terça-feira, 17 de maio de 2011

Minha vida de gringo





Estive nos Estados Unidos da América por duas vezes. A primeira foi numa excursão à Disney World, na cidade de Orlando, na Flórida. É aquele parque infantil do Mickey, Pato Donald, Cinderela, Branca de Neve e outros personagens de lendas e contos de fadas. Eu era criança. Confesso que não tenho muitas lembranças do passeio, a não ser do monte de cachorro quente que comi.
A segunda vez tinha acabado de passar no vestibular (17 para 18 anos) da Universidade Federal do Espírito Santo. Fiquei em quinto lugar nas vagas destinadas ao curso de Comunicação Social. Resolvi, e muito me arrependo, pois, hoje, me parece que foi uma perda de tempo, participar de um intercâmbio estudantil e viver seis meses nos States. Tranquei a matrícula, para iniciar a faculdade no segundo semestre, e fiquei naquele país de janeiro a julho de 1975, sendo presidente Gerald Ford.
Pedi para ir para um local que tivesse neve e me mandaram para a cidade de Davenport, no estado de Iowa, no meio-oeste norte-americano, área rural (muita plantação de milho, o chamado corn belt) e um frio de lascar. Cheguei lá num vôo doméstico, após uma passagem pelo Canadá. A temperatura era de muitos graus abaixo de zero e me impressionou o chão todo branco (mais de 30 centímetros de neve), o céu azul sem nuvens e um sol brilhando intensamente.
Fiquei hospedado na casa da família Glover (pai, mãe, três filhos e uma filha), num típico bairro, sem muros, com gramados e duas praças esportivas. A residência tinha sala, cozinha, três quartos, garagem para dois carros e um porão com o quarto do casal e área de serviço. Os rapazes eram estudantes. Os adultos trabalhavam numa metalurgia. Lá dentro era bermuda e mangas de camisa, por conta da central de aquecimento. Ao sair, entretanto, vestia um monte de coisas, entre meias, camisas, calça, luvas, cachecol e casaco.
Fui matriculado na Central High School (acima), para fazer o equivalente ao último ano do antigo Científico, ex-2º Grau e atual Ensino Médio, que já tinha concluído no Brasil. A escola é aquela coisa. Imensa, equipadérrima, com piscinas aquecidas, locais para esportes, laboratório (tinha até uma mini estação de rádio e tv), restaurante (horário integral). Ia de manhã, naqueles famosos ônibus amarelos, e voltava à tarde.
Não tinha fluência no inglês, quando chequei, mas com pouco mais de dois meses, talvez menos, conseguia entender e me fazer entender. Algum conhecimento que ainda tenho daquela língua fica por conta dos meses passados nos States, em que pese a falta de prática. Davenport está quase na fronteira com o estado do Illinois, e tive oportunidade de ir até Chicago assistir um jogo de beisebol.
Aliás, pratiquei este esporte com a turma da rua, e consegui fazer um home-run (aquela tacada que vai para fora do estádio). Comprei uma luva, específica para primeira base, que trouxe comigo no retorno. Basquete nunca foi minha praia. Futebol o pessoal praticamente desconhecia naquela região. Os Glovers me receberam muito bem, e houve, inclusive, alguma emoção na despedida, mas em pouco tempo perdemos contato e não tenho a mínima ideia do que pode ter acontecido com eles. Engordei alguns quilos, porque a alimentação é realmente bem gordurosa, em qualquer horário do dia.
Nas proximidades havia outros brasileiros e um pessoal da Argentina, mas só nos víamos na escola, que era onde passava a maior parte do tempo. Ao final do semestre me deram um diploma (abaixo), obviamente simbólico. A grade curricular tinha algumas disciplinas básicas (Inglês, História etc) e outras opcionais. Não estou me lembrando quais escolhi, mas havia uma variedade bem grande de matérias disponíveis. Ninguém, porém, sabia nada do Brasil, tipo localização geográfica, nome do presidente, população, nadinha. Eles só pensam neles mesmos.
Fui alvo de algumas perguntas básicas, tais como: Nas ruas passam cobras? Ou: Você já tinha usado sapato antes? Como em Vitória era verão (muita praia) estava bronzeado e até pensaram que eu era da raça negra (os Glovers são brancos quase transparentes), mas não senti nenhum tipo de preconceito por causa disso, somente por ser de um país abaixo da linha do Equador.
Tive oportunidade de ir a Washington, e fiz aquele roteiro básico (junto com uma colombiana), desde o Memorial de Lincoln até a Casa Branca, passando pelo Congresso e o Museu de História Natural do Instituto Smithsonian, com seus famosos esqueletos de dinossauros. Depois de curtir o frio e a neve, de um inverno como nunca tinha visto igual, a primavera e o verão foram mais parecidos com o que estava acostumado, mas bom mesmo foi voltar para casa.
Não sei o que diria atualmente se passasse seis meses no estrangeiro, mas aquela máxima de que o Brasil é o melhor país do mundo não saía do meu pensamento. Os caras podem ter tecnologia, dinheiro, tudo limpo e organizado (o que é bom, sem dúvida), mas o american way of life não é para mim, não.


3 comentários:

  1. só não acho que foi um desperdício de tempo, pelo menos serviu para você escrever esse texto.

    ResponderExcluir
  2. Concordo, afinal foi uma experiência muito divertida para seus leitores. muitos risos

    ResponderExcluir
  3. Legal, já que nada acontece por acaso. Serviu também para alegrar alguém. Fico feliz.

    ResponderExcluir