terça-feira, 8 de setembro de 2020

Medo? Que medo?


          Depois de praticamente seis meses de confinamento, ou quarentena, ou isolamento social, como queiram, o povo resolveu liberar geral e, por conta própria, achou melhor enfrentar os riscos de uma eventual contaminação do que ficar trancado dentro de casa.

 

          Este Feriadão da Independência deixou isto bem claro. Aqui em Guarapari, por exemplo, onde moro, a cidade ficou lotada de turistas. Parecia até o auge do verão. Da Praia do Morro a Setiba, da Areia Preta à Praia das Virtudes, da Enseada Azul até Meaípe, homens, mulheres e crianças disputaram palmo a palmo um espaço na areia, muitos, inclusive, sem uso de máscara. Ninguém voltou para a “toca” antes de 19 horas.

 

          Bares e restaurantes festejaram o movimento intenso, descuidando-se da distância mínima entre uma mesa e outra, pois a aglomeração foi total. Não se teve notícia de qualquer fiscalização. É fácil entender essa situação. Com as informações de arrefecimento da incidência do novo coronavírus e a canseira de tanto tempo trancado, é óbvio que o abrir das porteiras é uma consequência mais do que natural.

 

          Talvez o que não se previa fosse a intensidade com que a população iria às ruas. Se é seguro ou não aí já são outros quinhentos. Dizem os dicionários eletrônicos que “medo é um estado emocional que surge em resposta a consciência perante uma situação de eventual perigo. A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações que caracterizam o medo”.

 

          O que se viu, então, no final de semana passado, foi a inexistência da “ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém”. Grupos articulados na rede social estão propagando, cada vez com maior intensidade, essa tese, aduzindo, também, que efetivamente o vírus foi criado em laboratório com o objetivo de obtenção de ganhos políticos e econômicos por parte da China e grandes corporações empresariais multinacionais.

 

          Eu não sou muito adepto das famosas “teorias de conspirações”, pois acho falaciosa demais, neste caso específico, a possibilidade de um domínio mundial de algum grupo minoritário, mesmo que majoritário economicamente, sobre toda a humanidade. Seria uma franqueza imensa dos bilhões que, mesmo alijados do controle da sociedade, aceitassem placidamente a condição de gado sendo levado para o abate.

 

           Recebo também muitas mensagens questionando o número de casos e de óbitos. Não sei quem tem razão. Conheço pessoas que perderam entes queridos por conta da COVID-19. É o que consta na informação médica dada aos familiares. Dizem que muitas mortes foram por causa de outras doenças. Vá saber! O certo é que aqueles seres humanos, no mundo inteiro, não estão mais no convívio diário no lar, na escola e no trabalho. Foram para outra dimensão. Mas quer me parecer que se trata de uma discussão sem futuro.

 

          O uso político, especialmente em terras brasilis, feito com a patologia da moda torna difícil ter uma noção verdadeira do que vem efetivamente ocorrendo. Governo, imprensa e parlamentares apresentam argumentos os mais variados, uns culpando os outros pelo problema. Não se pode fazer de uma questão tão séria um instrumento espúrio de manipulação inconsequente e com resultados imprevisíveis.

 

          Espero, sinceramente, que possamos, um dia, saber a verdade sobre todos esses acontecimentos, sem que, para isso, haja necessidade de mais mortes. Por enquanto, sem volta às aulas definidas, por exemplo, o mais desejado, conforme dito, é recuperar o espaço urbano e assistir na telinha um futebol. Aliás, a reabertura dos estádios para o público não deve demorar. Aguardem.

 

          Concordo que a vida tem que continuar. Rezo para que não ocorra nenhum retrocesso. Senão, começa tudo de novo.

         

 

              

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