domingo, 1 de novembro de 2020

Novembro

 

E 2020 caminha célere para o seu final.

 

Quase 365 dias já se passaram, dos quais mais da metade limitados pela quarentena por conta do novo coronavírus.

 

Um período histórico inédito para toda a humanidade. Na vontade de muita gente, um ano para ser esquecido.

 

        Contudo, vejo diferente.

 

          Quanto mais lembrarmos da Covid-19 mais poderemos aprender (e praticar) as lições que a pandemia nos trouxe, até porque não existe ainda certeza de que o perigo acabou.

 

          Neste sentido, faço minhas as sábias palavras da magistral escritora chilena Isabel Allende, em recente entrevista, que vive nos Estados Unidos há três décadas. Com 78 anos, ela garante que não tem medo da morte, que considera “uma transição, um limiar, que olho com curiosidade”.

 

          A autora de A Casa dos Espíritos, entre outras obras, acredita que “nunca foi tão claro para mim que preciso de muito pouco para viver. Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso de ir a lugar nenhum, nem viajar, agora vejo que tenho coisas a mais. Não preciso de mais de dois pratos”.

 

          Verdadeira cidadã do mundo (nasceu no Peru e, também, tem nacionalidade norte-americana), quando questionada sobe o ensinamento do momento atual para as pessoas de um modo em geral, afirma: “Ensina-nos a fazer a triagem das prioridades e mostra-nos a realidade. Sublinha a desigualdade de oportunidades e recursos em que vive a sociedade globalmente. Alguns passam a pandemia num iate nas Caraíbas, e outros passam fome, nas ruas ou em casas fechadas”.

 

          Considerada a escritora viva de língua espanhola mais lida do mundo (seus 22 livros já foram traduzidos para 35 idiomas), Isabel Allende entende que “somos uma grande família. O que acontece em Wuhan tem reflexo no planeta inteiro. Não existem muralhas ou paredes que possam separar as pessoas. O vírus convidou-nos a desenhar um novo futuro. Estamos todos ligados”.

 

          Lúcida, acrescenta: “Percebi que viemos ao mundo para perder tudo. Quanto mais vives, mais perdes. Primeiro perdes os teus pais ou pessoas muito queridas, os teus animais de estimação, alguns lugares e depois lentamente vais perdendo as tuas próprias faculdades físicas e mentais. Não podemos viver com medo. O medo estimula um futuro negro para ser vivido no presente. É necessário relaxar e apreciar o que temos e viver no presente”.

 

          E finaliza: “O que essa pandemia tem me ensinado é me libertar das coisas. Nunca foi tão claro para mim que preciso de muito pouco para viver. Começo a perceber quem são os verdadeiros amigos, as pessoas com quem eu quero estar”.

 

          O óbvio revelado, mas que estava oculto para muitos. Foi preciso uma situação extremada para que os povos de todos os cantos do mundo procurassem uma conexão maior com algo superior, indefinido, mas que é sentido, como se palpitasse junto a nós. A certeza de nossa pequenez desvendada por uma patologia surpreendente, que não discrimina ricos ou pobres, brancos ou negros, ateus ou crentes.

 

          Ao final de tudo (quando será, pois já se fala numa segunda onda?) o que emergirá do que sobrar? Coisa melhor, espero ver e poder contar.

 

          Felicidades para todos.

 


 

         

 

         

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