sexta-feira, 19 de julho de 2019

À espera de um grande amor

Naquele beiradão amazônico as regras ditas civilizadas nem sempre eram respeitadas, ou mesmo consideradas como corretas ou necessárias.

Tinha apenas 16 anos, sonhava estudar e ser professora, mas o pai tinha outros planos. Para atender a um amigo, já com 35 anos de idade, que morava em outra cidade maior, próxima da sua, deu – e o termo é esse mesmo, foi dada de presente – a filha adolescente para que o solteirão fosse viver com ela.

Sem alternativa, seguiu viagem com o homem que seria seu “marido”. Pouco tempo depois, engravidou. Ainda menor de idade, trocou os bancos escolares pela lida doméstica e pela responsabilidade de ser mãe, quando ainda precisava da sua para lhe acalentar.

Dois anos após, ficou grávida novamente – desta vez, uma menina. A vida virou uma rotina que só não se tornou um suplício porque o homem a quem fora entregue como prova de amizade e consideração era uma pessoa boa, não lhe maltratava e supria a casa com tudo o que fosse necessário para a sobrevivência da família.

Mas faltava algo. Não eram bens materiais. Queria sentir a paixão de um grande amor, pois pelo genitor de seus filhos nutria tão somente respeito e consideração. Não o amava. Cumpria seus deveres matrimoniais burocraticamente, sonhando, quem sabe, com um príncipe encantado.

Um dia, surgiu alguém que poderia tornar realidade o desejo tanto tempo reprimido. Cresceu dentro de si a vontade de se arriscar, de se entregar a um amante, com quem, mesmo que clandestinamente, poderia vivenciar momentos de ternura e arrebatamento. Seria uma redenção? Ou uma fuga? Quem sabe um prêmio?

Nada disso. Somente uma ilusão. Nenhum dos dois teve coragem de dar o passo definitivo, aquele em relação ao qual não se tem volta, quando a sorte é lançada e atitudes tomadas sem que as consequências fossem medidas. Ficou triste, mas logo se conformou. Não havia nascido para aventuras.

Seu destino era aquele mesmo: casa, trabalho, marido e filhos. Sem reclamar, sem sonhar. Apenas o cotidiano de uma existência marcada pela simplicidade, na qual o inesperado não se faz presente. Onde tudo é previsível, numa fachada de felicidade estampada nos gestos comuns do dia a dia.

Às vezes, porém, num suspiro mais profundo, o coração acelera e imagina, por instantes, como poderia ter sido bom aquele caso fortuito e fora do padrão. Ao menos uma vez, como teria sido bom.

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