quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Dr. Kang


No final de 91 fui diagnosticado com uma doença denominada artrite reumatoide, que é uma inflamação crônica, autoimune, que afeta as articulações (mãos, punhos, cotovelos, joelhos, tornozelos, pés, ombros, coluna cervical) etc e tal. Interessante é que estatisticamente ocorre duas vezes mais em mulheres do que em homens.

Suas causas são desconhecidas, mas supõe-se que tenha fundo emocional. Até hoje a medicina tradicional não sabe como curá-la. Fiquei longos meses com dores, a ponto de não conseguir mais trocar de roupa sozinho. As noites eram insones, pois ao me virar na cama acordava com tudo dolorido.

Médicos reumatologistas de Porto Velho (onde morava na época), Vitória e São Paulo não deram jeito. Um deles, inclusive, chegou a me dizer para me acostumar, pois a única solução eram remédios de uso contínuo para aliviar as dores. Como diria um amigo meu: "Tomar a vida toda, e mais seis meses".

Uma luz, porém, surgiu: dr. Kang, acupunturista coreano (não sei se do sul ou do norte), que atendia em Campinas/SP. Meu saudoso companheiro de longas jornadas Altenísio José de Albuquerque, que também procurava cura para uma doença que lhe afligia, foi quem ficou sabendo dele, esteve lá e me indicou. Fomos juntos, com nossas respectivas esposas e amigos, duas vezes naquela cidade paulista.

Dr. Kang (como seria o nome dele completo?) tinha a aparência tradicional daqueles asiáticos que vemos no cinema: magro, altura mediana e barba rala com fios brancos indo abaixo do queixo. Usava a indumentária padrão de cor preta. Falava um português arrastado. Melhor dizendo: era de poucas palavras, limitando-se ao estritamente necessário.

Seu consultório funcionava assim: por volta de 5 horas da madrugada as pessoas começavam a chegar. Na porta, presa com durex, uma folha de papel, onde os pacientes anotavam seus nomes. O atendimento era feito de acordo com a lista. E todos tinham que ficar ali até às 9 horas, quando ele iniciava o dia de trabalho. Quem saísse, perdia o lugar. E o frio campineiro não era brincadeira.

Lá dentro, uma pequena sala com dois sofás velhos, uma cozinha que só tinha café e água e duas salas, com uma maca cada, onde ele atendia duas pessoas por vez. Se alguém dormisse numa das macas, permanecia lá até acordar. Todos os dias ficava cheio. Tinha gente que se tratou com ele (principalmente depois de desenganada pelos homens/mulheres de branco), ficou curada e continuava indo lá para dar uma "manutenção".

(Conheci um fazendeiro rico que rodou o mundo e dizia que só estava vivo por causa do Dr. Kang. Quando ele morreu - sim, Dr. Kang já é falecido -, pouco tempo depois o homem também foi para o além).

Pois bem. Quando chegou a minha vez de ser atendido, relatei o problema. Dr. Kang pegou no meu pulso direito, fazendo pressão (e bota pressão nisso) com as duas mãos. Falou: "Reumatismo forte, mas tem cura".

Seu tratamento era simples, mas eficiente: fazia uma sessão de acupuntura e passava uma dieta, que, no meu pouco conhecimento sobre saúde, remédios e similares, era o "pulo do gato" que o diferenciava e o tornava tão exitoso. Falava que a aplicação com as agulhas representava 30% do tratamento; a alimentação, os 70% restantes.

Afirmava Dr. Kang que as pessoas não são iguais metabolicamente falando. Daí porque uma coisa funciona numa, mas pode não funcionar em outra. Às vezes um alimento faz mal para um, mas não faz para outro. Por isso ele indicava para os pacientes uma dieta que tinha por base quatro proteínas básicas: frango, boi, porco e peixe.

No meu caso, inicialmente, me colocou na "Dieta do Frango". Podia comer frango assado ou frito no óleo de milho, tomar chá de gengibre com canela e mel, alguns tipos de frutas, legumes e verduras e quando tivesse sede beber uma xícara de água.....quente. Parece maluquice, mas não é. Com pouco mais de 15 dias fazendo o tratamento não sentia mais dores. Tinha minha vida normal de volta.

Retornei lá. Por ordem dele, mudei de biotipo, como ele chamava cada uma das quatros dietas. Passei para a "Dieta da Sardinha" - sardinha frita no óleo de milho ou peixes de água doce (saudades de um tambaqui assado), limonada quente com mel, frutas cítricas, alface, milho, aipim (ou macaxeira, como se diz no Norte/Nordeste), tomate, cenoura, batata assada com casca, ervilha, lentilha, feijão (uma vez por semana) e água......quente. E nada de sal.

