quinta-feira, 18 de junho de 2020

Aparência e realidade



          Gosto muito de aprender, de renovar conhecimentos e de, na medida do possível, deixar o novo amanhecer dentro de mim (parafraseando Renato Teixeira, em Raízes). Para isso, procuro ler um pouco de tudo, mesmo que às vezes tenha alguma dificuldade para entender a mensagem, principalmente textos científicos relacionados às áreas de matemática e química.

          Entre exatas, biológicas e humanas tenho especial predileção por este último campo de estudos, e, nele, atenção redobrada pela História, que é, segundo definição encontrada na Wikipédia, “a ciência que estuda o ser humano e sua ação no tempo e no espaço concomitantemente à análise de processos e eventos ocorridos no passado”.

          Não raramente os acontecimentos de outrora, a meu ver, permitem entender o momento presente e até projetar as situações futuras. Me fascina saber quem fez o quê, em que circunstâncias e as consequências de determinadas atitudes humanas. Homens e mulheres que, ao longo do tempo, se tornaram agentes não só da sua própria vida, mas também causaram modificações para além da própria existência.

          Existem coisas, obviamente, que repercutem no mundo todo. Outras são restritas, em termos de consequências, a determinada região ou somente alguns países, enquanto algumas têm efeito apenas regional ou local. Mas todas podem ser analisadas e compreendidas para servir de lição àqueles que possuem o dever contemporâneo de conduzir a humanidade, seja quem responde por milhões ou quem apenas cuida de um pequeno rebanho.

          Vejo com preocupação que muitos líderes atuais demonstram desconhecimento (talvez até de maneira proposital) no que diz respeito a fatos ocorridos em época nem tão distantes, e adotam práticas que repetem erros e posicionamentos já comprovadamente ineptos e prejudiciais.

No caso brasileiro, especificamente, na verdade, nem é de se estranhar tanto, pois, infelizmente, a atual geração foi educada sem conhecimento geral, como se o mundo girasse em torno do próprio umbigo. E isso tende a perdurar, pois os currículos escolares são pobres em abranger o estudo histórico. Não é de se espantar que muitos jovens não sabem nem o nome do último imperador do Brasil ou do primeiro presidente republicano, por exemplo.

          Nossos próceres, tão preocupados em garantir a perpetuação de privilégios sob o manto do “isso é melhor para o país”, deveriam buscar em séculos passados as lições para pavimentar o caminho de prosperidade que almejamos, mas não só da boca para fora. Um ponto crucial que qualquer tipo de liderança deve demonstrar é a honestidade, de forma clara, indubitável e sem mácula.

          Neste sentido, é bastante ilustrativa uma narração que vem da Roma Antiga, que faço, a seguir, a transcrição:

“Decorria, em casa de Júlio César, no dia 1º de maio do ano 62 A.C., a festa da Bona Dea (Boa Deusa), reservada exclusivamente às mulheres. A celebração fora organizada por Pompeia Sula, segunda mulher de Júlio César. Acontece que Publius Clodius, jovem rico e atrevido, estava apaixonado por Pompeia. Disfarçado de tocadora de lira entrou clandestinamente na festa, mas foi descoberto por Aurélia, mãe de César, sem que tivesse conseguido os seus intentos. Nesse mesmo dia, todos os romanos conheciam a peripécia e César se divorciou de Pompeia. Mas ele não ficou contra Publius Clodius, aduzindo que nada tinha, nem nada sabia contra o suposto galanteador. Foi um espanto geral entre os senadores: ‘Então porque se divorciou da sua mulher?’. A resposta tornou-se famosa: ‘A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita’.

Com o passar do tempo, surgiu um provérbio adaptado ao relato, que diz: ‘À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta’.

Vê-se, dessa maneira, que é necessário unir teoria e prática para que atitudes corretas sejam efetivo reflexo dos pensamentos e sentimentos que se encontram guardados no mais profundo recôndito do nosso ser.

Aparência de honestidade nem sempre significa uma prática no mesmo sentido, e vice-versa, claro. Esse, inclusive, é um dos maiores ensinos de Jesus. Daí a necessidade de transparência, pois, conforme visto acima, não basta efetivamente ser honesto, mas é necessário irradiar aos outros de maneira tal que se veja isto (nossa honestidade) de forma clara e sem dúvidas.

O hábito não faz o monge.



         

         

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