fusca, de sua propriedade, no estilo "sai da frente". Morreu de câncer no pâncreas. A última vez que a vi com vida foi na janela do quarto do hospital onde estava internada, dando adeus para os familiares, principalmente as crianças, como era o meu caso, que não podiam entrar para visitá-la.

Lembrei-me dela esses dias por conta de um comentário de minha mãe. Disse-me ela que meu nome, Rodrigo, foi escolhido por minha avó Valentina. Aliás, segundo mamãe, ela não apresentou como opção, mas sim como determinação: "É esse e pronto. Assunto encerrado".

Morei uns tempos na casa dela. Na época fazia o científico (assim se chamava, então) à noite, no Colégio Salesiano, aquele da Avenida Vitória, e trabalhava durante o dia em A Gazeta. Meus pais e irmãos moravam em Camburi, na Rua Antônio Basílio, daí ficava mais fácil eu pernoitar na rua Sete.

Antes disso, porém, quando meu pai era Juiz de Direito em Alegre, no início da década de 70, fui diagnosticado com hepatite. O tratamento era (talvez ainda seja) repouso, repouso e repouso, com uma dieta magra e muito doce. Acharam por bem me mandar para Vitória, para garantir que seguiria todas as ordens médicas.

Valú, aconselhada não sei por quem, apareceu um dia com um pijama de flanela vermelha, dizendo que aquela cor era ideal para revigorar o fígado, um dos órgãos mais atingidos pela doença. Eis que, mesmo sob débeis protestos, passei praticamente três meses vestindo aquela roupa. E só ela. Que felicidade quando voltei para casa, livre não só da doença, mas também do humilhante pijama de flanela vermelha.

Não sei ao certo, mas parece que pegava um pouco no pé do meu avô, principalmente em assuntos financeiros, pois gostava de andar com a bolsa sempre recheada. Vovô Filó tinha até um versinho que dizia:

Tutu na mão da menina, são sempre palavras de ordem, nas cartas da Valentina"

Também não sei explicar de onde ela mandava essas cartas. Tinha, entretanto, um grande coração, sempre disposta a auxiliar as pessoas, principalmente as mais humildes. 

Enfim, era gente boa. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário