Quase diariamente tenho saído para
caminhar no calçadão que margeia a praia.
Às vezes vou cedinho. Em outras
ocasiões, nem tanto. Facilidade advinda do horário de trabalho flexível (home
office).
Quando faço meu exercício físico nas
primeiras horas, entre 6 e 7 da manhã, me deparo com diversas pessoas, de ambos
os sexos, dormindo nas calçadas.
Algumas pernoitam sozinhos. Outras, aos
pares. Todos enrolados precariamente em panos imundos e usando pedaços de
papelão à guisa de colchão. Onde será que, durante o dia, guardam essas coisas?
Hoje me deparei com cinco desses desafortunados
no mesmo local, em frente à uma loja de roupas. Encostado num deles, um
cachorro preto. O povo transitava indiferente, da mesma maneira que os sem
tetos não estavam nem aí para a cidade que acordava. Meio que acostumados com a
cena cotidiana. Ambas as partes, diga-se.
Não sei se eles ficam ali todas às
noites, mas acredito que sim. É como se fosse um ponto já reservado e
respeitado entre os pares de infortúnio.
Imaginei o que eu poderia fazer. Nada,
somente me compadecer. E o poder público? Também não sei, nesta época de vacas
magras e tanto egoísmo político, onde a solidariedade com os mais necessitados
é exceção à regra constitucional de dignidade da pessoa humana (inciso III,
art. 1º, Carta Magna).
E isso sem contar com a lei divina de
amor ao próximo. Sei que existe um tanto de gente que se dedica diuturnamente à
caridade, a exemplo do que fazia, por exemplo, a recentemente canonizada Santa
Dulce dos Pobres. Mas os problemas são tantos que o pouco que se faz não
consegue diminuir significativamente essa chaga social.
Não sou insensível, por isso sinto um
pouco de dor quando vejo tal coisas. Mas tenho meus próprios problemas para
resolver – financeiros, emocionais, familiares e outros mais. Teria que cuidar primeiro
dos outros? Ainda não tenho tanto amor assim, se é que possuo algum. Que pena!
Perdoai-me, Pai, e dai-me forças para “que
eu procure mais consolar do que ser consolado; compreender do que ser
compreendido e amar do que ser amado”. (Oração atribuída a São Francisco de
Assis).
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