sábado, 16 de abril de 2011

O amor é lindo

Nos meus meses de desemprego (vide "A antiga 'Tribuna'") conheci, através do meu primo Sérgio Larica Bomfim, atualmente residindo nos States, o acadêmico de Psicologia da UFMG, Renato Segovia Poncio, que estava de férias em sua cidade natal. Ficamos amigos. Comecei a frequentar o apartamento da família dele, onde moravam a mãe, Sara, que tinha ficado viúva, e as duas irmãs mais novas, Jussara e Renah.
Jussara estudava Belas Artes na Universidade Federal do Espírito Santo e tinha, na época, uns 22 anos. Eu, em torno de 20. Isso no começo de 1978. Desde o primeiro instante em que a vi senti que podia pintar um clima, para usar uma expressão mais atual, entre nós dois. Mas eu sempre fui muito tímido para esses assuntos de namoro. Em toda a minha vida, antes de casar, se tive três namoradas foi muito. Assim, não estava dando jogo.
Renato e eu gostávamos de jogar xadrez e essa era a desculpa que tinha para ir ao apartamento, principalmente nas horas em que sabia que ele não estaria lá. Eu queria era ver Jussara, obviamente. Aninha, uma moça que trabalhava na residência, abria a porta para mim e à pergunta "Renato está?" (que eu já sabia que não) me convidava para entrar e esperar. Depois ela nos contou que pensava: "Mas a Jussara está". E assim continuamos mais um tempo nesse vai-não-vai.
Eu senti que precisava, realmente, fazer alguma coisa, quando um dia, descendo, mais uma vez, a rua 7 (veja texto neste blog), ao chegar no trecho em que havia um calçadão, me deparei com Jussara vindo em sentido contrário, de óculos escuros, cabelos ao vento, linda, leve e solta. Meu coração disparou e eu percebi que estava apaixonado. Conversamos um pouco, ofereci carona e fomos para o apê da rua Eugênio Netto, onde ela residia.
Renato, Jussara e Renah foram criados naquele bairro e havia uma turma de jovens da mesma idade que sempre andava junta. Nesse dia, resolvemos tomar um sorvete no Luigi. O pessoal, já sabendo que eu e a Jussara estavámos de paquera, entrou no carro do Renato - Renah, Rosângela, Carla, Bequinho, Françoise. Ninguém queria ir com a gente. Assim, na minha Brasília fomos somente eu e ELA. Então, aconteceu.
Ficamos no carro conversando e, de repente, sem que nada tivesse sido planejado, fomos ficando mais próximos, pertinho um do outro e.....demos o primeiro beijo (suave e discreto, como manda a tradição). A partir daí, estávamos, perante todos, oficialmente, namorando. Com pouco mais de um mês eu já queria casar. Mas havia alguma resistência: a sogra. E, por incrível que pareça, a própria Jussara.
Aqui, cabe um parênteses: Jussara, quando tinha uns 16 anos, desenhou o rosto de uma pessoa com barba e usando óculos e disse que aquele seria o homem com quem ela se casaria. Comentário da mãe dela: "Nossa, que feio, parece um macaco". E eu era praticamente idêntico àquela visão (ao lado), pois usava uma barba ao estilo do velho Lula (do período em que alguns chamavam-no de "sapo barbudo"). Por isso, dona Sara, no início, não foi com minha cara nem com um anzol no olho. Fechar parênteses.
E Jussara, por sua vez, estava pensativa quanto ao assunto de casamento. Ela concluiu a faculdade e resolveu fazer uma viagem pelo Nordeste, desde a Ilha de Marajó (PA) até Salvador (BA). Quis ir junto, mas fui vetado. E ela foi, com a irmã e mais duas amigas. E eu fiquei curtindo minha saudade. Renato, meu futuro cunhado, neste meio tempo, soube que estava sendo procurado pela Polícia Federal, em Belo Horizonte, onde estudava, porque fazia parte de um grupo de esquerda na faculdade (lembrem-se, ainda era ditadura militar) que tinha distribuído uns panfletos contra o governo. E decidiu sair do país.
Para não ir sozinho, o cara quis porque quis me convencer a acompanhá-lo. A proposta me pareceu interessante, por um momento, mas eu não conseguia deixar de pensar na Jussara, no que ela estaria fazendo e quando chegaria. Renato insistia: "Não se preocupe, se for amor de verdade ela vai te esperar". Ainda bem que eu não fui, porque ele embarcou num navio cargueiro (cheio de minério de ferro) no Porto de Tubarão, que ia para a Itália, e levou 20 anos para voltar.
Graças a Deus, Jussara retornou antes. Após dois meses ela chegou e, para minha alegria, ainda gostava de mim, continuava sendo minha namorada e aceitou casar. Assim, no dia 16 de dezembro de 1978 (data de nascimento do meu pai) fizemos, na Igreja de Santa Rita de Cássia, os votos de amor eterno (fotos abaixo). Cumpre ressaltar que a noiva observou o atraso regulamentar, mas, fiquei sabendo depois, não porque estivesse se arrumando, mas sim porque queria desistir. Bom, o importante é que ela compareceu. Meus pais ofereceram uma recepção na casa deles, em Camburi. Em seguida, lua-de-mel, em Porto Seguro (BA), numa viagem de carro de pouco mais de 600 quilômetros, com pernoite em Conceição da Barra, na divisa entre os dois estados.
No retorno, iniciamos nossa vida conjugal no mesmo apartamento da rua Eugênio Netto, Praia do Canto, onde nos conhecemos. E já são, até aqui, quase 33 anos de matrimônio, três filhas e, por enquanto, uma neta.
Que vida boa!


