O vento sul assobia entre as brechas
da janela anunciando a chegada do frio.
No horizonte, além da linha do mar, o
céu cinza faz o dia parecer ainda mais triste.
Muitas pequenas nuvens agrupam-se
misturando as de tons claros com aquelas mais escuras.
Sábado de quarentena. Dois meses de
isolamento social. Nada a fazer, a não ser esperar.
Provavelmente vai chover. Quem sabe as
águas outonais possam lavar meus dissabores, afastar meus temores e levar
embora minhas dores? Quem sabe!
Amigos de todos os matizes do espectro
ideológico persistem no debate inútil, via “zap”, se é para ir às ruas ou
permanecer em casa. Aviso logo: não tenho assistido aos vídeos recebidos,
principalmente os que contêm mais de 3 minutos de duração. São perniciosos
também, a exemplo do vírus em debate.
Confesso que tenho
medo, não por mim, mas por causa dos outros, de, inocentemente, ficar contaminado
sem saber e ser foco de transmissão, principalmente para minha família.
Que situação. Queria ter a disciplina chinesa
ou anglo-saxônica para, estoicamente, aguentar sem lamentações. Ficar quietinho
no sofá maratonando séries intermináveis. Ou fazer uma rotina de estudos e
trabalhos, escrever o livro da minha geração, meditar sobre o significado de
tudo isso e algo mais.
Estou seguro em casa, mas alguns milhares
de compatriotas, por necessidade ou desconhecimento, em muitos casos induzidos
por outrem, sem noção do perigo, querem afrontar o mundo científico. Entendo
que a fome pode levar as pessoas ao desespero. Infelizmente, esses inocentes
(nem todos, mas muitos deles) não são culpados. Padecem do grande problema
nacional: falta de educação, não aquela formal, acadêmica, também importante,
mas sim aquela de sentido coletivo, do bem estar geral, de não fazer para si o
que não deseja para o vizinho. Somos um povo unido só em época de Copa do Mundo.
Cumpro minha carga horária (home
office) de trabalho normalmente, aliás como já vinha fazendo, pois tem
quase dois anos que estou virtualmente longe/perto da minha repartição pública
(será redundância: repartição pública?).
Mas só de saber que não posso ficar
saindo de casa por qualquer coisa, dá aquela sensação de restrição obrigatória
indesejada. Deus escreve certo por linhas tortas, diz o ditado popular, no
sentido de que nem sempre a gente consegue entender os desígnios Dele, mas tudo
tem um sentido, um significado, nada acontece por um acaso. Pode ser, mas
prefiro acreditar que Ele escreve mesmo é em linhas retas. Torto já basta a mim
(nem tanto, imagino, mas com algumas imperfeições e arestas necessitando de
lapidação e polimento).
Enfim, concluo essa crônica me sentido
melhor. Nada como um bom desabafo para salvar um final de semana.
Até o firmamento já clareou. Que
venham os dias melhores, pois as provações chegaram ao final.
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