terça-feira, 29 de outubro de 2019

Cena Urbana




        Quase diariamente tenho saído para caminhar no calçadão que margeia a praia.

        Às vezes vou cedinho. Em outras ocasiões, nem tanto. Facilidade advinda do horário de trabalho flexível (home office).

      Quando faço meu exercício físico nas primeiras horas, entre 6 e 7 da manhã, me deparo com diversas pessoas, de ambos os sexos, dormindo nas calçadas.

     Algumas pernoitam sozinhos. Outras, aos pares. Todos enrolados precariamente em panos imundos e usando pedaços de papelão à guisa de colchão. Onde será que, durante o dia, guardam essas coisas?

        Hoje me deparei com cinco desses desafortunados no mesmo local, em frente à uma loja de roupas. Encostado num deles, um cachorro preto. O povo transitava indiferente, da mesma maneira que os sem tetos não estavam nem aí para a cidade que acordava. Meio que acostumados com a cena cotidiana. Ambas as partes, diga-se.

        Não sei se eles ficam ali todas às noites, mas acredito que sim. É como se fosse um ponto já reservado e respeitado entre os pares de infortúnio.

        Imaginei o que eu poderia fazer. Nada, somente me compadecer. E o poder público? Também não sei, nesta época de vacas magras e tanto egoísmo político, onde a solidariedade com os mais necessitados é exceção à regra constitucional de dignidade da pessoa humana (inciso III, art. 1º, Carta Magna).

        E isso sem contar com a lei divina de amor ao próximo. Sei que existe um tanto de gente que se dedica diuturnamente à caridade, a exemplo do que fazia, por exemplo, a recentemente canonizada Santa Dulce dos Pobres. Mas os problemas são tantos que o pouco que se faz não consegue diminuir significativamente essa chaga social.

        Não sou insensível, por isso sinto um pouco de dor quando vejo tal coisas. Mas tenho meus próprios problemas para resolver – financeiros, emocionais, familiares e outros mais. Teria que cuidar primeiro dos outros? Ainda não tenho tanto amor assim, se é que possuo algum. Que pena!

        Perdoai-me, Pai, e dai-me forças para “que eu procure mais consolar do que ser consolado; compreender do que ser compreendido e amar do que ser amado”. (Oração atribuída a São Francisco de Assis).    

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