domingo, 18 de outubro de 2020

Diferenças


          O jornalista Lauro Jardim informou em sua coluna virtual de O Globo, o famoso jornal carioca dos Marinhos, que uma família paulista, que ele não identificou, enviou para o exterior (sem informação quanto ao país de destino) a bagatela de 50 bilhões de reais – atenção: foram 50 BILHÕES DE REAIS. Para tanto, os bilionários não se importaram em pagar a módica quantia de R$ 2 bilhões em impostos. Tudo transparente e na maior legalidade fiscal.

 

          O salário mínimo vigente no Brasil atualmente é de R$ 1.045,00. O valor diário é de R$ 34,83; e o valor por hora, está em R$ 4,75. Matematicamente, é óbvio, é possível calcular quantos anos um trabalhador precisaria ralar oito horas por dia, seis dias na semana para amealhar tamanha fortuna. Mas não quero entrar nesse mérito estatístico. Imagino que os afortunados biliardários da terra da garoa tenham conseguido todo esse dinheiro laborando com afinco diuturnamente. Só que não.

 

          Impossível ficar rico nessa magnitude somente ganhando o pão de cada dia com o suor do rosto. Acredito que seja possível, sim, poupar o suficiente, o famoso pé-de-meia, para ter uma estabilidade financeira que garanta dias mais tranquilos no ocaso da vida, mas conseguir 50 bilhões de reais, convenhamos, tem alguma coisa do tipo “dinheiro na cueca”. E levar tudo embora, para usufruto em terras estrangeiras, é quase um acinte num momento em que a taxa de desemprego alcança a triste marca de 14 milhões de pessoas.

 

          Enquanto discute-se nos cantos dos prédios mais famosos do Planalto Central a melhor maneira de ferrar com quem já tem menos para garantir alguma coisa para quem não tem quase nada, especuladores em gabinetes refrigerados fazem jogadas e montam esquemas que mantenham e até mesmo aumentem seus ganhos tão somente com aplicações virtuais, sem produzir um único parafuso, sem dar empregos e sem taxações leoninas, a exemplo de quem tem o Imposto de Renda descontado na fonte.

 

          E isso não é privilégio tropical. A prestigiada revista econômica Forbes publicou uma reportagem mostrando que “o novo coronavírus elevou a riqueza total dos bilionários ao seu nível mais alto. Desde o início da pandemia, a riqueza total mantida por bilionários em todo o mundo aumentou 25%, para mais de US$ 10 trilhões. Entre abril e julho, os bilionários tiveram um aumento de sua riqueza em 27% – US$ 8 trilhões no início de abril. Isso foi em grande parte graças aos pacotes de estímulo dos governos. À medida que os mercados sobem, como vêm ocorrendo desde março, os mais ricos acumulam maiores ganhos. O pacote de alívio econômico sancionado pelos Estados Unidos contra o coronavírus, CARES Act, apenas ajudou nessa valorização. Uma brecha na legislação de março permitiu que os milionários se beneficiassem da quantia de cerca de US$ 1,7 milhão do governo norte-americano. Desde então, outras 133 grandes empresas receberam US$ 5 bilhões do Tesouro do país. Já no Reino Unido, os pacotes de estímulo do governo no valor de mais de £ 16 bilhões (US$ 20,6 bilhões) foram diretamente para empresas de propriedade de bilionários, segundo dados divulgados em junho” (https://www.forbes.com.br/negocios/2020/10/riqueza-de-bilionarios-quebra-recorde-na-pandemia-e-bate-us-10-trilhoes/).

 

          Quer dizer: quem era rico, ficou mais rico; quem era pobre, ficou mais pobre. Quem estava no meio, está mais perdido que cego em tiroteio.

 

          Pode-se dizer que desde que o mundo é mundo que existem diferenças sociais e econômicas. Não sei quando isso começou, mas acredito que nunca a distância entre o topo da pirâmide e a base foi tão acentuada. Bom, há quem diga que tudo isso acontece porque as pessoas não sabem como "atrair" riquezas.

 

          O professor Hélio Couto, especialista em ferramentas para desenvolvimento pessoal, é um estudioso que procura apresentar uma visão quântica, a meu ver, se me permitem esse entendimento, do que faz uma pessoa ser “bem de vida” ou “vender o almoço para comprar o jantar”. Ele tem muitos livros e textos publicados, além de manter um prestigioso site, mas destaco aqui um pequeno parágrafo, não sei de qual obra, que me foi enviado no “zap, zap”.

 

          Diz assim: “O que cria a riqueza ou o que quer que seja? A mente. A consciência. Tudo que pensamos é criado. Então basta trabalhar para trazer o que já está criado no astral para a terceira dimensão. Esta dimensão é um espelho da dimensão acima que é a dimensão real. O que pensamos é criado no astral e depois vem para o mundo material. Leva um tempo dependendo de a pessoa não sabotar o trabalho. Caso ela duvide, ela cancela o que fez. Cancela o colapso da função de onda. E volta tudo atrás. Caso reclame, fale de pobreza, tenha desespero, ansiedade, pense em coisas negativas, etc. anulará o que criou. Para manifestar é preciso ser constante. Aquele que é próspero cria e vai cuidar de outra coisa. Sabe que já está criado e aparecerá na hora certa. Sem pressa, sem pressão, sem ansiedade, sem desespero, sem dúvida. Por isso, paciência é fundamental nisso”.

 

          Fácil, né?! Vá dizer isso para um pai de família que pega um monte de condução para após não sei quantas horas chegar num emprego onde é sugado e moído, depois volta para casa e, em seguida, com umas poucas horas de sono, recomeça tudo novamente.

 

Nada contra o ilustre estudioso e seus congêneres. Afinal, eu também sou um pouco místico e tenho minhas convicções quanto aos mistérios e segredos que regem o Universo. Mas será que a situação do povo humilde e sofrido terá solução apenas com uma intervenção divina para se chegar numa equanimidade?

 

Sou solidário ao inesquecível Luiz Gonzaga, que na bela composição Procissão clamou aos céus: “Muita gente se arvora a ser Deus e promete tanta coisa pro sertão/Que vai dar um vestido prá Maria, e promete um roçado pro João/Entra ano, sai ano, e nada vem, meu sertão continua ao Deus dará/Mas se existe Jesus no firmamento, cá na Terra isso tem que se acabar”.  

           

          Afinal, gente, foram inimagináveis 50 bilhões de reais.        

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