Para alegria de todos aqui em casa a
minha primeira neta, com quase 12 anos de idade, veio almoçar com a gente,
depois de um longo período. Enquanto esperávamos a macarronada e uma prometida salada
de fruta de sobremesa fiquei matutando um jeito de atrair a atenção dela para
que fizéssemos alguma coisa juntos, além de ficar cada um mexendo no seu
próprio celular.
Eis que, como se tivesse captado meu
pensamento, a querida adolescente me convidou para jogarmos Minecraft, que é um
jogo eletrônico de sobrevivência: eu, no computador; ela, no telefone móvel. Por
uma fração de segundos pensei em recusar, mas achei por bem não perder a
oportunidade de interagir e aprender alguma coisa sobre esse mundo do vídeo
game que atrai tantas pessoas, principalmente as mais jovens.
Feitos os preparativos iniciais, sob o
comando dela iniciamos nossa aventura virtual, sem que estivesse entendendo
muito do que acontecia e do que deveria fazer. Em determinado momento, ela
colocou na “minha mão”, ou melhor, na do robozinho que me representava no
monitor, um machado, com o qual eu teria que limpar uma área para abrir um
caminho até uma vila próxima.
Assim, com o auxílio do teclado,
comecei a desferir violentos golpes em tudo quando é árvore que tinha pela
frente, derrubando umas tantas. Contudo, não foi possível dar continuidade
àquela ação antiecológica porque o sinal da internet começou a falhar e o
programa não respondia mais aos comandos. Por essa razão, minha neta achou
melhor deixarmos a sequência do combate ambiental para outra oportunidade.
Pois bem. O que estou querendo dizer é
que quando estava dando machadadas para todos os lados e as árvores iam caindo,
uma a uma, senti uma sensação de poder que me assustou um pouco. Cheguei à
conclusão que, por instantes, estava gostando de ter o controle sobre o destino
daqueles vegetais, mesmo que não fosse uma situação real. Era “bom”
destruí-los.
Fiquei imaginando, fazendo uma
analogia com a realidade do mundo, como as pessoas podem se entorpecer se são
colocadas em lugares de mando sem ter competência para tal encargo. A canetada,
ou a assinatura eletrônica, como é mais comum atualmente, tanto pode ser
instrumento de construção quanto de destruição. Déspotas burocráticos
proliferam aos milhares, desde o porteiro que decide quem entra ou não no
prédio até os próceres da nação com seus casuísmos e arrogâncias do tipo “sabe
com quem está falando?”.
Acho que é por isso que se diz: Queres
conhecer uma pessoa? Dê-lhe poder. Um amigo meu fez um acréscimo: Queres
conhecer mais ainda? Tire-lhe o poder. Com poder para decidir alguma coisa, por
menor que seja, é quando a gente mostra o que aprendemos ao longo da vida, que
hábitos forjaram nosso caráter, qual o sentimento que temos em relação àqueles
destinatários de nossas resoluções. Isso em todos os aspectos, não só da vida
pública, mas também no trato familiar.
Não sou especialista em educação, mas
quer me parecer que muitos desses joguinhos ditos “inocentes” estão, na
verdade, incutindo na cabeça da juventude mundial que, nesse planeta, temos que
nos dar bem, que os fins justificam os meios e que impor nossa vontade é o que
determina o sucesso ou o fracasso de uma existência. Entendo que essa não é a
maneira correta de se viver, pois estamos todos no mesmo barco e o
direcionamento deve ser no sentido da solidariedade, da fraternidade e da
igualdade.
Me perdoe, Alice, mas podemos jogar só
um ameno futebolzinho?
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