Até uns dias desses era comum as
pessoas perguntarem coisas do tipo:
- Onde estão as chaves do carro?
- Alguém viu meus óculos?
- Quem pegou meu celular?
Com o advento da pandemia e, mais
recentemente, a retomada gradual da liberdade de movimentação, uma nova
indagação passou a fazer parte do cotidiano de homens e mulheres, pelo menos
daqueles que querem colaborar no esforço coletivo de controle do novo
coronavírus. A questão incorporada ao dia a dia é:
- Cadê a minha máscara?
Ou por outra: minhas máscaras. Afinal,
se for para seguir à risca o protocolo sanitário (troca após duas horas de uso,
lavar quando chegar em casa) cada cidadão(ã) precisa no mínimo de duas, mas o
ideal, conforme descobri na prática, são três.
Inicialmente, comprei duas, uma verde
e outra azul. Depois, ganhei uma camisa de minhas filhas, e veio de brinde uma
máscara de cor preta. Assim, fiquei usando-as até que, inexplicavelmente, a máscara
verde sumiu, e pouco dias depois a azul também desapareceu, ambas como se
tivessem vida própria. Improvisadamente, comprei outra numa banca de revistas,
até que, por acaso, localizei a máscara azul no bolso de um casaco.
Tenho um amigo que só tem uma, que deixa dentro do carro. Faz uns seis meses que a máscara está lá. Não raras vezes
ele vai ao supermercado ou a uma padaria e tenta entrar sem o, digamos,
equipamento de segurança, mas é barrado. Então, volta no veículo para buscar a
dita máscara, que nunca foi lavada. Pertence à turma negacionista, com todo
direito a ter essa e outras opiniões sem fundamentação.
Máscara no queixo também tem sido uma
das preferências nacionais. Avistei numa farmácia um senhor que aparentava beirar
os 80 anos de idade que tinha adotado a seguinte indumentária: máscara no
queixo, viseira de plástico levantada na altura da testa e capa de chuva, como se
fosse uma paramentação médica, aberta e esvoaçante. Resumindo: não estava se
protegendo coisíssima nenhuma.
Confesso, entretanto, que esse negócio
de andar camuflado já está dando gastura. São muitos os memes sobre o tema,
pois num passado recente mascarado ou era bandido ou estava indo para um baile
de Carnaval – exceção às máscaras profissionais de médicos, dentistas, soldadores,
esportistas e outros mais.
Etimologicamente discute-se até hoje a origem
do vocábulo. Alguns acreditam que poderia ser proveniente do latim (mascus ou masca;
"fantasma") derivado do árabe (maskharah,
palhaço; e do verbo sakhira,
"ao ridículo"). Mas ela também poderia ser proveniente do hebreu (masecha), cuja tradução
seria algo como "ele zombou, ridicularizou" (obviousmag.org/anna_anjos/2013/11/a-origem-da-mascara.html).
Jesus, em sua infinita sabedoria, diz que não
se deve julgar pelas aparências. Estuda-se atualmente, se as feições do rosto humano podem
dizer alguma coisa do caráter de uma pessoa. Existem até uma técnica denominada
Fisiognomonia dedicada ao tema. Na prática, ensina a pesquisadora Valquíria
Martinez, que
lançou recentemente o livro Os mistérios do rosto (Ed. Madras, 168
páginas), a
leitura é feita a partir da associação entre formas geométricas dos elementos
da face e características de personalidade. Por exemplo: maçãs do rosto e
maxilares salientes denunciam pessoas ciumentas, assim como olhos e queixos
mais arredondados apontam para alguém maternal, dócil. Com o avançar da idade,
os traços hereditários perdem importância diante das linhas de expressão e
outros sinais adquiridos.
Se antes muita gente falava uma coisa e
pensava em outra, avalia com a oportunidade de se esconder dizendo que está evitando ser
diagnosticado com a COVID-19. Para alguns, funciona como um duplo esconderijo:
uma máscara sobre a outra.
Bom, o que eu sei é o seguinte: a meu ver,
quanto mais cedo as máscaras caírem será melhor para todos – e isso tanto no
sentido popular (fulano deixou cair a máscara, ou seja, botou as manguinhas de
fora), quanto no aspecto técnico que pode significar o fim da pandemia. Utopia,
dirão, principalmente no que diz respeito ao primeiro item, mas o que seria de nós sem sonhar?
E enquanto o José Simão procura o colírio
alucinógeno dele, eu vou atrás de encontrar a minha máscara (a de pano, bem
entendido).
- Cadê a minha máscara?
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