Meu velho amigo Montezuma
Cruz, jornalista daquelas antigas cepas, no sentido espiritual de uma linhagem
nobre, me mandou, via WhatsApp, um texto intitulado Celular na mão não é
jornalismo, publicado na Folha de São Paulo e assinado por Lygia Maria, que
é mestre em Jornalismo e doutora em Comunicação e Semiótica.
A articulista discorre em
relação aos novos tempos da profissão, em que tecnologias modernas estão
servindo de pretexto para desprezar a checagem dos fatos, “pilar da imprensa
profissional”, explica. Para ela, “o recente fenômeno de apresentadores de
telejornais que repassam em tempo real informações recebidas pelo celular, por
exemplo, é um acinte ao método de checagem. Tal prática prejudica não apenas o
público e o alvo das inverdades, como o próprio jornalismo, que recebe a pecha
de fake news”.
No entender da colunista, “profissionais
e veículos não podem ser ingênuos e embarcar cegamente na onde sedutora de
novas tecnologias. A boa e velha checagem ainda é o pilar fundamental dessa
atividade essencial à democracia”.
Jornalista que também sou,
formado no tempo das entrevistas olho no olho e quando todas as partes
envolvidas eram ouvidas antes de qualquer divulgação, concordo plenamente com
os termos acima expostos.
E além disso tudo, muito me
surpreende como o conceito de “notícia” está deturpado. Os assuntos mais banais
ocupam espaços enormes e são alvos de análises e interpretações por “especialistas”,
a começar pelos tais reality shows, um negócio (e bota negócio nisso)
tão sem pé e cabeça que é quase inacreditável que tenha tanta audiência.
Faz tempo, confesso, que não
compro jornal impresso, até porque estão cada vez mais raros. E nem tenho assistido
telejornais, pois desacredito que esses veículos estejam a serviço da
informação verdadeira, considerando tantos interesses econômicos e políticos
envolvidos nos bastidores das grandes corporações e nos gabinetes oficiais.
Por comodidade, acesso site
de notícias, mas nem esses me satisfazem mais. As telas são preenchidas por
aniversários de celebridades ou de seus filhos menores. Ganha repercussão o
procedimento estético feito por determinada atriz ou ator. Influenciadores (até
hoje me pergunto exatamente o que é isso) expõem os carros novos que compraram –
e até ocupam espaço quando cometem barbeiragem no trânsito.
Dicas de maquiagem merecem
ampla divulgação, inclusive os cuidados para se deixar lábios volumosos. Enfim,
são tantos os exemplos de futilidades que fica até chato falar disso aqui. É a
vida moderna e seus inúmeros atrativos de consumo rápido, tal qual um sanduíche
de fast food. Parece improvável que isso mude tão cedo, principalmente
em Pindorama, onde o circo e o pão estão presentes no dia a dia dos milhões que
lutam pela sobrevivência com um mínimo de dignidade.
Quem tem por prioridade comer
aceita “engolir”, sem questionar, qualquer besteirol. Faço minhas, porém, as
seguintes palavras do inesquecível escritor Ariano Suassuna: “Sonho com o dia
em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo”.
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