(Somente o biotipo de porco bebe água natural - e não gelada. Os demais, quente mesmo).

Pois bem. Nunca mais me preocupei com a tal da artrite reumatoide, que sumiu tão inexplicavelmente (será?) como quando apareceu. Me desculpem os homens da Medicina, cujo valor não posso negar, mas igual ao Dr. Kang ainda não vi. Numa outra vez tive uma erisipela (vermelha, no jargão popular) nas duas pernas, e me curei sem tomar nenhuma dose de antibiótico, me alimentando tão somente do biotipo.

Dr. Kang atendeu e curou muita gente. Se necessário, entrava pela madrugada para não deixar ninguém sem atendimento. Não tinha papas na língua, pois não mascarava nada para seus pacientes. Contava-se, nas conversas na sala de espera, por exemplo, que um deles alegou dificuldade para comer sardinha e disse que não ia fazer mais o tratamento. Resposta: "Então, morra". Tratava todo mundo, com exceção a quem fazia hemodiálise. Para ele, nesses casos, o sangue se alterava e impedia o diagnóstico pelo pulso - se é que entendi a explicação que me deram.

Considerava que o que mata é a sujeira interna e não a externa. Dizem, porém, que usava este argumento para justificar o folclore de que tomava pouco banho. Não sei se era verdade, mas o paletó que usava já estava naquela fase "pedindo outro". Vejo, contudo, que estava tão intensamente ligado ao seu trabalho e à missão que tinha que não se preocupava com aspectos mundanos da nossa sociedade.

Um médico teve a esposa curada por ele. Pediu para aprender o método. Prontamente, Dr. Kang se prontificou a ensiná-lo, sob a seguinte condição: largasse tudo e ficasse com ele 10 anos. Por óbvio, o cidadão não foi. Tinha um filho, que seria quem daria continuidade, mas faleceu numa viagem aos Estados Unidos. Até onde eu sei, ele morreu sem deixar nenhum herdeiro terapêutico, talvez apenas aqueles que foram beneficiados e ainda se lembram das dietas.

Eu, hoje em dia, não faço 100% a alimentação que ele me passou, pois seu rigor a torna difícil de inseri-la no cotidiano, sem contar que não existe em nenhum restaurante. Mas ela é meu norte nutritivo, e procuro não me distanciar muito para manter o meu corpo no melhor equilíbrio funcional possível. Sei que tem sentido, pois vivenciei a experiência prática, daí porque não posso abandoná-la.

E o que tornava o Dr. Kang ainda mais especial era sua humildade, pois quando as pessoas, agradecidas, queriam exaltá-lo, lembrava que não era ele quem curava, mas Deus.

Volte logo, Dr. Kang.



8 comentários:

  1. Também tive contato com terapeutas que o conheceram, mas suas suas dietas eram difíceis de serem seguidas à risca, especialmente os tipos sardinha (o mais difícil) e o frango. ainda bem que sou o biotipo porco!

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    1. Interessante....
      Porco = cardíaca
      (11)96359-0435/ MAURO FUMIO MATSUDA

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  2. Tive a honra de com ele tratar, cheguei no consultório amparado por um casal amigo, não conseguir andar de tanta dor, uma seção, sai de lá sem dor alguma, fazem 35 anos, até hoje não tive mais crise de hemorroida!

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  3. Sou de São Paulo e conheci o Dr Kang! Quando tenho problemas de saúde volto para a dieta, sou da dieta de sardinha! Achei muito interessante o relato e a descrição correta! Vou deixar meu e-mail e tenho o interesse em saber das pessoas que tiveram contato e fizeram a dieta!! bernadetemoraes08@gmail.com Obrigada e Gratidão externávamos Dr.Kang!

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  4. Ele não tomava banho pois o regime dele era de carne de vaca, que tem que usar roupas de frio o tempo todo. Minha mãe e irmã faziam esse tipo. Eu e meu pai fazíamos o de carne de frango, que não podia beber água de jeito nenhum. Eu tinha uns 13 anos naquela época e um dia de verão, tomei um copo de água escondido. Me deu uma dor de cabeça terrível em poucos minutos. Minha mãe ligou para ele e na mesma hora ele sacou que eu tinha tomado água. Remédio: uma dose de vodka e deitar debaixo de cobertores no calor de Rio Preto. 15 minutos e eu não tinha mais nada.

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  5. _ Tive a curiosidade de....???
    _ pois ouvi sobre o nome Dr.Kang
    _Eu , Terapeuta Naturista CTN 1880
    Ortomolecular & Ortobiomolecular
    Terapeuta Quântico Coach
    (11)96359-0435

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