Confesso. Furei a quarentena.
Estou classificado no dito grupo de
risco, considerando a previsão do Estatuto do Idoso de ter idade igual ou superior a 60 anos. Já a
Organização Mundial da Saúde, em documento de 2002, define essa condição a
partir da idade cronológica, portanto, idosa é aquela pessoa com 60 anos ou
mais, em países em desenvolvimento e com 65 anos ou mais em países
desenvolvidos.
Quer dizer, se eu morasse
nos Estados Unidos ou na França, por exemplo, ainda teria mais dois anos antes
de me enquadrar na definição da OMS. Porém, nasci, fui criado e resido no
Brasil. Sendo assim.....
Porém a pesquisadora Ana Amélia Camarano, especialista do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada) em envelhecimento populacional, considera esse
conceito ultrapassado. "Hoje quem tem 70 anos é como quem tinha 50 anos
tempos atrás. Uma pessoa de 60 anos, mesmo na classe mais baixa, não é idosa
como foram nossos avós", garante a estudiosa, conforme reportagem
publicada na Folha de São Paulo em 26/06/18.
Me sinto nessa condição, de quem está
próximo de inteirar 63 anos de idades, mas alerta o suficiente para me garantir
como um quarentão. Em tudo, diga-se de passagem. Pensando bem: quase tudo. As
estripulias noturnas nos bares da vida e as aventuras futebolísticas já ficaram
para trás. No mais, como se diz no popular, está tudo em cima.
Bom, voltando ao “furo” na quarentena.
Minha mulher de quase 42 anos de
casamento, que raramente pensa nela ou pede alguma coisa para si mesma (às vezes
isso me incomoda um pouco, mas aí é outro assunto), manifestou vontade de comer
o famoso bolinho de aipim (mais de 300 gramas de peso) da Barraca da Zezé que é
vendido na praia de Meaípe. Telefonamos, mas eles não têm delivery.
O jeito foi pegar o carro e ir lá. É
um passeio agradável, passando pela praia do Riacho e pela Enseada Azul até
Meaípe, em aproximadamente 20 quilômetros. Todo mundo de máscara e mantendo
distanciamento mínimo de 2 metros. Feito o pedido para viagem, ficamos olhando
o mar e o que restou da praia.
Sim, porque a faixa de areia
praticamente deixou de existir. O mar avançou na rua e muitos trechos foram
engolidos. O final da praia ainda mantém seu ar bucólico, com os barcos de
pesca ancorados, as pequenas casas dos pescadores e a igrejinha branca e azul
em homenagem à Senhora Sant’Ana recortada ao fundo. Mas banho de mar mesmo
parece que já era, a não ser que os banhistas pulem da calçada diretamente na
água.
Dizem que a origem do problema está o
Porto de Ubu, administrado pela Samarco Mineração, e as retiradas de areia para
aumentar o calado de acesso ao local. A empresa, porém, nega qualquer responsabilidade.
Enquanto isso, são adotadas medidas paliativas, como fazer, novamente, um muro
de contenção, pois o anterior a maré derrubou. E Meaípe fica sem a sua orla e
todo o potencial turístico daí advindo.
E o que isso tem a ver com a quarentena?
Nada. São apenas reflexões ocasionadas pelo passeio dominical que não estava
previsto na agenda, que nos últimos tempos está com suas páginas em branco,
pois o que foi feito ontem, é o mesmo de hoje e será igualzinho amanhã: coisíssima
nenhuma.
Contudo, valeu a pena, não só por conta do passeio, mas por rever aquela que era uma das minhas praias preferidas. Antes que acabe de vez. Se minhas
filhas não me pressionarem muito, é capaz de eu dar algumas outras escapulidas.
Discretamente e com cuidado.
Espero que o guarda não me pegue.
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