sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Barbeiragens



        Meu inesquecível pai, que Deus o tenha, tinha fama de barbeiro, não o profissional dos pentes e das tesouras, mas aquele motorista que costuma causar sustos no trânsito das ruas brasileiras. Aliás, segundo um primo meu, com o qual coaduno, neste particular, ele não só tinha a fama como era realmente um perigo ambulante.

        Conta-se que numa ocasião, salvo engano em Guaçuí, vinha ao volante de uma das Kombis que possuiu (era o carro predileto dele, para agasalhar a família de seis pessoas) e, ao soltar um espirro, acertou um carro estacionado. Desculpou-se, após definir o pagamento do prejuízo, dizendo que fechou os olhos enquanto expulsava o ar pelo nariz. Muitos anos antes de falecer deixou de dirigir e andava corajosamente de ônibus urbano.

        De uma maneira geral, porém, eu acho que existe muita gente desatenta com CNH em vigor. Para começar, tem uma turma exageradamente desrespeitosa, que não está nem aí para as regras de trânsito ou as mais comezinhas normas de convivência social, principalmente tendo nas mãos uma “arma” como um automóvel ou veículo maior.

        Furar sinal vermelho é quase uma rotina. Ultrapassagem em local proibido deixou, praticamente, de ser exceção para se tornar uma regra. Estacionamento em fila dupla está consagrado como “direito”. É impressionante.

        Quando morava em Porto Velho achava o trânsito de lá um tanto caótico, muito em função dos motoqueiros, que são milhares disputando espaço entre si. Difícil um cruzamento onde eles não se aglomeram querendo prioridade total para avançar. Mas isso porque eu ainda não tinha a experiência diária de dirigir em Guarapari.

        Porto Velho, sob este aspecto, ganha de dez a zero. De plano, as ruas lá são largas e retas e o traçado urbanístico permite que algumas vias tenham sentido único na direção do centro enquanto outras mantém o fluxo do trânsito em sentido contrário. A sincronia dos sinais é outra facilidade.

        Em Guarapari, até hoje não entendi de que maneira o gênio que definiu o fluxo do tráfego na cidade, se é que foi feito algum estudo neste sentido, chegou às suas conclusões. Por exemplo: as ruas são estreitas, e os carros estacionam dos dois lados. É só para complicar, permite-se mão dupla. Os motociclistas, ou melhor, motoqueiros, aqui avançam com a cara e a coragem na contramão, e quem quiser que saia da frente.

        Outra: placa de sinalização existe só para enfeite. Aquela seta que indica a direção é regularmente ignorada. Ao redor da feira de sábado todo mundo anda do jeito que quer, independentemente se a rua tem mão para esse ou para aquele lado. E mais: ciclista também apronta. Dias desses quase fui atropelado. Estava na faixa de pedestre e, ingenuamente, olhei apenas para o lado de onde vinham os carros. Em alta velocidade, um abusado numa bicicleta, inclusive carregando uma criança, passou com tudo na minha frente. Em pensamento, fiz aquele tradicional elogio à genitora do incauto.

        Porém, nem tudo é perfeito. Apesar de achar que tenho experiência e dirijo bem, mesmo assim não escapei. Arranhei a coluna da garagem do prédio onde moro. Não espalhem, porque é segredo.

        Como se diz, o sujo falando do mal lavado.

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