Acordei e depois daquelas atividades
corriqueiras de toda manhã (lavar o rosto, fazer xixi, escovar os dentes) fui
dar uma olhada nos sites noticiosos, um hábito matutino também. Entre
aquelas informações repetidas e enjoativas, tipo pandemia, política e políticos
e desculpas esfarrapadas sobre causas do atraso no auxílio emergencial, vi uma
realmente importante: hoje, 10 de julho, é o Dia Nacional da Pizza.
Pizza, todo mundo sabe, é aquela massa
redonda e recheada com queijo, tomate e algumas outras iguarias. Atualmente fazem
até uma tal de pizza doce (eca!). A efeméride foi instituída em São Paulo, no
ano de 1985, quando o então secretário de Turismo Caio Luiz de Carvalho
promoveu um concurso estadual para eleger as dez melhores receitas. O sucesso
foi tamanho que ficou determinado que o encerramento do evento, em 10 de julho,
ficasse como data oficial para homenagear a pizza.
Aliás, essa criação egípcia mas, nos
tempos mais recentes (século XVI), difundida mundialmente pela culinária italiana
a partir da época em que os primeiros tomates foram levados da América para a
Europa, recebeu também uma homenagem da Unesco, que elegeu em dezembro de 2017
a "Arte dos Pizzaiolos Napolitanos" como Patrimônio Imaterial da
Humanidade. Em Nápoles, sabe-se, nasceu o formato parecido com as pizzas atuais
por Raffaele Esposito, que criou a famosa margherita, nome
que lembra a rainha Margherita de Savoia e cujos ingredientes têm as cores da
bandeira italiana: verde (manjericão), vermelho (tomate) e branco (mozzarella
fresca).
Bom, essa
pequena introdução histórica foi feita tão somente para falar da minha relação
com essa delícia. Durante uma época da minha vida eu gostava basicamente de
arroz, batata frita e bife. Um dia, em visita à casa de minha Tia Marlene, me deparei
com uma pizza que ela havia feito para o lanche de seus dois filhos, meus
primos. Perguntado se queria um pedaço, recusei.
- Por quê? –
quis saber minha tia.
- Não gosto
– afirmei, simploriamente.
- Mas você
já provou alguma vez? – indagou.
- Não –
respondi, ligeiramente envergonhado.
- Então,
prove – sentenciou.
Sem
argumentos, resolvi fazer o teste. Quando mordi o primeiro pedaço senti como se
tivesse encontrado um maná caído dos céus. Que coisa era aquilo? Como, até
então, nunca tinha comido uma pizza? O queijo derretido, a massa crocante, o molho
de tomate: impossível, pensei, doravante, ficar sem esse néctar divino. E me
tornei, até hoje, fã incondicional.
Parênteses:
Tia Marlene é uma das pessoas mais positivas que conheço. Com ela não tem tempo
ruim, enfrentando a dificuldade que for. Toda a vida tem um conselho, uma
palavra oriental. Na fazenda do pai dela, no Guaçuí, me causava admiração como
ela andava por aquelas estradas, pilotando um Jeep com maestria, numa época em
que, preconceituosamente, eu achava que mulher não sabia dirigir. O marido
dela, Tio Rogério, irmão do meu pai, é outra figura ímpar. Coincidentemente,
encontrei-o nesta data no supermercado. Falei com ele, não me reconheceu, de
início, e depois alegou que era por causa da máscara. Uma lista de compras e feliz
da vida, aos 93 anos, ainda dirigindo, porque a validade de sua CNH, que
venceria em maio, foi prorrogada (aliás, de todas) por conta do isolamento
social. Gente boa. Um casal do bem. Fecha parênteses.
Voltando ao
tema inicial dessa crônica.
Posteriormente,
na casa de minha mãe, toda a sexta-feira à noite tinha pizza feita em casa
(massa e recheio) por uma empregada doméstica chamada Teresa. Ficou famosa, e
motivo de visitas de muitos parentes e amigos. Eram vários tabuleiros, mas
todos de muçarela. Gostoso demais. Comia-se muito naquelas noites. E quando
sobrava alguma coisa, eu aproveitava no almoço do dia seguinte. Com arroz, me
perdoem os puritanos.
Hoje em dia,
por conta da idade e de uma tendência a engordar facilmente, estou maneirando
mais, principalmente nestes momentos pandêmicos, onde comer e dormir parecem as
únicas alternativas viáveis para quem está de quarentena. Quando subo numa
balança pulo fora logo que o ponteiro chega em 80 quilos, que é para não ver o
resto.
Porém, no
Dia Nacional da Pizza, acho que posso abrir uma exceção.
Que venha uma de
calabresa, sem cebola.
Buon appetito!
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