domingo, 20 de dezembro de 2020

Tristeza

 

Tristeza

 

          Manhã modorrenta de domingo.

 

Desde cedo o brilho solar avançou através da janela para dentro do quarto, trazendo, além de luz intensa, aquele calor que não deixa o cidadão dormir mais. As cortinas estavam abertas, e o ar-condicionado desligado. Ninguém merece.

 

Ainda com sono, pois tinha me deitado tarde (ou cedo, dependendo do ponto de vista - eram mais de 3 horas da madruga), fui forçado a me levantar e procurar o que fazer.

 

A mulher já estava de pé, preparando o café, e me lançou um desafio: ir à padaria comprar pão Josefina. Interessado em manter em alta o bom relacionamento conjugal, concordei quase que imediatamente e venci a distância de longo meio quilômetro (ida e volta) a pé sonhando com minha cama.

 

Alimentado. Enquanto criava coragem para ir à praia, resolvi atualizar as mensagens do WhatsApp. Uma surpresa desagradável me esperava: um amigo médico me informava do falecimento de um outro amigo comum, que esteve internado por mais de 15 dias com a famigerada COVID-19. Chegou a ser traqueostomizado, apresentou melhoras. Contudo, uma parada cardíaca fulminante levou-o desse plano terrestre.

 

Além do sentimento de perda em relação a uma pessoa com quem tinha uma história de vida de muitos anos, com os percalços naturais de todo relacionamento humano, mas, com certeza, com muita coisa boa, fica aquela sensação de que a morte só precisa de uma desculpa para cumprir o que lhe cabe no universo.

 

Meu pai também desencarnou dessa maneira, subitamente, vítima de infarto agudo do miocárdio. Outra pessoa querida, me lembro agora, faleceu daquele mal. É tão tênue a diferença entre morte e vida que se torna angustiante ficar preocupado com isso. É como diz Gilberto Gil, em Tempo Rei: “Não se iludam, não me iludo. Tudo agora mesmo pode estar por um segundo”.

 

Olho da varanda e já são quase 10 horas. Na areia à beira-mar, homens, mulheres e crianças expõem seus corpos ou brincam na água. Um carro de som patrocinado pela Prefeitura passa pedindo cuidado com o coronavírus (usar máscara, não aglomerar, assim e tal). A indiferença é quase total. O povo já não acredita nisso, e quer aproveitar o final/início de ano para festejar.

 

Espero que os mais próximos de mim estejam se cuidando. Alguém precisa fazer a sua parte, já que as “otoridades” (des)governamentais não estão nem aí. Meus Deus, o que nos reserva o futuro?

 

Vá em paz, Amigo Velho, que por aqui a gente continua pelejando no bom combate, até quando for permitido e chegar a nossa vez de deixar esse invólucro material.

 

Um dia voltaremos a nos reencontrar.

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