terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Coisas do mundo

 


Meu velho amigo Montezuma Cruz, jornalista daquelas antigas cepas, no sentido espiritual de uma linhagem nobre, me mandou, via WhatsApp, um texto intitulado Celular na mão não é jornalismo, publicado na Folha de São Paulo e assinado por Lygia Maria, que é mestre em Jornalismo e doutora em Comunicação e Semiótica.

 

A articulista discorre em relação aos novos tempos da profissão, em que tecnologias modernas estão servindo de pretexto para desprezar a checagem dos fatos, “pilar da imprensa profissional”, explica. Para ela, “o recente fenômeno de apresentadores de telejornais que repassam em tempo real informações recebidas pelo celular, por exemplo, é um acinte ao método de checagem. Tal prática prejudica não apenas o público e o alvo das inverdades, como o próprio jornalismo, que recebe a pecha de fake news”.

 

No entender da colunista, “profissionais e veículos não podem ser ingênuos e embarcar cegamente na onde sedutora de novas tecnologias. A boa e velha checagem ainda é o pilar fundamental dessa atividade essencial à democracia”.

 

Jornalista que também sou, formado no tempo das entrevistas olho no olho e quando todas as partes envolvidas eram ouvidas antes de qualquer divulgação, concordo plenamente com os termos acima expostos.

 

E além disso tudo, muito me surpreende como o conceito de “notícia” está deturpado. Os assuntos mais banais ocupam espaços enormes e são alvos de análises e interpretações por “especialistas”, a começar pelos tais reality shows, um negócio (e bota negócio nisso) tão sem pé e cabeça que é quase inacreditável que tenha tanta audiência.

 

Faz tempo, confesso, que não compro jornal impresso, até porque estão cada vez mais raros. E nem tenho assistido telejornais, pois desacredito que esses veículos estejam a serviço da informação verdadeira, considerando tantos interesses econômicos e políticos envolvidos nos bastidores das grandes corporações e nos gabinetes oficiais.

 

Por comodidade, acesso site de notícias, mas nem esses me satisfazem mais. As telas são preenchidas por aniversários de celebridades ou de seus filhos menores. Ganha repercussão o procedimento estético feito por determinada atriz ou ator. Influenciadores (até hoje me pergunto exatamente o que é isso) expõem os carros novos que compraram – e até ocupam espaço quando cometem barbeiragem no trânsito.

 

Dicas de maquiagem merecem ampla divulgação, inclusive os cuidados para se deixar lábios volumosos. Enfim, são tantos os exemplos de futilidades que fica até chato falar disso aqui. É a vida moderna e seus inúmeros atrativos de consumo rápido, tal qual um sanduíche de fast food. Parece improvável que isso mude tão cedo, principalmente em Pindorama, onde o circo e o pão estão presentes no dia a dia dos milhões que lutam pela sobrevivência com um mínimo de dignidade.

 

Quem tem por prioridade comer aceita “engolir”, sem questionar, qualquer besteirol. Faço minhas, porém, as seguintes palavras do inesquecível escritor Ariano Suassuna: “Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo”.

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