Depois de praticamente seis meses de
confinamento, ou quarentena, ou isolamento social, como queiram, o povo
resolveu liberar geral e, por conta própria, achou melhor enfrentar os riscos
de uma eventual contaminação do que ficar trancado dentro de casa.
Este Feriadão da Independência deixou
isto bem claro. Aqui em Guarapari, por exemplo, onde moro, a cidade ficou
lotada de turistas. Parecia até o auge do verão. Da Praia do Morro a Setiba, da
Areia Preta à Praia das Virtudes, da Enseada Azul até Meaípe, homens, mulheres
e crianças disputaram palmo a palmo um espaço na areia, muitos, inclusive, sem
uso de máscara. Ninguém voltou para a “toca” antes de 19 horas.
Bares e restaurantes festejaram o
movimento intenso, descuidando-se da distância mínima entre uma mesa e outra,
pois a aglomeração foi total. Não se teve notícia de qualquer fiscalização. É fácil
entender essa situação. Com as informações de arrefecimento da incidência do
novo coronavírus e a canseira de tanto tempo trancado, é óbvio que o abrir das
porteiras é uma consequência mais do que natural.
Talvez o que não se previa fosse a
intensidade com que a população iria às ruas. Se é seguro ou não aí já são
outros quinhentos. Dizem os dicionários eletrônicos que “medo
é um estado emocional que surge em resposta a consciência perante uma situação
de eventual perigo. A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança
ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série
de compostos químicos que provocam reações que caracterizam o medo”.
O que se
viu, então, no final de semana passado, foi a inexistência da “ideia de que
algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém”. Grupos
articulados na rede social estão propagando, cada vez com maior intensidade,
essa tese, aduzindo, também, que efetivamente o vírus foi criado em laboratório
com o objetivo de obtenção de ganhos políticos e econômicos por parte da China
e grandes corporações empresariais multinacionais.
Eu não sou
muito adepto das famosas “teorias de conspirações”, pois acho falaciosa demais,
neste caso específico, a possibilidade de um domínio mundial de algum grupo
minoritário, mesmo que majoritário economicamente, sobre toda a humanidade. Seria
uma franqueza imensa dos bilhões que, mesmo alijados do controle da sociedade,
aceitassem placidamente a condição de gado sendo levado para o abate.
Recebo também muitas mensagens questionando o
número de casos e de óbitos. Não sei quem tem razão. Conheço pessoas que perderam
entes queridos por conta da COVID-19. É o que consta na informação médica dada
aos familiares. Dizem que muitas mortes foram por causa de outras doenças. Vá
saber! O certo é que aqueles seres humanos, no mundo inteiro, não estão mais no
convívio diário no lar, na escola e no trabalho. Foram para outra dimensão. Mas
quer me parecer que se trata de uma discussão sem futuro.
O uso
político, especialmente em terras brasilis, feito com a patologia da moda torna
difícil ter uma noção verdadeira do que vem efetivamente ocorrendo. Governo,
imprensa e parlamentares apresentam argumentos os mais variados, uns culpando
os outros pelo problema. Não se pode fazer de uma questão tão séria um
instrumento espúrio de manipulação inconsequente e com resultados
imprevisíveis.
Espero,
sinceramente, que possamos, um dia, saber a verdade sobre todos esses
acontecimentos, sem que, para isso, haja necessidade de mais mortes. Por
enquanto, sem volta às aulas definidas, por exemplo, o mais desejado, conforme
dito, é recuperar o espaço urbano e assistir na telinha um futebol. Aliás, a
reabertura dos estádios para o público não deve demorar. Aguardem.
Concordo que a vida tem que continuar. Rezo para que não ocorra nenhum retrocesso. Senão, começa tudo de novo.
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