sábado, 30 de maio de 2020

O "olhão"




          Um amigo meu, versado em tecnologia da informação, andou me atualizando sobre alguma das diversas coisas que acontecem no mundo tecnológico, atualmente, e em relação as quais não tenho acesso, a uma por desinteresse natural, a duas porque esse universo binário mecânico me parece um tanto complicado, em sua essência, apesar, como já disse anteriormente, numa crônica anterior, de reconhecer as suas muitas utilidades práticas.

          Enfim, já existe em países do hemisfério norte tecnologia suficiente para a pessoa, de dentro do próprio carro, quando sair do trabalho, por exemplo, dar um comando para que, em sua casa, as luzes se acendam ou o forno ligue e fique aquecendo, ou a televisão acesse determinado canal.

          Achei deveras interessante, mas, ao mesmo tempo, preocupante, um esquema de vendas de determinada loja virtual que garante, em algumas cidades dos Estados Unidos, a entrega do produto adquirido até uma hora após a finalização do pagamento.

          Tudo porque a empresa possui um algoritmo que, com base nas informações anteriores de acesso do eventual comprador em toda a internet, sabe suas preferências, itens mais pesquisados, cores prediletas e outros itens complementares, e tem condição de, digamos, “adivinhar”, qual o produto será adquirido daquela vez, com margem de acerto de 80%, que me parece um índice bastante razoável.

          Ao mesmo tempo que tudo isso, e outras coisas mais, está facilitando enormemente a vida das pessoas, pelo menos parte delas, pois ainda existem milhões que não têm nem água potável em casa (mas aí são outros quinhentos), o avanço da dita inteligência artificial, conforme afirmado alhures, me causa preocupação.

          Muitos visionários profetizaram a vitória da máquina sobre o ser humano. Me recuso a acreditar nisso. Mas quer me parecer que é grande a possibilidade de homens dominarem outros homens com a utilização de equipamentos de controle social. É cediço que informação é poder – talvez, por isso, vocês sabem quem esperneia tanto para saber de tudo o que acontece ao seu redor.

          Imagino, hoje em dia, que as grandes corporações mundiais possam, efetivamente, acumular milhares de dados sobre cada ser humano, até porque satélites que circundam o planeta possuem capacidade de visualizar um alfinete no chão de uma rua em qualquer continente.

Nossa privacidade está tendo seu espaço reduzido, e não seria surpresa, num regime ditatorial, por exemplo, que o cidadão nem precisasse ser confinado numa cela; bastaria um chip introduzido por baixo da pele e algumas câmeras na sala, no quarto e na cozinha e pronto: 24 horas de monitoramento. Como se fosse o BBB saindo da televisão para a vida real.

Espero que se criem mecanismos de controle, pois, caso contrário, haverá um “olhão” acompanhando nossos passos até em momentos de necessidades fisiológicas ou encontros íntimos.

É o voyeurismo chegando às últimas consequências. Lamentável.

                     

         

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