sexta-feira, 15 de abril de 2011

A antiga "Tribuna"

Tenho um amigo que não gosta de usar a palavra "antiga" ou "antigamente" porque, segundo ele, denota uma idade avançada da pessoa. Geralmente quando se diz, por exemplo, "antigamente era assim ou assado" o cidadão está demonstrando que já passou de meio século, o que, ainda de acordo com meu contemporâneo, pressupõe mais passado do que futuro, o que não é o meu caso, naturalmente.
Chamei, no título, o jornal "A Tribuna", da ilha de Santa Maria (que não é mais ilha), na Avenida Alberto Torres, em Vitória/ES, de antigo tão-somente para caracterizar que estou me referindo a alguma coisa vivenciada e acontecida há 30 ou 32 anos, grãozinho de areia se comparado com a eternidade. Trabalhei lá.
O matutino, que já existia desde 1938, foi comprado, no final da década de 1960 ou início dos anos 70, por um grupo empresarial pernambucano, fabricante de cimento, que havia montado uma indústria em terras capixabas. O herdeiro almejava galgar algum cargo político no estado e modernizou o jornal para alavancar sua eventual candidatura, que não se concretizou porque ele faleceu prematuramente. Foram feitos investimentos em recursos materiais e humanos. 
Eu havia chegado recentemente dos Estados Unidos, onde participei de um daqueles intercâmbios estudantis. Morei seis meses na casa de uma família norte-americana, na cidade de Davenport, Iowa. Estava desempregado, pois para viajar tinha saído de "A Gazeta". Devia ser o ano de 1975, pouco mais, pouco menos. Estava com 18 para 19 anos.
Recebi um convite para ingressar naquela redação e aceitei. Não me arrependo. Foi um dos períodos mais gratificantes e produtivos da minha vida jornalística, até aqui (sabe lá o que pode vir pela frente). Para começar, colocaram para capitanear o projeto o incansável Rubinho Gomes, um dínamo para produzir, uma verdadeira usina de ideias. O editor-chefe era Sérgio Egito (no meio da década de 1980 disputamos a presidência do Sindicato dos Jornalistas e ele ganhou). Compunha também aquela equipe Cláudio Bueno Rocha, o CBR, que trouxe do Rio de Janeiro sua vasta experiência, além de outros nomes expressivos do jornalismo capixaba. Trabalhava lá também um ícone de muitas gerações, Plínio Marchini, mas com funções executivas e com quem não tinha muito contato. E eu no meio daquelas feras.   
Não me lembro se já comecei direto na Editoria de Política, mas ali eu me diverti um bocado. Ainda vivíamos na ditadura militar e os partidos eram somente dois: Arena e MDB. Transitava entre a Assembléia Legislativa e o Palácio Anchieta (os prédios ficam de frente um para o outro), onde o governador (indireto) era Élcio Álvares, mais tarde senador e ministro da Defesa no Governo FHC, quando esse ministério foi criado.
A cobertura desses setores pelo concorrente era feita pela jornalista Maura Fraga. Tínhamos uma relação bem cordial, mas profissionalmente víviamos disputando quem conseguia "furar" o outro (epa, explicação: "furo" é, ou pelo menos era, uma gíria jornalística para notícia exclusiva). Era legal demais comparar as duas edições e ver quem tinha se dado melhor num dia ou noutro.
Apesar do excelente período vivido em "A Gazeta", de 72 a 74, com grandes amizades (os irmãos Carlyle "Nem" e Cláudio "Bagre" Simões, por exemplo) eu era muito novo, menor de idade, e não tinha meu caráter formado e nem experiência para me posicionar na vida. Em "A Tribuna", no contato com o mundo político, convivendo, escrevendo diariamente e compreendendo melhor sobre aquele período da história brasileira, quando o regime militar começou a dar seus primeiros sinais de enfraquecimento, adquiri convicções e posicionamentos muitos dos quais mantenho até hoje.
Ali, também, conheci melhor a produção de um jornal (lembrando que isto aconteceu no século passado). Muitas e muitas vezes eu chegava na redação, datilografava minhas matérias e ficava por ali acompanhando toda a edição, desde o fechamento das páginas, posteriormente a montagem, quando os textos, compostos nos tamanhos determinados pelos diagramadores, eram colados nos respectivos espaços. Via a revisão (hoje essa função - revisor - nem existe mais). Acompanhava o fotolito (fotografia das páginas prontas), a fixação daquele filme nas chapas de impressão, a colocação dos rolos de papel na impressora e a impressão propriamente dita. Ia para casa com o dia amanhecendo, com a edição novinha em folha na mão, como se fosse um pão quentinho recém saído do forno de uma padaria, com a vantagem de que ali eu tinha metido a mão na massa.
E neste ponto eu tenho que prestar uma homenagem ao meu professor nesse mundo além da redação: Ivan Alves Vieira Filho. Ivanzinho, designer gráfico, programador visual, artista plástico, poeta e, acima de tudo isso, uma pessoa muito especial. Tenho por ele uma sincera gratidão por todos os bons momentos que passamos juntos e gosto, quando vou a Vitória, de encontrá-lo para um bate-papo sem compromisso. Com certeza ele será personagem de outros acontecimentos que irei relatar neste blog.
Mas, dizem, que tudo que é bom dura pouco. Os donos do jornal acharam por bem fazer uma redução drástica no número de funcionários, em todos os setores, e meu nome constou na lista dos demitidos. Não sei porque, mas este fato ficou conhecido na categoria como "passaralho". Era final do ano de 1977, verão no sul maravilha, sol e calor. Saí da empresa com um bom dinheiro no bolso e resolvir curtir.
Incrementei (som, volante pequeno, rodas de magnésio) uma Brasília usada que meu pai me deu ao comprar um carro novo (parece que era uma Belina) e fui para a praia. Três meses na malandragem. E aí, nas voltas que o mundo dá, conheci Jussara.

Da esquerda para a direita: meu primo Sérgio Larica Bomfim, os jornalistas Cláudio "Bagre" Simões, Ivan "Ivanzinho" Alves Vieira Filho e eu. Foto tirada na casa (porão) da rua 7 (leia texto anterior) no aniversário de dois anos da minha filha Raissa, que aparece com um vestido vermelho (E).


2 comentários:

  1. Hunm Conheci "Jussara", muito bem agora descreva sua história com a primeira dama desse BLOG.
    Uma pergunta para "Pachequinho":
    - Tem algum problema ser "induzido" a escrever algum assunto que uma leitora queira?
    Ps. Que nem o meu comentário inicialmente.

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  2. Problema nenhum. Até facilita, porque dá ao blogueiro condição de interagir com os leitores. Seu pedido, dra., está deferido. Aguarde.

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