domingo, 15 de novembro de 2020

Vilarejo

 


          Zapeando sem compromisso os canais da televisão aberta parei um pouco para assistir uma reportagem (desculpe, não prestei atenção em qual emissora ou programa) sobre uma festa tradicional que imigrantes portugueses realizam num determinado local do Brasil lembrando a terra de origem, tudo com muita dança e alimentos típicos.

 

          Uma simpática lusitana entrevistada, com mais de 40 anos vivendo neste paraíso tropical, em resposta à pergunta sobre o que mais tinha saudades de Portugal, falou que era o povoado onde havia nascido e passado a infância e parte da adolescência, em que todos se conheciam e o sentimento de comunidade era latente.

 

          Continuei a girar os canais, mas fiquei pensando no assunto, como as nossas raízes são importantes, pois, na maioria das vezes, lastreiam toda uma vida futura, por conta de vivências, sentimentos e amizades que perduram por anos.

 

          Fala-se, por exemplo, que, na realidade, a essência de todas as coisas é una, o micro representa, em escala proporcional, é claro, o que está contido no macro. No dizer da escola atribuída a Hermes Trismegisto, o Três Vezes Grande, sábio egípcio reverenciado por muitos alquimistas, neoplatônicos e místicos, “o que está em cima é como o que está embaixo” (Lei da Correspondência – uma das setes que teriam sido fixadas pelo filósofo no livro Caibalion).

 

          Tudo isso talvez seja muito papo cabeça, mas exprime, salvo melhor juízo, a relatividade das coisas. Afinal, o ser humano pode fazer de seu vilarejo – seja o de nascimento, seja o de residência – o centro de universo. Um amigo mudou-se recentemente para outra cidade, em outro Estado. Passou a considerar o novo domicílio “o melhor lugar do mundo”. Por quê? “Ora, porque é lá que estou morando”.

 

          Neste planeta tão grande e com tantos lugares incríveis, viver numa metrópole de milhões de habitantes ou numa remota localidade do Círculo Ártico, até mesmo numa pequena ilha escondida no meio do oceano, talvez nem faça diferença para um homem ou uma mulher obter felicidade, ter paz interior e entender que fios invisíveis nos mantêm conectados de forma imperceptível porém permanente.

 

          A dura realidade cotidiana não favorece muito compreender essa conectividade. Mas a gente querendo ou não, sabendo ou não, as coisas se movimentam conforme uma organização além da nossa compreensão. Afinal, o universo não quer saber de nenhuma mazela material, simplesmente cumpre o seu destino inexoravelmente.

 

          Enquanto isso, tal e qual a saudosa patrícia, a vida segue, entre uma lembrança e outra, mas sempre em frente, para que, ao final, tudo se conclua do jeito que é para ser.

 

          Mas que vontade de voltar à terrinha.

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