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PS: Aviso aos navegantes: em dois textos anteriores - A Rua Sete de Setembro e A antiga Tribuna - foram adicionadas fotografias. Visualizem.

5 comentários:

  1. Que Lindo...
    Jussara vindo em sentido contrário, de óculos escuros, cabelos ao vento, linda, leve e solta.
    "sapo barbudo"
    Detalhe o sapo que virou o príncipe da Juju...
    THE BEST, vou mostrar ao seu afilhado.

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  2. Pois é, depois dizem que aquelas histórias de príncipes e princesas são lendas. O amor tudo transforma - sempre para melhor, naturalmente.

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  3. Ah! O Amor..
    srsrss
    Amo vocês. Minha base

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  4. Primo Rodrigo,

    Fazendo uma busca no google dei de encontro com seu blog, maravilha te ver e lembrar desse houve uma vez na vida. 2 meses atras estive em Vitoria e fui ver tia Tildinha (fui beber um pouco de vida na origem),ela me falou que voce tinha estado em Vitoria ate o dia anterior. Por pouco nao nos encontramos ao vivo e em cores. Jah se passaram uns bons anos que nao nos vemos. Fica pra proxima...bem soh pra fechar quero te lembrar que eu tambem participei deste casamento como primo e como fotografo registrando este grande acontecimento (inclusive estas fotos devem ter sido feitas por mim). As fotos no inicio tiveram mais importancia que tem hoje! Explico: Na epoca, e por um tempo ,serviu de "comprovante" do compromisso de ambos os lados. Hoje, depois de tanto tempo juntos e com sua lembranca tao viva/carinhosa desse momento elas perderam essa utilidade. O tempo, foi e eh o "comprovante" pra voce e Jussara! bju pra voces!

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    1. Oi, Primo. Desculpe o atraso. Em setembro de 2011 quebrei o braço e fiquei quase 50 dias sem poder escrever. Daquela época até hoje é a primeira vez que volto a este blog. Pretendo reativá-lo, se Deus quiser. Sim, com certeza as fotos devem ser de sua autoria. Fica o registro do crédito. Estive em Vitória em outubro/2015, para o aniversário de minha neta, Alice. Renato sempre pergunta por você. Voltarei, caso tudo dê certo, em junho, para o aniversário de 90 anos de minha mãe/sua tia. Quem sabe poderemos nos ver? Amplexos fraternais

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