sábado, 17 de agosto de 2019

Rapidinhas

Cumaru era forte pra caramba. Mas tinha uma mentalidade ingênua, gostava de todo mundo e, para pânico de seus conterrâneos, não conseguia controlar a própria força.

Tinha a mania de cumprimentar as pessoas dando "tapinhas", para ele, nas costas dos amigos. Contudo, aplicava tanta ênfase nesta demonstração de afeto que, não raras vezes, deixava marcas dolorosas. Em alguns casos, o agraciado não conseguia ficar em pé.

Era funcionário do único hospital da cidade. E o médico que dava plantão por ali tinha verdadeiro pavor de encontrar o parente de Sansão. Quando chegava para o expediente, entrava meio que disfarçado para evitar contato com Cumaru nos corredores. Era um alívio quando chegava ileso ao consultório.

De outra feita, atravessando uma pinguela sobre um igapó num canto da cidade, deparou-se com um conhecido que vinha em sentido contrário. Efusivamente, brindou-o com uns dois ou três tapas nas costas que jogaram o felizardo, para não dizer o contrário, dentro d'água.

Mas era pura manifestação de carinho.

**********

Comentário ouvido na praia:

"Rapaz, outro dia eu vi um homem com um queixo tão grande que parecia um tamanco".

**********

Resposta de um troglodita quando indagado porque misturava todo o alimento no prato - salada, arroz, feijão, carne, farofa e o que mais coubesse:

"E desde quando estômago tem prateleira".

**********

Sabe quando alguém quer ser mais realista do que o rei? Pois é.

O dono daquele cinema achava que a censura devia ser mais rigorosa do que efetivamente era. Por isso, tomava algumas precauções nos filmes que exibia, principalmente quando havia beijos entre casais.

Nesses casos, colocava o dedo em frente ao projetor (estamos falando das velhas películas de 35 mm) para que ninguém visse o ósculo imoral.

E a plateia revidava em coro:

- Tira o dedo.

**********

Pé de Boi não conseguia evitar. Era mais forte do que ele. Pulava cerca frequentemente, até que passou a ter uma amante, digamos, fixa.

A mulher, contudo, começou a desconfiar de alguma coisa e ficou com a orelha em pé. Um dia, descobriu nome e endereço da concorrente. Armou o flagrante.

Foi até o local onde os pombinhos confraternizavam e invadiu a casa. Levava consigo o filho do casal.

Pé de Boi só teve tempo de se enfiar embaixo da cama. Num primeiro momento, a esposa traída ficou confusa, pois não viu o marido, até que a criança, na inocência que lhe é natural, esticou o dedo e denunciou:

- Mamãe, aquilo ali não é o pé do papai?

As extremidades características de Pé de Boi tinham ficado à vista. Rapidamente, ele, só de cuecas, saiu do esconderijo e, como se tivesse sido afrontado em sua dignidade, fez uso do velho bordão característico de situações similares:

- Não é nada disso que você está pensando. Não faça escândalo que em casa a gente conversa.

Aos colegas de repartição, passado o furacão, explicou:

- Tem que negar sempre, não se pode admitir culpa, do contrário a casa cai.


Nenhum comentário:

Postar um comentário