terça-feira, 4 de agosto de 2020

Velhice


          Os velhinhos perderam o medo de ser felizes. Com as caminhadas matinais liberadas no calçadão da praia, idosos e idosas deixaram a prometida segurança dos respectivos lares e resolveram arriscar. Às dezenas, sozinhos ou acompanhados, inclusive por seus bichinhos de estimação, ocupam os espaços disponíveis com a alegria de crianças que ganham um brinquedo novo.

 

          O uso da máscara é que parece que não vingou. Uns estão usando; outros, colocam o inédito item da indumentária abaixo do nariz ou mesmo pendurado no pescoço. A maioria, entretanto, deixa o rosto ao vento como se o amanhã não importasse. Estão no lucro, por assim dizer, sobrevivendo após meses de reclusão e assustados pelas notícias de quase 100 mil mortes apenas no Brasil. Nem o frio espanta os madrugadores.

 

          Nesse novo normal, se é que ele existe, as pessoas acima dos 60 anos de idade se sentem também com o direito de ter esperanças. Antigamente, cerca de 20 anos atrás, o homem ou a mulher com meio século virava “tio/tia” dos mais jovens. Hoje em dia, porém, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, a média de expectativa de vida humana é de 70,5 anos, com mulheres vivendo em média 73 anos e homens aproximadamente 68 anos.

 

          Vê-se, dessa maneira, que nós, os beneficiários do Estatuto do Idoso, não queremos mais a complacência dos que têm menos idade ou aquele sentimento de “coitadinho”. Os que são jovens por mais tempo (60, por exemplo, é 20 três vezes) mantêm vida ativa, mente alerta e vontade de realizar, independentemente de alguma limitação natural. A experiência que traz sabedoria e as inovações tecnológicas médicas abriram perspectivas nunca anteriormente imaginadas.

 

          Continuar trabalhando é a opção de alguns, enquanto outros buscam no lazer, num passatempo e mesmo no desporto o jeito de evitar a senilidade. Dizem os especialistas que todo ser tem um tempo meio que padrão de existência. O cachorro, vive, em média, 15 anos. No ser humano esse relógio biológico é estimado em 85 anos de idade. Mas não é difícil perceber, se olharmos ao redor ou compararmos com nossos próprios familiares, que tem muita gente indo além, sem querer entregar os pontos.

 

          Todos sabemos que a morte é inevitável, mas ninguém tem pressa em ser atingido por ela. Por isso, mesmo com alguma dor lombar, ou um joelho travado ou audição curta a turma da Terceira Idade não quer entregar os pontos e vai à luta com a disposição de um menino(a).

 

          E amanhã, se não chover, tem caminhada no calçadão. Com máscara, por favor.


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