Meio
que por acaso caiu-me às mãos o livro Aquele dia na praia, de autoria de
Flávio Sarlo, edição Leitura Fina, ano 2022. Em pouco mais de 80 páginas, o
autor faz “um caleidoscópio de imagens e lembranças sobre a juventude que
participou da subversão armada na época, e também lança luz sobre personagens
sombrios que participaram da repressão”, conforme consta na orelha da
publicação.
Diz
ainda: “No universo onírico da ilha de Vitória, onde misturavam-se juventude
transviada e guerrilha urbana, torturadores anônimos e filhos da classe média,
o livro é o retrato de uma geração perdida”.
Alguns
dos personagens retratados conheci pessoalmente, seja profissionalmente, como
colegas de redação ou por tê-los entrevistados, ou por relações de amizades.
Por exemplo: Antônio Carlos Neves, Gildo Loyola, Perly Cipriano, Hélio Dórea,
Rogério Medeiros, Eduardo Parú, Milson Henriques, Atílio Gomes, Crisógono
Teixeira da Cruz, Fernando Achiamé, Miriam Leitão, Marcelo Neto, Pedro Maia,
Romero Mendonça, Renato Paolielo e Ronald Rangel.
O
capítulo 7, entretanto, foi uma surpresa total. O autor relata o caso de uma
costureira, Sara, que tinha três filhos – Renato, Jussara e Renah. Sara,
determinada ocasião, recebeu o aviso de um general parente do marido para que
mandasse o então estudante de Psicologia para fora do país, porque ele estava
sendo procurado pelos órgãos de repressão política. Conseguiu embarcar o filho
num navio que ia para a Europa, de onde só voltou 25 anos depois.
Bom,
somente a título de correção histórica, cumpre anotar que Sara Segovia Poncio
trata-se de minha falecida sogra, pois sou casado com a filha dela, Jussara.
Por óbvio, Renato e Renah são meus cunhados. O acontecimento ocorreu, mas, na
época, o pai deles, o médico Perly Lacerda Poncio, já havia falecido, e a
família tinha saído da casa da rua Eugênio Neto, na Praia do Canto, para um
apartamento próximo. E Renato embarcou num navio carregado de minério de ferro
que zarpou do Porto de Tubarão. Todos nós moramos atualmente em Guarapari.
Isso,
porém, não afasta a importância do registro daqueles tempos sombrios, em que
muitos morreram na luta por ideais que foram sufocados por mentes doentias e interesses
escusos. A Praia Comprida não existe mais, o Cine Juparanã fechou as portas e
Vitória não é mais uma província, se é que chegou a ser algum dia. Mas a vida
continua e precisamos aprender com a nossa própria história para construirmos
um futuro melhor. De que maneira, não sei, mas, com certeza, não é com
violência de extremos.
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