terça-feira, 13 de outubro de 2020

Feriadão

 


          Nada como um bom feriado prolongado para que os nossos concidadãos, tão afeitos à ordem e à obediência, vide exemplo maior oriundo do Planalto Central, deixem, literalmente, cair a máscara.

 

          Fazia tempo que não se via tanta gente neste trecho do litoral capixaba, abençoado por Deus e bonito por Natureza, se me permite o plágio, grande Jorge Benjor.

 

          Ruas cheias de carros. Calçadas lotadas de pedestres. Vendedores ambulantes à vontade oferecendo churros, churrasquinhos, milho verde, doces caseiros, empadinhas e bolinhos diversos, entre outras iguarias, além, é claro, de refrigerantes, sucos e cervejas.

 

          Máscaras? Coisa do passado. Distanciamento social? Uma lembrança remota. Na areia da praia, pessoas de todas as idades confraternizam como se nada estivesse acontecendo. E olhe que choveu bastante no final de semana, mas quem já veio com o pacote comprado não vai ficar entocado num quarto de hotel, ou num apertado apartamento de temporada, esperando o tempo melhorar.

 

          Os restaurantes, bares e pizzarias viveram dias de glórias, como se estivessem num daqueles verões mega movimentados. Quem tem o costume de fazer uma saudável caminhada ao alvorecer precisa se desviar dos entulhos largados pelos nem tão cuidadosos visitantes, tais como latinhas vazias, canudos, guardanapos, restos de alimentos e restos diversos, apesar do esforço dos trabalhadores do serviço de limpeza pública.

            Ao entardecer, o footing ao longo do calçadão reúne famílias inteiras, enquanto os proprietários dos quiosques recém abertos após mais de seis meses fechados capricham, e o cheiro facilmente reconhecível de camarão e peroá fritos é carregado pelo vento atraindo os consumidores. Chama a atenção um especialista em malacologia, o ramo da biologia que estuda os moluscos, que oferece a quem possa interessar diversos tipos de conchas grandes (daquelas em que se ouve o som das ondas), estrelas-do-mar e cavalos-marinhos de tamanhos variados.

         Interessante observar que os inúmeros edifícios construídos ao longo da orla praiana mostram uma desocupação ainda significativa, porque são poucos os apartamentos com luzes acesas. Prédios inteiros permanecem às escuras. Fico a imaginar o sufoco que será quando o auge da temporada chegar brevemente.

          Dizem que na Europa teme-se uma tal de segunda onda do coronavírus, mas por aqui se duvidou até da primeira fase, portanto não é de se estranhar que a rapaziada esteja se achando no direito de tocar em frente. Tudo bem. Também acho que a vida deve continuar. Mas, sei lá eu se realmente estamos prontos para a liberação generalizada que presenciei nos últimos dias?

 

           Não quero ser pessimista, e nem empatar a vibe de ninguém. Estou sabendo que muita gente precisa trabalhar e ganhar o próprio sustento. De outro lado, homens e mulheres, sem contar inúmeras crianças, sofrem com o desgaste emocional de uma vida entre quatro paredes, como se fosse uma “prisão domiciliar”. Não é o meu caso, porque ficar em casa nunca foi um problema para mim.

 

Porém, gostaria que a prudência não fosse abandonada assim tão repentinamente. Tomara que esteja enganado, e que, realmente, a pandemia deixou de ser uma preocupação e se tornou, tão somente, uma página virada da história mundial, apesar de algumas evidências científicas em contrário. Essa, sem dúvida, será uma grande e excelente notícia.

 

Enquanto isso, aguardemos o resultado em relação aos casos (Aumentaram? Diminuíram? Ficaram estáveis?) após esse período de festas, porque o próximo feriadão não está longe.

 

Quem viver, verá!  

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