sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Jornais impressos


Numa publicação anterior (bem anterior), datada de 27 de maio de 2011, intitulada Um jornal quase centenário, falei da minha experiência de trabalho no Alto Madeira, em Porto Velho/RO, onde cheguei como repórter e saí como editor-chefe.

Em abril de 2017, o periódico, já um tanto fraco das pernas, completou 100 anos de existência, graças à dedicação e empenho do seu diretor, Euro Tourinho, que também tem, salvo engano, mais de 90 anos, e o esforço de alguns abnegados jornalistas, como Lúcio Albuquerque e Ciro Pinheiro.

Na edição comemorativa do centenário, inclusive, fui convidado e escrevi um artigo falando da minha experiência naquela redação. Posteriormente, em 1º de outubro do mesmo ano, o Alto Madeira deixou de circular.

Me lembrei disso por causa da recente informação divulgada pela direção da Rede Gazeta que o jornal do grupo de comunicação, A Gazeta, onde também militei, a partir do próximo mês de setembro/19 deixará de ser diário, passando a circular tão somente semanalmente na versão impressa. Permanece todos os dias on line.

Outros jornais, menos ou mais famosos, também deixaram as bancas e existem, ou não, tão somente no mundo virtual. Mas falo desses dois porque fazem parte da história da minha vida, tanto pessoal quanto profissional.

O avanço tecnológico, em todos os campos da vida humana, é inevitável. Os próprios jornais passaram, ao longo dos anos, por muitas transformações, desde o linotipo, composição a frio, impressão colorida etc e tal. A era digital chegou para ficar, numa velocidade tal que fica difícil acompanhar tanta informação e assimilar tudo o que o cidadão tem disponível hoje em dia, com notícias sendo divulgadas praticamente em tempo real - em transmissões esportivas ao vivo, é claro, já é assim.

Mesmo assim, a meu ver, criou-se um paradoxo: enquanto poucos sabem tanto, muitos, que não tiveram acesso nem à tecnologia que está sendo superada, sabem pouco.

Explico: infelizmente, no nosso (será?) país, com mais de 200 milhões de habitantes, ainda existem, conforme dados oficiais do IBGE (pessoal, não estou querendo denegrir a imagem brasileira e nem sou traidor, ok?) aproximadamente, entre a população de 15 anos ou mais, 11 milhões de analfabetos.

Por óbvio, esses nunca leram um jornal, um livro ou uma revista. E quantos milhares de outros que sabem apenas assinar o nome? Ou que até escrevem e leem, mas não conseguem interpretar um texto? Ou seja, estão "pulando" etapa, e sem a informação impressa, a qual não entenderiam direito mesmo, são "bombardeados" com áudios e vídeos de coisas em tal quantidade que ficam somente no superficial do que ouvem e veem de imediato.

Para nós, que supostamente conseguimos compreender alguma coisa do mundo que nos rodeia, não é tão fácil se situar (para quem quer entender mesmo, e não ser só mais um boi tangido na manada do fazendeiro - vide Admirável Gado Novo, do Zé Ramalho). Por isso, que as fake news estão tendo tanto repercussão e passam por verdades. E nem adianta desmentir, porque caiu na boca do povo, já era.

Sentirei saudades da mídia impressa, se viver o suficiente para vê-la chegar ao fim totalmente. Afinal, para quem gostava de ficar até de madrugada na redação para sair de manhã cedo com o jornal do dia impresso debaixo do braço (que alegria ver um texto de minha autoria publicado) é um tanto tedioso ter que saber das coisas numa tela de computador ou num aparelho celular, que é usado atualmente para tudo, inclusive telefonar.

Fim de uma era. Sinais de novos tempos. Que sejam melhores.

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