Numa publicação anterior (bem anterior), datada de 27 de maio de 2011, intitulada Um jornal quase centenário, falei da minha experiência de trabalho no Alto Madeira, em Porto Velho/RO, onde cheguei como repórter e saí como editor-chefe.
Em abril de 2017, o periódico, já um tanto fraco das pernas, completou 100 anos de existência, graças à dedicação e empenho do seu diretor, Euro Tourinho, que também tem, salvo engano, mais de 90 anos, e o esforço de alguns abnegados jornalistas, como Lúcio Albuquerque e Ciro Pinheiro.
Na edição comemorativa do centenário, inclusive, fui convidado e escrevi um artigo falando da minha experiência naquela redação. Posteriormente, em 1º de outubro do mesmo ano, o Alto Madeira deixou de circular.
Me lembrei disso por causa da recente informação divulgada pela direção da Rede Gazeta que o jornal do grupo de comunicação, A Gazeta, onde também militei, a partir do próximo mês de setembro/19 deixará de ser diário, passando a circular tão somente semanalmente na versão impressa. Permanece todos os dias on line.
Outros jornais, menos ou mais famosos, também deixaram as bancas e existem, ou não, tão somente no mundo virtual. Mas falo desses dois porque fazem parte da história da minha vida, tanto pessoal quanto profissional.
O avanço tecnológico, em todos os campos da vida humana, é inevitável. Os próprios jornais passaram, ao longo dos anos, por muitas transformações, desde o linotipo, composição a frio, impressão colorida etc e tal. A era digital chegou para ficar, numa velocidade tal que fica difícil acompanhar tanta informação e assimilar tudo o que o cidadão tem disponível hoje em dia, com notícias sendo divulgadas praticamente em tempo real - em transmissões esportivas ao vivo, é claro, já é assim.
Mesmo assim, a meu ver, criou-se um paradoxo: enquanto poucos sabem tanto, muitos, que não tiveram acesso nem à tecnologia que está sendo superada, sabem pouco.
Explico: infelizmente, no nosso (será?) país, com mais de 200 milhões de habitantes, ainda existem, conforme dados oficiais do IBGE (pessoal, não estou querendo denegrir a imagem brasileira e nem sou traidor, ok?) aproximadamente, entre a população de 15 anos ou mais, 11 milhões de analfabetos.
Por óbvio, esses nunca leram um jornal, um livro ou uma revista. E quantos milhares de outros que sabem apenas assinar o nome? Ou que até escrevem e leem, mas não conseguem interpretar um texto? Ou seja, estão "pulando" etapa, e sem a informação impressa, a qual não entenderiam direito mesmo, são "bombardeados" com áudios e vídeos de coisas em tal quantidade que ficam somente no superficial do que ouvem e veem de imediato.
Para nós, que supostamente conseguimos compreender alguma coisa do mundo que nos rodeia, não é tão fácil se situar (para quem quer entender mesmo, e não ser só mais um boi tangido na manada do fazendeiro - vide Admirável Gado Novo, do Zé Ramalho). Por isso, que as fake news estão tendo tanto repercussão e passam por verdades. E nem adianta desmentir, porque caiu na boca do povo, já era.
Sentirei saudades da mídia impressa, se viver o suficiente para vê-la chegar ao fim totalmente. Afinal, para quem gostava de ficar até de madrugada na redação para sair de manhã cedo com o jornal do dia impresso debaixo do braço (que alegria ver um texto de minha autoria publicado) é um tanto tedioso ter que saber das coisas numa tela de computador ou num aparelho celular, que é usado atualmente para tudo, inclusive telefonar.
Fim de uma era. Sinais de novos tempos. Que sejam melhores.
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