domingo, 21 de julho de 2019

Espetáculo garimpeiro


Pé de isopor estava com pressa, o que, para ele, era absolutamente normal. Seus colegas de garimpo tinham lhe dado o apelido a título de gozação, pois dirigia por aquelas estradas (estradas?) esburacadas, chovesse ou fizesse sol, no mesmo ritmo, de dia ou de noite, ou seja, pisando fundo no acelerador. Daí, para não usar o comum pé de chumbo, ganhou o epíteto de Pé de Isopor.

A pressa era justificada - ele sempre tinha uma explicação - porque estava levando no carro as três mulheres contratadas para a diversão do garimpo naquela noite, que prometia ser memorável. O Cine Embaúba, especializado em filmes de faroeste, kung-fu e similares (o maior sucesso foi um filme de Zé do Caixão, intitulado Esta noite encarnarei no teu cadáver), tinha anunciado a apresentação, pela primeira vez naquela currutela, de um show no qual lindas vedetes ficariam completamente nuas.

Num ambiente daqueles, onde 90% da população era predominantemente masculina, com exceção de algumas poucas trabalhadoras cozinheiras, uma novidade como aquela equivalia a um rastilho de pólvora aceso, e dinheiro em caixa na certeza - no caso, o pagamento era feito em ouro. Por isso, não devia se atrasar, pois garimpeiros revoltados poderiam agir de maneira extremamente perigosa.

Depois da última curva, reduziu a marcha e encostou o carro na parte de trás da grande lona debaixo da qual funcionava o cinema. As garotas nunca tinham estado num ambiente similar, por isso exigiram que o cachê fosse quitado antecipadamente, o que para Pé de Isopor não constituía problema. O lucro era garantido. Só tinha uma preocupação: o que poderia acontecer quando dezenas de garimpeiros vissem aquelas três jovens desnudas?

Mas ele tinha um plano. 

Na hora combinada, com os bancos de madeira que faziam às vezes de assentos totalmente ocupadas, deu início ao espetáculo, inicialmente fazendo uma pequena introdução, logo abafada pelas vaias e gritos dos espectadores, ansiosos pela atração principal. Não teve outra alternativa senão acenar para seu ajudante, que colocou para rodar um bolachão com música instrumental lenta para servir de pano de fundo ao momento tão esperado.

Ligeiramente assustadas, mas dispostas a cumprir o combinado, as strippers começaram, suavemente, conforme o padrão, para criar uma expectativa e aumentando a tensão no ar, a retirar as peças das roupas que usavam, entre sapatos altos, luvas e vestidos longos. Quando ficaram somente de calcinha e sutiã o público já estava em completa ebulição, e Pé de Isopor tomou posição para executar a sua ideia.

As três tinham sido instruídas a deixarem cair as últimas peças juntas. De costas para a turba alvoroçada, soltaram e jogaram no ar os respectivos sutiãs. Ouviu-se um urro uníssono. Em seguida, começaram a abaixar as calcinhas, mas antes que terminassem de despir o último pedaço de pano, Pé de Isopor desligou o projetor de 8 mm que estava sendo utilizado à guisa de holofote. Esperava que, assim, desse tempo para que as girls pudessem se refugiar no camarim improvisado atrás do palco.

Mas, dispostos a não perder um segundo do espetáculo, e na vontade animal de receberem por tudo aquilo que tinham pago, dezenas de garimpeiros, como se também tivessem feito um plano alternativo entre si, ligaram, de maneira quase automática, cada um a sua lanterna e jogaram o foco das lâmpadas na direção das beldades, que, sem reação, foram pegas de surpresa e não puderam esconder da plateia suas formas expostas completamente. Como que ofuscadas, ficaram momentaneamente paralisadas sob os olhares gulosos dos fãs.

Minutos depois, finalmente, se livraram daquele efeito hipnótico e, sob aplausos e gritos enlouquecidos, foram em busca de refúgio, mas sentido dentro de si uma pontinha de satisfação pelo efeito causado.

Realmente, tinha sido um show inesquecível.


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