Aquele trio não era fácil na hora de
se alimentar. Podia ficar conhecido como “Trio Parada Dura”, se já não existisse
um grupo musical com esse nome. Eles só batiam colocado. Verdadeira lenda
urbana.
Gostavam de assombrar nas lanchonetes
da vida, principalmente naquelas mais, digamos, simplesinhas, para não falar
aqueles ambientes que nem a Vigilância Sanitária frequenta. Do tipo que o
salgadinho tinha o apelido de “morte lenta”, ou que o incauto consumidor
olhasse na estufa, pedisse um quibe e o balconista, espantando as moscas,
informava que, na verdade, era um croquete. Nas pizzarias, em dia de rodízio, detonavam.
Certa noite estavam num desses locais altamente
higienizados (fico imaginando a situação nesses tempos atuais de pandemia) e
pediram um sanduíche, daquele que mistura hambúrguer com salsinha e bacon, um
monte de queijo, presunto, alface, tomate e batata palha. Maionese, mostarda e
ketchup à gosto do freguês. Mais ou menos meio quilo de gordura e colesterol
para ninguém botar defeito.
Enquanto esperavam que os respectivos
lanchinhos fossem preparados, tiveram a oportunidade de apreciarem o incansável
trabalho dos homens encarregados da limpeza urbana, já que estavam sentados ao
redor de uma mesa colocada na calçada. O caminhão do lixo havia estacionado bem
em frente ao estabelecimento, o que carregou o ar daquele futum característico.
Não satisfeito, depois que os garis recolheram os sacos espalhados na rua, o
motorista do veículo coletor acionou o equipamento e deu uma prensa em todo o
material, fazendo escorrer na sarjeta um líquido nauseabundo justamente na hora
que os sanduíches chegaram. Uma sincronização perfeita.
Sem titubear, os jovens esfomeados,
mesmo achando que até para eles aquela cena dantesca tinha sido um pouco
demais, se concentraram na árdua missão que tinham pela frente: dar conta de
ingerir toda aquela maçaroca que ocupava o prato. Com a experiência adquirida
com a prática deram início à tarefa. Por alguns minutos ficaram em silêncio,
pacientemente mastigando cada bocado, até que um deles sentiu um estalo diferente
e mais crocante entre os dentes, que lhe chamou a atenção.
Cuidadosamente, retirou aquele pedaço
da boca e viu que tinha puxado pela perna a metade da carcaça de uma barata,
pois a outra parte ainda estava dentro do pão, misturada entre os ingredientes.
Para manter a fama, colocou de lado o inseto frito (afinal, na China trata-se
de uma iguaria, comentou, mesmo sem ter certeza), acrescentou a informação de
que era proteína pura e mandou ver, enquanto seus dois amigos aproveitavam para
dar uma geral nos seus próprios sandubas, a fim de evitar alguma surpresa desagradável
do mesmo tipo.
Dali em diante, aquela lanchonete, que permaneceram frequentando, passou a ser conhecida como “A Baratinha”. Nada mais justo.
Acho que conheço o rapaz ousado. Dizem as boas línguas que já foram espulsos de churrascaria e pizzaria. Sem contar o subway, onde realizaram uma inusitada visita, pro lanche da madrugada.
ResponderExcluirMantive o anonimato por uma questão de respeito.
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