sábado, 25 de julho de 2020

Jogos inocentes?




          Para alegria de todos aqui em casa a minha primeira neta, com quase 12 anos de idade, veio almoçar com a gente, depois de um longo período. Enquanto esperávamos a macarronada e uma prometida salada de fruta de sobremesa fiquei matutando um jeito de atrair a atenção dela para que fizéssemos alguma coisa juntos, além de ficar cada um mexendo no seu próprio celular.

          Eis que, como se tivesse captado meu pensamento, a querida adolescente me convidou para jogarmos Minecraft, que é um jogo eletrônico de sobrevivência: eu, no computador; ela, no telefone móvel. Por uma fração de segundos pensei em recusar, mas achei por bem não perder a oportunidade de interagir e aprender alguma coisa sobre esse mundo do vídeo game que atrai tantas pessoas, principalmente as mais jovens.

          Feitos os preparativos iniciais, sob o comando dela iniciamos nossa aventura virtual, sem que estivesse entendendo muito do que acontecia e do que deveria fazer. Em determinado momento, ela colocou na “minha mão”, ou melhor, na do robozinho que me representava no monitor, um machado, com o qual eu teria que limpar uma área para abrir um caminho até uma vila próxima.

          Assim, com o auxílio do teclado, comecei a desferir violentos golpes em tudo quando é árvore que tinha pela frente, derrubando umas tantas. Contudo, não foi possível dar continuidade àquela ação antiecológica porque o sinal da internet começou a falhar e o programa não respondia mais aos comandos. Por essa razão, minha neta achou melhor deixarmos a sequência do combate ambiental para outra oportunidade.

          Pois bem. O que estou querendo dizer é que quando estava dando machadadas para todos os lados e as árvores iam caindo, uma a uma, senti uma sensação de poder que me assustou um pouco. Cheguei à conclusão que, por instantes, estava gostando de ter o controle sobre o destino daqueles vegetais, mesmo que não fosse uma situação real. Era “bom” destruí-los.

          Fiquei imaginando, fazendo uma analogia com a realidade do mundo, como as pessoas podem se entorpecer se são colocadas em lugares de mando sem ter competência para tal encargo. A canetada, ou a assinatura eletrônica, como é mais comum atualmente, tanto pode ser instrumento de construção quanto de destruição. Déspotas burocráticos proliferam aos milhares, desde o porteiro que decide quem entra ou não no prédio até os próceres da nação com seus casuísmos e arrogâncias do tipo “sabe com quem está falando?”.

          Acho que é por isso que se diz: Queres conhecer uma pessoa? Dê-lhe poder. Um amigo meu fez um acréscimo: Queres conhecer mais ainda? Tire-lhe o poder. Com poder para decidir alguma coisa, por menor que seja, é quando a gente mostra o que aprendemos ao longo da vida, que hábitos forjaram nosso caráter, qual o sentimento que temos em relação àqueles destinatários de nossas resoluções. Isso em todos os aspectos, não só da vida pública, mas também no trato familiar.

          Não sou especialista em educação, mas quer me parecer que muitos desses joguinhos ditos “inocentes” estão, na verdade, incutindo na cabeça da juventude mundial que, nesse planeta, temos que nos dar bem, que os fins justificam os meios e que impor nossa vontade é o que determina o sucesso ou o fracasso de uma existência. Entendo que essa não é a maneira correta de se viver, pois estamos todos no mesmo barco e o direcionamento deve ser no sentido da solidariedade, da fraternidade e da igualdade.

          Me perdoe, Alice, mas podemos jogar só um ameno futebolzinho?

                     

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