terça-feira, 12 de abril de 2011

Começar é que são elas

Nos meus tempos de "foca" (não é uma encarnação que eu tive desse animal, é o repórter novato) a maior dificuldade que eu tinha era começar o texto de alguma reportagem, ou seja, fazer o "lead", o primeiro parágrafo, respondendo às famosas perguntas: o que?, quando?, onde?, como? e por quê? Naquela época, o início deveria ter no máximo sete linhas e dar logo as informações principais, porque se houvesse algum "estouro", ou seja, na montagem da página a notícia não coubesse no espaço que o diagramador tinha calculado, a reportagem seria "cortada pelo pé" (parte final). E aí o leitor poderia ficar sem saber de algum detalhe importante.
Hoje, ao me sentar na frente do computador para fazer esta segunda postagem, me lembrei disso aí, porque fiquei pensando no que escrever e de que maneira iria iniciar este comentário. Mas, a exemplo daqueles meus primórdios na profissão, adolescente ainda, após as primeiras linhas as outras vêm com naturalidade, numa sequência lógica e a vontade é teclar sem parar. Aliás, eu gostava de escrever matérias que rendessem cinco, seis laudas ou mais.
Esse exercício que me propus a fazer (hoje parece que estou escrevendo mais para mim mesmo do que para algum eventual leitor ou leitora) propicia emergir na minha memória lembranças de acontecimentos e jornalistas que me deram as primeiras dicas, dentre eles, por exemplo, Francisco Flores, o popular "Chico Flowers", Selmir Cícero de Miranda e Jackson Lima, o trio que comandava a redação de "A Gazeta" naquela longíngua década de 1970. Outros vieram, é claro.
Me lembro que eu chegava nos lugares e as pessoas não botavam muita fé como é que aquele rapaz de 15 anos tinha a coragem de se apresentar como repórter do maior jornal da cidade. Mas para mim era o máximo. Devo explicar que fui contratado através de um concurso (com provas de conhecimentos gerais e redação) que o matutino promoveu. Dos 10 ou 15 que participaram ficamos eu e Zuleika Savignon.
Minha primeira notícia publicada, em três colunas (um destaque razoável, pois a página do jornal tinha oito colunas), foi sobre a implantação, em Vitória, do sistema DDD - Discagem Direta à Distância, que dispensaria o auxílio da telefonista para ligações interurbanas. Isso é que é progresso. Mais na frente, já sob a direção de Marien Calixte e Rogério Medeiros, assinei uma matéria sobre como dirigir economizando combustível, pois eram dias de racionamento do petróleo.
Marien, sempre elegante, pediu-me que determinasse a maneira pela qual assinaria o texto - Rodrigo Pacheco ou Rodrigo Bomfim Pacheco - explicando-me que precisava definir como seria conhecido ao longo da carreira. Escolhi a primeira opção. Já entre os colegas, em face da minha juventude, era chamado de "Pachequinho". E aí foram mais algumas centenas (ou milhares) de linhas escrevendo sobre tudo: política, esporte, economia, polícia, geral etc e tal. Durante um ano ou dois, tudo que escrevia e era publicado eu recortava e colava nas folhas de um caderno para desenho. Guardei um bocado deles, mas sumiram, posteriormente. Nem imagino qual era meu objetivo em fazer aquilo, além, é claro, da imensa satisfação de saber que aquele espaço no jornal era de minha autoria. Cada doido com sua mania, né mesmo?
Bom, estou esticando muito o assunto e, por isso, acho melhor fazer uma pausa por aqui. Amanhã continuarei.


7 comentários:

  1. Legal saber das suas histórias de jovem.
    Tem horas que o pai, principalmente quanto tem tantos cabelos brancos, nem parece ter vivido essas primeiras experiências.
    Acho que Vovô deve estar feliz por você estar escrevendo novamente.
    Te Amo!
    Beijos

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  2. Bem legal! Quase que me tornei uma foca, mas, segui rumos diferentes. rsrsrs

    Bjãoooo

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  3. Nada como ter duas leitoras tão fiéis. Amo vocês também. Bjs.

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  4. Muito bom saber dessas histórias, isso nos faz lembrar que um dia também poderemos contar aos nossos, que tivemos começos... apesar de ainda não ser nenhum veterano em minha profissão, lembro quando comecei meu estágio na Caixa Econômica, a advogada me deu um agravo de instrumento para fazer e eu demorei mais ou menos umas 5 horas estudando como iniciar meu texto... porém, tal qual a profissão de jornalista, o advogado é parecido, no início é complicado, chega a ser até amedrontador, mas depois que pegamos a prática, aí o problema é parar de escrever... abraço..

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  5. É isso aí, Dr. Abreu. Conforme todos sabem, qualquer caminhada, seja de dez ou de mil metros, começa com o primeiro passo. Grande abraço,

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  6. uahuahuhaa (foi assim que conclui minha leitura hoje).
    Motivos:
    1. Fiquei imaginando sua aparência como uma "foca" ao decorrer a leitura entendi o significado.
    2. É engraçado imaginar através da leitura seu comportamento tão jovem, mas ao mesmo tempo maduro o suficiente para enfrentar o que os "mais velhos" achavam de você.
    3. Que motivo você tinha para guardar suas publicações? Ah sei lá ninguém percebeu que, estava ali parte da sua história e que você iria um dia ser convidado por um programa estilo Jô Soares ou Marília Gabriela e contar "Olha aqui gente, eu já escrevi várias publicações no jornal A Gazeta. Queria ficar famoso né...
    Esta quase lá!
    Prossiga

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  7. Uahuahuhaa quer dizer que deu sono, é? Espero que não. 1) Pois é, cada comparação: "foca" com jornalista novato. Vou pesquisar o motivo. 2) É que desde novo eu já era um pouco metido. Tô melhorando. 3) Queria não, quero! Vamos em frente.

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