Um amigo meu, já acima dos 65 anos, começou a falar sobre o que deixar para filhos, netos e bisnetos. Não bens materiais, pois ele, espírita que é, sabe que esses não são perenes e pouco representam ao longo dos tempos.
Sua preocupação é com seu nome, sua
imagem e lembranças que a família e aqueles que o conhecem poderão ter quando a
morte tomar conta do corpo material. A construção de uma história de vida exige
muito esforço e determinação. Poucos são aqueles, homens e mulheres, que
envelhecem sem arrependimentos, que podem dizer que nunca magoaram ninguém ou
mesmo que foram 100% corretos em todas as suas atitudes.
A coisa mais difícil que existe é o
relacionamento humano. Viver em comunidade, mesmo que esse convívio seja restrito
apenas às pessoas que habitam a mesma casa, demanda esforços diuturnos e esmeros
imensuráveis com o que se diz e o que se faz. Quebrar uma harmonia aparente é
mais rápido do que estalar os dedos. Basta uma palavra dita fora do contexto.
Basta um gesto impensado. Basta um olhar descuidado.
Ninguém passa por este planeta impune.
Qualquer ação tem suas consequências. Por isso, já diz o ditado popular de
grande sabedoria: Todo cuidado é pouco. Atualmente, é sabido que impera na
humanidade, de uma maneira geral, a regra de se procurar levar vantagem em
tudo, onde os mais fortes política e economicamente oprimem os mais fracos.
Esquece-se a ética para dar-se vazão aos conceitos resumidos em outro dito também
muito conhecido: Farinha pouca, meu pirão primeiro.
Dizem que a atual situação pandêmica
ocasionada pelo novo coronavírus tornou as pessoas mais solidárias. Pensava dessa
maneira. Agora, tenho minhas dúvidas. Basta ver a recente polêmica sobre a
vacina que servirá para imunizar a todos – adultos, jovens e crianças, pobres e
ricos, pretos e brancos. Políticos preocupados somente com o próprio ego digladiam
em detrimento do bem-estar comum.
Mas, voltando à vaca fria. Sem dúvida,
uma existência digna e honrada, mesmo que anônima, é o melhor legado que se
pode deixar aos descendentes. Viver é bom, mas saber viver é melhor ainda.
Meu amigo, acredito, é um digno exemplo disso,
pois mesmo os tropeços juvenis não impediram que chegasse à terceira idade, ou
como queiram chamá-la, ciente de que contribuiu para tornar o mundo melhor e
pode dormir toda noite tranquilamente.
Eu também quero fazer a minha parte, e
merecer, quando chegar a minha hora de partir, uma palavra amiga, amorosa e
sincera dos que ficarem, pois “quando a saudade for por mim a preferida/não há
remorsos a cruzar os passos meus” (Bendito seja, composição de Alba e
imortalizada na voz marcante de Marinês).
Que Deus permita!
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