sábado, 9 de maio de 2020

Melancolia




          O vento sul assobia entre as brechas da janela anunciando a chegada do frio.

          No horizonte, além da linha do mar, o céu cinza faz o dia parecer ainda mais triste.

          Muitas pequenas nuvens agrupam-se misturando as de tons claros com aquelas mais escuras.

          Sábado de quarentena. Dois meses de isolamento social. Nada a fazer, a não ser esperar.

          Provavelmente vai chover. Quem sabe as águas outonais possam lavar meus dissabores, afastar meus temores e levar embora minhas dores? Quem sabe!

          Amigos de todos os matizes do espectro ideológico persistem no debate inútil, via “zap”, se é para ir às ruas ou permanecer em casa. Aviso logo: não tenho assistido aos vídeos recebidos, principalmente os que contêm mais de 3 minutos de duração. São perniciosos também, a exemplo do vírus em debate.

Confesso que tenho medo, não por mim, mas por causa dos outros, de, inocentemente, ficar contaminado sem saber e ser foco de transmissão, principalmente para minha família.

           Que situação. Queria ter a disciplina chinesa ou anglo-saxônica para, estoicamente, aguentar sem lamentações. Ficar quietinho no sofá maratonando séries intermináveis. Ou fazer uma rotina de estudos e trabalhos, escrever o livro da minha geração, meditar sobre o significado de tudo isso e algo mais.

          Estou seguro em casa, mas alguns milhares de compatriotas, por necessidade ou desconhecimento, em muitos casos induzidos por outrem, sem noção do perigo, querem afrontar o mundo científico. Entendo que a fome pode levar as pessoas ao desespero. Infelizmente, esses inocentes (nem todos, mas muitos deles) não são culpados. Padecem do grande problema nacional: falta de educação, não aquela formal, acadêmica, também importante, mas sim aquela de sentido coletivo, do bem estar geral, de não fazer para si o que não deseja para o vizinho. Somos um povo unido só em época de Copa do Mundo.

          Cumpro minha carga horária (home office) de trabalho normalmente, aliás como já vinha fazendo, pois tem quase dois anos que estou virtualmente longe/perto da minha repartição pública (será redundância: repartição pública?).

          Mas só de saber que não posso ficar saindo de casa por qualquer coisa, dá aquela sensação de restrição obrigatória indesejada. Deus escreve certo por linhas tortas, diz o ditado popular, no sentido de que nem sempre a gente consegue entender os desígnios Dele, mas tudo tem um sentido, um significado, nada acontece por um acaso. Pode ser, mas prefiro acreditar que Ele escreve mesmo é em linhas retas. Torto já basta a mim (nem tanto, imagino, mas com algumas imperfeições e arestas necessitando de lapidação e polimento).

          Enfim, concluo essa crônica me sentido melhor. Nada como um bom desabafo para salvar um final de semana.

          Até o firmamento já clareou. Que venham os dias melhores, pois as provações chegaram ao final.
         

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