Pense numa mulher franzina, com rugas
reveladoras da idade e a coluna ligeiramente arqueada pelas muitas travessias
ao longo de anos. Quantos anos ela tinha nunca soube.
Assim era dona Domingas. Maranhense de
Codó. Afamada em todos os terreiros de Candomblé da região e entorno. Era da
raça negra. Foi morar em Rondônia na casa de uma filha, técnica de Enfermagem
de um hospital local.
Sem propaganda nem nada do gênero continuou
a fazer seu trabalho e atendendo um conhecido e outro. Dava conselhos, recomendava
banhos com ervas específicas e orientava as pessoas na forma pela qual
compreendia a vida.
De vez em quando cuidava de algumas
situações mais pesadas. Foi assim que a conheci.
Um amigo meu estava adoentado, e tinha
sonhos frequentes, para não dizer pesadelos, de que uma pessoa estava lhe
desejando mal. Indicada por um motorista da autarquia federal onde trabalhava,
fomos até lá. Ela ouviu o que foi dito e levou o rapaz para um local perto de
onde residia onde havia uma mangueira e debaixo da copa da árvore uma pequena
estrutura de madeira (pelo jeito, resto de construção) onde ela e ele entraram.
Não foi autorizada minha participação.
O que aconteceu lá dentro, não sei. A
mãe de santo exigiu sigilo total. Mesmo assim, fiquei sabendo que ela confirmou
o “trabalho” que estava sendo feito contra meu amigo e disse que era um macumbeiro
forte, mas que sabia como derrotá-lo. Que ficasse tranquilo.
Durante um período de seis meses, de 15 a 15 dias,
mais ou menos, íamos lá manter o contato e saber de alguma novidade. Até que um
dia ela disse que já tinha feito o que era preciso fazer e que meu amigo não
seria mais incomodado daquela maneira. E para arrematar o desfecho, pediu para
ele arrumar uma foto do desafeto, cavar um buraco no fundo do quintal e à meia
noite enterrar a fotografia, fazendo uma oração que ela ensinou. Fizemos.
Registre-se que ela nunca pediu dinheiro, nem sequer manifestou tal
possibilidade.
E assim ficamos meio que amigos da
velhinha e família. Tempos depois, um ano, se não me engano, Dona Domingas
desencarnou. A notícia chegou para meu amigo por um telefonema da filha dela,
que pediu para ele ir lá na casa dela. Fomos juntos. Lá ficamos sabendo que ela
determinou que todos os livros esotéricos dela fossem entregues ao meu amigo, que,
por sua vez, deixou-os como herança para a mulher e filhos, tendo em vista já
ter falecido também uns 20 anos após esse ocorrido. Devem ter muita coisa interessante.
Assim, cumpriu-se a última vontade de Dona
Domingas.
Apesar de ainda ter pouco conhecimento das
ciências ocultas, não posso deixar de revelar que a Dona Domingas inspirava
confiança, pois não se exaltava, mas apenas exercia seu ofício com maestria. O
caso ora descrito aparentemente fala de coisas inverossímeis. Porém, é crível entender que, até por uma lógica se considerarmos o tanto de coisa que a maioria
das pessoas não conhece, são muitos os mistérios, principalmente da vida
espiritual, que ainda precisam ser desvendados. Nesse Universo imensurável existem,
com certeza, a meu ver, muitas surpresas.
Mas a gente chega lá.
Com nosso esforço e a graça de Deus!
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